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P. Manuel Barbosa, scj
Viver na paz
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Estamos no quarto domingo e começa a última semana do Advento, breve pois o Natal já aí está. Nestes tempos, o adventício e o natalício, a paz aparece como principal marca: paz que compreende justiça, alegria e felicidade; paz que somos chamados a praticar no coração das nossas vidas, famílias, comunidades e sociedade; paz que recebemos de Deus para a assumir na nossa existência cristã; paz que deveria ser para sempre, para todos e em tudo. Infelizmente nem sempre é assim. A ausência de paz continua nesta terra que habitamos, em tantas vidas, famílias e comunidades.

Por esta época costumamos enviar saudações de “santo Natal e feliz Ano Novo”, desejando paz e prosperidade. Tais mensagens, longe de serem rotineiras, deveriam seguir impregnadas daquilo que nos vai no coração; só podemos desejar sinceramente aos outros aquilo que queremos autenticamente para nós mesmos.

Na Carta Apostólica que nos ofertou sobre o Sinal Admirável do Presépio, o Papa pede-nos para centrar o nosso olhar contemplativo em Jesus que é para nós amor, ternura e paz. Não abafemos tal beleza e encanto com certas “prendas” que acabam por contradizer tudo isso. Diante do presépio onde o centro é Deus que nasce, nos transforma e compromete como pessoas de paz, como podemos oferecer às crianças prendas e brinquedos de guerra, pistolas, carros de combate…, afinal sinais de guerra? Até achamos normal, mas assim não deveria ser.

Na sintonia com o espírito do Natal que nos compromete, na mensagem para o próximo Dia Mundial da Paz o Papa Francisco oferece-nos uma excelente meditação sobre a paz como caminho de esperança, onde o diálogo, a reconciliação e a conversão ecológica têm um papel fundamental. Um texto a ser lido no seu todo. Sei que a altura da passagem de ano não propicia que se pouse na essência do que vivemos no início de mais um ano civil de paz. Mas pelo menos nós, discípulos de Cristo, não passemos estes tempos sem meditar esta mensagem, de que refiro aqui apenas alguns dos seus traços.

A paz é caminho de esperança, face aos obstáculos e provações, “é um bem precioso, objeto da nossa esperança… A esperança é a virtude que nos coloca a caminho, dá asas para continuar… Devemos procurar uma fraternidade real, baseada na origem comum de Deus e vivida no diálogo e na confiança mútua. O desejo de paz está profundamente inscrito no coração do homem”.

A paz é caminho de escuta baseado na memória, solidariedade e fraternidade. “A memória é o horizonte da esperança… O mundo não precisa de palavras vazias, mas de testemunhas convictas, artesãos da paz abertos ao diálogo sem exclusões nem manipulações”.

A paz é caminho de reconciliação na comunhão fraterna. “Aprender a viver no perdão aumenta a nossa capacidade de nos tornarmos mulheres e homens de paz… A paz permeia todas as dimensões da vida comunitária”.

A paz é caminho de conversão ecológica, neste mundo que não tem paz devido aos criminosos atentados ecológicos. “A conversão ecológica leva-nos a uma nova perspetiva sobre a vida, considerando a generosidade do Criador que nos deu a Terra e nos chama à jubilosa sobriedade da partilha. Esta conversão deve ser entendida de maneira integral, como uma transformação das relações que mantemos com as nossas irmãs e irmãos, com os outros seres vivos, com a criação na sua riquíssima variedade, com o Criador que é origem de toda a vida”.

A paz obtém-se na esperança. “O caminho da reconciliação requer paciência e confiança. Não se obtém a paz, se não a esperamos”.

A mensagem termina com este incisivo apelo: “que toda a pessoa que vem a este mundo possa conhecer uma existência de paz e desenvolver plenamente a promessa de amor e vida que traz em si”.

Mais palavras para quê? Procuremos viver na paz como caminho de esperança, acolhendo o Deus da Paz, praticando a paz na nossa humanidade e fomentando a fraternidade e a reconciliação, sempre sob o olhar aconchegante da Mãe de Deus, Rainha da Paz!