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Natal na Sé de Lisboa
“Há muita gente à espera dessa luz, do Natal que lhe devemos”
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Nas celebrações do Natal do Senhor, na Sé de Lisboa, o Cardeal-Patriarca lembrou aqueles que são perseguidos em todo o mundo, pediu “uma alma luminosa” em contraponto com as iluminações exteriores e motivou para a “efetivação” do verdadeiro Natal, seguindo o exemplo da vida de Jesus que, “divinamente impulsionada”, prolongará, em cada cristão, “a encarnação do Verbo”.

 

“A presença de Cristo, ressuscitado agora, é um ‘Natal’ permanente a que devemos acorrer, sem adiar a conversão”, apontou o Cardeal-Patriarca de Lisboa, na Missa da Noite de Natal, na Sé. Na noite de dia 24 de dezembro, D. Manuel Clemente desafiou os fiéis a se somarem, “sem demora”, ao “Natal neste mundo, em muitas vidas que dissipam trevas com a luz de Cristo”. “Somemo-nos nós, incidindo luminosamente nas famílias, nas comunidades, nos vários setores da vida social em que o Evangelho connosco se fará vida. Porque as trevas persistem, impedindo-nos de ver os outros e a Deus nos outros, por vezes bem próximos e a reclamar atenção e auxílio – como o Menino do Presépio requeria para si”, sublinhou o Cardeal-Patriarca, reforçando a necessidade de os cristãos serem luz no meio do mundo. “Trevas não faltam, quando também nos ensombram notícias de perseguição aos cristãos e a minorias, quase genocídio por vezes, perante tanta indiferença e contradição com direitos consignados e boas intenções propaladas. Trevas não faltam, quando a própria natureza se contamina e ofusca – ela que, em si mesma, proclama a glória de Deus e o seu poder criador. Trevas não faltam… Reconheçamo-las então. Deixemos que a luz divina nos ilumine em cheio e nos transfigure a nós. Há muita gente à espera dessa luz, do Natal que lhe devemos”, afiançou.

 

“Princípio da conversão”

Na homilia da tradicional Missa do Galo, na Sé, D. Manuel Clemente começou por pedir “disponibilidade” à novidade que o Natal traz, para não correr o risco de passar sem ser “apercebido”. “Surpresa significa diferença. Deixar-se surpreender é o princípio da conversão. Como luz que subitamente desponta, para contrastar o dia antecipado com a noite onde estávamos. Importa muito aceitar tal contraste, irredutível”, sublinhou o Cardeal-Patriarca de Lisboa, convidando os cristãos a preferirem a “luz divina” face às iluminações artificiais. “Não vale muito termos as ruas artificialmente iluminadas, se não tivermos a alma luminosa. Nem valem montras atrativas de mil coisas, se não tivermos ganho a única qualidade que importa. Não valem os presentes só por si, sem nos tornarmos nós presentes aos outros: atentos, prestáveis e realmente próximos”, referiu.

A partir da leitura do profeta Isaías – escutada na celebração: «O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam nas sombras da morte uma luz começou a brilhar», o Cardeal-Patriarca sublinhou que estas palavras se referem a que cada cristão se deixe “irromper das trevas” que tiver. “Das trevas em que muito infelizmente podemos permanecer. Ou distrair, tomando por luz um qualquer fogo-fátuo. Não faltam, infelizmente, esses clarões rápidos e vazios. Quando a Liturgia não descura o ato penitencial, íntimo, sincero e verdadeiro, coloca-nos no ponto certo, em penitência ativa. Reconhecemo-nos trevas e buscamos luz. Nesse mesmo ponto acertamos com Deus, que aí mesmo nos espera e ilumina”, apontou.

 

Dar “consequência”

Na manhã do dia seguinte, na Missa do Dia do Natal do Senhor, D. Manuel Clemente começou por lamentar o “aparente retorno de factos e circunstâncias” que “não nos apazigua a mente e o coração”. “Porque a humanidade como um todo, e o melhor dela em cada um dos seus membros, algo avançou de facto, embora nem sempre como devia. Sobrou ao menos a experiência, ainda que as chamadas ‘lições da História’ nunca tenham alunos bastantes. Foi assim até há dois mil anos e continua a sê-lo em quem ainda não chegou ao Natal de Cristo”, referiu o Cardeal-Patriarca de Lisboa, na Missa que foi concelebrada pelo Núncio Apostólico em Portugal, D. Ivo Scapolo, pelo Bispo Auxiliar de Lisboa D. Américo Aguiar e por outros sacerdotes.

No dia 25 de dezembro, D. Manuel Clemente desafiou ainda os cristãos a darem “consequência” ao mistério da encarnação de Deus em Jesus Cristo. “Para o contemplarmos, aqui estamos hoje, como o guardaremos na memória agradecida e orante. Na oração quotidiana do Rosário, os mistérios gozosos reenviam-nos ao Presépio de Belém, como a tudo o mais da infância de Jesus. É uma contemplação inesgotável, que fazemos com os olhos e o coração da Mãe de Cristo e certamente acompanhados por José. Depois, sim, podemos partir, como os pastores e os magos, a testemunhar o que vimos. Para regressar sempre e partir melhor”, apontou.

 

Coerência

Nesta celebração do Dia de Natal, o Cardeal-Patriarca manifestou também preocupação com o facto de não ser respeitado e “juridicamente garantido” todo o “sentimento religioso” que manifesta “a condição humana, tanto no que a sua fragilidade requer como no que a sua transcendência vislumbra”. “Lamentamos que nem sempre seja assim e tanta gente sofra hoje em dia, cristãos e não cristãos, por falta de liberdade religiosa. Tristíssimas notícias nos dão conta disso em muitas partes do mundo, ostensivamente por vezes, disfarçadamente outras tantas”, alertou.

Contudo, a partir de Cristo, “duma Pessoa”, um “facto concreto e situado, que ganhou dimensão universal a partir do que viveu, do que disse e do que fez – do presépio à cruz e da cruz à glória, porque a luz de Belém resplendeu na Páscoa”, vemos o seu presépio alastrado “a todos presépios do mundo, ou seja, aonde a vida nasce e requer o nosso envolvimento e cuidado – e da conceção à morte natural, convém repetir”, afiançou. “Habitou e trabalhou em Nazaré da Galileia, mas fê-lo tão totalmente que conferiu à atividade humana uma dignidade imensa e irrecusável. Trilhou os caminhos do Israel da altura, assumindo e reforçando todo o bem que se realize, quando e onde for. Sofreu por todos nós aquela morte, para aí mesmo nos acompanhar na nossa, preenchendo-a com a ressurreição que nos ganhou. Celebrar coerentemente o Natal interroga-nos sobre o real cumprimento destes itens e empenha-nos a todos na sua efetivação”, advertiu o Cardeal-Patriarca de Lisboa, apelando, na “sociocultura de hoje em dia, “tão espessa como contraditória em si mesma, tão descrente de formas e de fórmulas”, ao “caminho estreito da coerência evangélica”. “Coerência que, por ser divinamente impulsionada, prolongará em nós a encarnação do Verbo. Como também ouvimos e convictamente agradecemos: «Àqueles que O receberam e acreditaram no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus»”, concluiu D. Manuel Clemente.

 

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“O mais importante é que cada um de nós também se torne presente”

Na habitual Mensagem de Natal, emitida na noite de Natal, na RTP1 e na Renascença, o Cardeal-Patriarca de Lisboa pediu maior presença. “Quando se fala em presentes, o mais importante é que cada um de nós também se torne presente onde precisamos de estar. Porque, por vezes, oferecem-se presentes de fora para, de alguma maneira, colmatar – mas sem o conseguir – a falta de presença real junto dos outros e daquelas realidades que nos esperam”, referiu D. Manuel Clemente, na mensagem transmitida na véspera de Natal, a 24 de dezembro, e que foi gravada na Igreja da Graça, em Lisboa.

No início da mensagem, o Cardeal-Patriarca começou por alertar para a luzes provenientes de “tanta realidade exterior” e que correm o risco de “despistar” do essencial do Natal. “Porque é que existe Natal?”, questionou. “Natal significa ‘nascimento’. E não é um nascimento qualquer, é o nascimento de Cristo, há dois milénios, em Belém de Judá, e é esse o acontecimento que nós, realmente, estamos a celebrar, para sermos autênticos e para termos todo o fruto e proveito para as nossas vidas, das nossas famílias e da nossa sociedade inteira”, sublinhou.

O Cardeal-Patriarca destacou o “presente” oferecido pelo Papa Francisco para o tempo de Natal, com a Carta Apostólica Admirabile Signum, sobre o significado e valor do Presépio. Segundo D. Manuel Clemente, o Papa convida a “retomar esta tradição” iniciada por São Francisco de Assis em 1223 para representar “o essencial daquilo que tinha acontecido em Belém: a gruta, os animais, aquela pobreza em que Jesus apareceu”, destacou D. Manuel Clemente, referindo que “o Papa relembra que, à volta do Presépio, toda a vida pode e deve encontrar-se nas suas mais diversas manifestações” e que estão representadas nas diferentes figuras. “Esta é que é a realidade do Natal, porque Natal quer dizer ‘nascimento’, nascimento de Deus no mundo como na tradição cristã se apresenta e que, hoje, é tão importante apresentar assim. Ou seja, na fragilidade das coisas, na ocorrência normal das vidas, mas tudo concentrado em torno do essencial”, precisou o Cardeal-Patriarca de Lisboa.


texto por Filipe Teixeira, fotos por Arlindo Homem / Patriarcado de Lisboa
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