As paróquias têm de “levar muito a sério” a Pastoral Familiar, considerou o Cardeal-Patriarca de Lisboa, num encontro com esta pastoral, no âmbito Visita Pastoral à Vigararia de Oeiras. Na igreja de Paço de Arcos, D. Manuel Clemente sublinhou que “quando a Igreja for, realmente, uma família de famílias, é um enorme serviço que presta à sociedade”.
O Cardeal-Patriarca de Lisboa convidou os agentes de Pastoral Familiar da Vigararia de Oeiras a “fazerem da Igreja uma família de famílias” e a “não desistirem do projeto matrimonial cristão”. “Deus não desiste deste mundo, e a resposta de Deus a este mundo são as famílias dos que se casam no Senhor. Coragem, porque o mundo precisa da família cristã”, manifestou D. Manuel Clemente, num encontro no âmbito da Visita Pastoral. Na igreja de Paço de Arcos, na noite do passado dia 31 de janeiro, o Cardeal-Patriarca sublinhou que “o projeto matrimonial cristão é hoje tão importante para que a nossa sociedade não se desfaça”. “Quando a Igreja for, realmente, uma família de famílias, é um enorme serviço que prestamos à sociedade. Porque aquilo que começou em Jesus Cristo, quer na perspetiva familiar, quer nas outras perspetivas evangélicas, mudaram a sociedade. Quando isto é a sério, funciona. E, como costumo dizer, tem dois mil anos de garantia”, frisou.
A realidade familiar na vida de Jesus
D. Manuel Clemente tinha começado a sua intervenção recordando que a família é “a primeira vinculação social que nós temos”. “É algo que temos que cuidar e levar muito a sério. Nós não existimos sem família, não vimos a este mundo, nem sequer sobrevivemos bem, sem termos estes laços, estas vinculações, de origem. Nós não somos apenas indivíduos, somos sujeitos em relação”, referiu, sublinhando ainda que “pessoa significa um ser em relação”. “Mas isto aprende-se e depende muito do ambiente em que crescemos. É exatamente por isso que a realidade familiar é indispensável”, observou.
Aos agentes de Pastoral Familiar da Vigararia de Oeiras, o Cardeal-Patriarca reforçou que “a Igreja de Jesus Cristo, a partir da própria experiência que emana de Jesus Cristo, é exatamente isso, uma família”. “Ou seja, um lugar onde nós crescemos uns com os outros e uns para os outros”, apontou. Neste sentido, lembrou a sua participação nos dois Sínodos dos Bispos sobre a Família, que decorreram em Roma, em 2014 e 2015, e que deram origem à exortação apostólica ‘Amoris laetitia’, do Papa Francisco, sobre o amor na família. “Foi interessante, porque no início não estava muito claro e depois foi-se afirmando, e veio no documento final com grande desenvolvimento, o facto de na própria vida de Jesus Cristo a realidade familiar ser tão importante. Se olharmos para a vida de Jesus Cristo – em que nós, cristãos, vemos a própria vida de Deus neste mundo, de uma maneira exemplar e paradigmática, para todos crescermos como filhos de Deus e irmãos uns dos outros –, Jesus Cristo não aparece assim crescido e feito. Jesus aparece numa família: tem a sua Mãe, que O concebe de Deus, tem José, que o adota e o acompanha ao longo da sua vida, e Jesus, até aos 30 anos, vive nesse ambiente familiar. É aí que Ele faz o seu percurso humano”, destacou, apontando que “a Igreja é a família de Deus”. “É muito interessante, e muito importante, perceber que Jesus vai transpor para esta outra família mais larga, que se constitui em torno do seu Pai, de Deus Pai, aquilo que aprendeu no seio familiar. Ele, por exemplo, vai-se chamar a si próprio Esposo, vai chamar os outros seus irmãos, vai dizer que a Igreja é uma edificação. Ou seja, Jesus vai extravasar para a Igreja, para a família dos filhos de Deus, aquilo que aprendeu na família de Nazaré”, reforçou.
“Sem a família, a sociedade não funciona”
Lembrando que, antigamente, o “divórcio era prática corrente”, o Cardeal-Patriarca manifestou que “o que Jesus propõe contrariava os usos e costumes da época”. “Creio que, dois mil anos depois, estamos na mesma situação. Mantermo-nos com Jesus, na vontade de Deus, e fazermos agregados familiares sólidos, onde se ultrapassam todas as contradições que são próprias da existência, é hoje um desafio tão grande como foi há dois mil anos, no tempo em que Jesus o proclamou, contrariando aquilo que era vulgar na época, quer entre judeus, quer entre romanos. Quando Jesus diz essa verdade sobre o matrimónio, ‘Não separe o homem o que Deus uniu’, dizia-o em contraste com as sociedades judaica e romana, cuja vinculação matrimonial era frágil”, observou.
Neste encontro com os agentes da Pastoral Familiar, que contou também com a presença de D. Daniel Henriques, Bispo Auxiliar de Lisboa, e dos párocos das 13 paróquias da Vigararia de Oeiras, o Cardeal-Patriarca frisou ainda que a esperança média de vida subiu de 40-50 anos, há algumas gerações atrás, para os atuais 80 anos. “A longevidade, hoje, é o que nunca foi, ao longo da história da humanidade. Isto enriquece a família, a Igreja, a sociedade, na medida em que as bases são sólidas e o acompanhamento é persistente. Sem família, sem esta familiaridade natural – que depois se eleva, com Jesus Cristo, a esta sobrenaturalidade da família de Deus –, sem estas relações, a sociedade não funciona”, alertou D. Manuel Clemente, destacando “os desafios muitos grandes, não só pela longevidade e pela coexistência de gerações”, mas também “pela integração dos mais novos, dos de meia-idade e dos mais velhos”. “São enormes os problemas que temos que refletir, mas só conseguiremos resolvê-los se crescermos e fortalecermos o método familiar que nos forma como pessoas”, garantiu.
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Vigararia de Oeiras quer continuar a propor “o modelo de família que a Igreja oferece”
O sacerdote responsável pela Pastoral Familiar da Vigararia de Oeiras assegurou que as 13 paróquias da vigararia querem continuar a propor o projeto matrimonial cristão. “A família encontra-se em crise. Perante esta certeza, não podemos deter-nos em condenações e fazer de conta que nada nos diz respeito. Assumindo o modelo de família que a Igreja nos oferece, não podemos deixar de o propor e trabalhar para que, a partir de experiências familiares sólidas e alicerçadas na fé, este modelo seja acolhido por muitas outras”, garantiu o padre António Tavares, no início do encontro vicarial com o Cardeal-Patriarca, D. Manuel Clemente, no âmbito da Visita Pastoral.
Este sacerdote, que é também pároco de Laveiras-Caxias, lembrou que a Pastoral Familiar “é uma realidade que interpela a todos”, onde “os casais que se assumem como protagonistas e responsáveis”. “Não acredito que as estruturas, isoladamente, sejam a resposta. Ajudam, é certo, e importa conhecê-las para que possam servir melhor”, frisou. Neste sentido, para o padre António Tavares, “tudo quanto afeta a família inquieta-nos”. “Ao personalizarmos as respostas, através da escuta e do acolhimento de cada situação, a tranquilidade e a alegria de viver em comum pode regressar. Não temos soluções codificadas em conselhos ou imposições doutrinais. Basta-nos que as famílias saibam que caminhamos com uma solicitude que a todos oferecemos, particularmente quando os ‘casos’ surgem. Com isto, pretende-se que as famílias se assumam como protagonistas da Pastoral Familiar e que todas as famílias saibam que urge pensar a vida familiar e reunir-se para a tornar feliz”, desejou.
O sacerdote responsável pela Pastoral Familiar da Vigararia de Oeiras assumiu ainda que este encontro vicarial com o Cardeal-Patriarca, no âmbito da Visita Pastoral, traz “um novo alento” a esta pastoral. “A nossa Pastoral Familiar vicarial pretende ser um serviço de atenção integral aos problemas familiares em todas as suas dimensões, à luz da antropologia cristã e da verdade sobre o matrimónio e a família”, terminou o padre António Tavares.
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Nove realidades de Pastoral Familiar na Vigararia de Oeiras
No encontro com o Cardeal-Patriarca de Lisboa, foram apresentadas nove ações de Pastoral Familiar que decorrem nas 13 paróquias da Vigararia de Oeiras.
CPM - Centros de Preparação para o Matrimónio | Existem CPM’s organizados em todas as paróquias da vigararia, normalmente feitos por casais, embora alguns padres também assumam. Tem a missão de apresentar o casamento cristão e o sacramento, mas sobretudo apresenta Deus e a sua Igreja, de forma a que os noivos possam descobrir a sua importância.
CPB - Centros de Preparação para o Batismo | Em 2019, houve 589 batismos na vigararia, incluindo a quatro adultos. A logística da preparação dos batismos é diferente de paróquia para paróquia, mas apoiam-se no livro ‘Vamos batizar o nosso filho’, da Pastoral Familiar do Patriarcado de Lisboa. Realizam reuniões com os pais e padrinhos, visando que assumam um compromisso, com Deus e com a Igreja, de educar a criança na fé cristã, e querem desafiar os pais à experiência de uma vida nova.
Fraternidade Missionária Verbum Dei | Presente em Oeiras e Paço de Arcos, acompanham famílias nas diferentes etapas da vida, em três campos: quando uma família começa (noivos), conhecendo a sua história, as expectativas e resistências, e propondo um grupo; casais com tempo de caminho e filhos, oferecendo tempo de formação, oração pessoal e partilha; e finalmente, os filhos, através do ‘Guitar Camp’, uma escola de guitarra que pretende transmitir a fé através da música.
Movimento Apostólico de Schoenstatt | Promove, nas paróquias de Linda-a-Velha, Caxias, Paço de Arcos, São Julião da Barra e Nova Oeiras, mas também, através de missionários, em Algés-Miraflores, Porto Salvo e Oeiras, a campanha ‘Mãe Peregrina nas Famílias’, que visa levar Nossa Senhora às famílias e às periferias, e dar-lhe um lugar digno. São cerca de 600 as famílias da vigararia que recebem Nossa Senhora, mensalmente, durante 48 horas.
Caminho Neocatecumenal | Organizam-se com base em comunidades. Essencialmente, são famílias que celebram em conjunto e têm uma vida em conjunto. A nível familiar, os casais são chamados a rezar as Laudes ao Domingo de manhã, com os filhos, e diariamente em casal. O ritmo do Caminho Neocatecumenal assenta em três pilares: Eucaristia, Palavra e convívio.
Equipas de Nossa Senhora | Na Vigararia de Oeiras, este movimento espiritual conjugal está dividido em três sectores, tendo, no total, 40 equipas, representando 213 casais e 2 viúvos, acompanhadas por 31 conselheiros espirituais. O objetivo é ajudar os casais a viver plenamente o seu sacramento do Matrimónio, anunciando ao mundo os valores do casamento cristão.
Alpha - Curso para Casais | Desenvolvido por Nicky e Sila Lee, evangélicos, pretende que os casais aprofundem o relacionamento num curso para casais, de base cristã, em sete sessões, sobre: as bases e alicerces; a comunicação; como resolver conflitos; o perdão; a nossa educação; a sexualidade; e as linguagens do amor. Desde 2016, foram 61 os casais da vigararia que fizeram, ou estão a fazer, o curso.
Famílias comVida | É uma resposta da diocese – numa parceria da Pastoral Familiar, da Cáritas Diocesana e da Universidade Católica – aos múltiplos desafios das famílias. É um serviço que visa apoiar as famílias, nas várias fases do ciclo da vida de um casal. Desenvolve-se através de uma rede integrada de apoio, com quatro valências: acolhimento; orientação; acompanhamento; e encaminhamento.
GEscuta | O gabinete de escuta é uma associação privada, aprovada pelo Patriarcado de Lisboa, que apoia qualquer pessoa em crise ou sofrimento, por doença ou solidão, luto, falta de rendimento escolar ou profissional, desesperança, mau relacionamento com os outros ou consigo mesmo. Chegou recentemente à Paróquia de São Julião da Barra, pelos pedidos de ajuda da linha de Cascais, e tem dez voluntários.
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“Todas estas organizações de Pastoral Familiar que aqui foram apresentadas, estes movimentos e estes grupos que enriquecem as nossas comunidades cristãs, tudo isto é indispensável, porque, no fundo, o que está a fazer, é ‘pegar’ no programa familiar cristão, como o próprio Jesus Cristo o viveu e nos ensina a viver, para que a sociedade se mantenha como tal. Os desafios, para as nossas comunidades cristãs, são imensos. Tudo isto é um enorme encargo pastoral e tem de ser o dia-a-dia das nossas comunidades cristãs”, manifestou o Cardeal-Patriarca, em Paço de Arcos.
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