Lisboa |
Semana da Caridade da Vigararia Lisboa III
“Todos podem ser santos”
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Quem passa pelo cimo do Parque Eduardo VIII, em Lisboa, raramente se apercebe da realidade que os muros altos ‘escondem’ no seu interior. Através de uma rara visita ao Estabelecimento Prisional de Lisboa, durante a Semana da Caridade da Vigararia Lisboa III, o Jornal VOZ DA VERDADE testemunha como é levar Cristo a esta periferia.

 

O padre Ismael Teixeira começou a missão como capelão do Estabelecimento Prisional de Lisboa (EPL) no dia de Reis, [6 de janeiro] deste ano. Conhecido como o ‘Iron Priest’ (‘Padre de ferro’), pela sua prática desportiva no triatlo de longas distâncias, o sacerdote descreve esta missão como a autêntica “experiência de ferro” – neste caso, “dentro de grades”, di-lo com humor. “Está a ser uma experiência muito boa para mim, enquanto sacerdote. Passar duas manhãs por semana na prisão, é uma experiência enriquecedora que faço com muita alegria”, partilha o sacerdote, que também acumula a capelania do Estabelecimento Prisional de Monsanto. Nos dois locais, o padre Ismael diz tratar os presos por “amigos” e não ter medo. “Tento até nem saber os crimes que aqueles homens fizeram”, aponta este sacerdote, que conta com o apoio, nesta missão, do diácono José Alberto Costa, recentemente ordenado e que recebeu, com 69 anos, a nomeação do Cardeal-Patriarca para colaborar na Capelania do Estabelecimento Prisional de Lisboa.

 

Santos

Na celebração eucarística do passado dia 6 de março, que assinalou a Semana da Caridade da Vigararia Lisboa III, no EPL, o padre Ismael não deixou de reforçar, durante a homilia, que, até na prisão, “todos podem ser santos”. “Em cada um de nós, há luz, há a luz de Deus. Por isso, escutem Deus, para que Ele vos faça sentir como filhos muito amados”, pediu o sacerdote aos reclusos que participaram na Eucaristia, no refeitório de uma das alas do EPL. A partir do Evangelho da Transfiguração de Jesus, o sacerdote pediu também aos reclusos para aceitarem o “desafio” para, também eles, se deixarem transfigurar e tornarem-se “figuras de Cristo”. “Mudar a minha vida, tornar-me um cristão melhor, isso é transfigurar”, prosseguiu.

 

Envolvimento

Sobre a escolha desta periferia das prisões para a vivência do ano da caridade na Vigararia Lisboa III, o padre Ismael Teixeira refere que “foi fácil”. Motivado pela missão que desempenha, para além de ser pároco de São Mamede e coadjutor de Santa Isabel, o objetivo foi “envolver os colegas padres” da vigararia, e acabou por envolver também as paróquias onde trabalha. “Comecei por fazer uma recolha de roupa e fui vendo as necessidades que aqueles homens têm. Fiz também uma campanha pelas redes sociais, sobretudo para os meus amigos do desporto, uma vez que os reclusos precisam de roupa muito prática, desportiva. Sobretudo os estrangeiros – e naquela ala são 180 – que não têm ninguém que lhes vá levar alguma coisa”, observa. Para além da recolha de roupa foi também possível fazer face aos artigos de higiene, sobretudo através de um acordo de mecenato entre o EPL e a Unilever, que “tem fornecido vários descarregamentos de produtos de higiene”.

 

Sinodalidade

Para o vigário da Vigararia Lisboa III, padre Valter Malaquias, a escolha desta periferia “fez muito sentido à vigararia”. “É algo muito perto, mas, ao mesmo tempo, muito longe de todos nós. Sente-se essa necessidade do cuidado pelos presos”, referiu o sacerdote, ao Jornal VOZ DA VERDADE. Na Semana da Caridade para estas paróquias da cidade, foi apresentado um programa dividido entre “momentos de encontro, formação e oração”, explica o padre Valter, indicando que o ponto de partida foi dado com os ‘Encontros de Santa Isabel’, em janeiro, precisamente sobre o tema das periferias, no contexto do ano pastoral dedicado à caridade. No dia 3 de março, houve um encontro que reuniu os agentes da Pastoral Sociocaritativa das onze paróquias. “Creio que foi muito importante nesta perspetiva do conhecimento interno, de saber o que existe na vigararia. Também se nota a dificuldade de um trabalho em conjunto... Por isso, com estes encontros, percebemos que é um caminho que temos que fazer”, reconhece o pároco de Santos-o-Velho e São Francisco de Paula, anunciando que já existem os primeiros frutos destas iniciativas. “Os profissionais dos centros sociais já combinaram encontrar-se com o intuito de visitarem outros centros. Isto de cada centro ir conhecer outro, ver como trabalham, o que fazem diferente, aprender uns com os outros, é muito bom”, assume.

Para o futuro, o padre Valter atesta que esta via da “sinodalidade” é o caminho. “Estamos a tentar que isto não seja algo só de eventos, mas de processos. Isso pede-nos o Papa Francisco, pede-nos o senhor Patriarca. Apesar de serem paróquias muito próximas, são realidades diferentes. Nem todos funcionam da mesma maneira. Por isso, é um caminho conjunto que faz sentido ser percorrido”, garante.

texto por Filipe Teixeira; fotos por padre Ismael Teixeira e Filipe Teixeira
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