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P. Manuel Barbosa, scj
Sete marcas do anúncio missionário
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Na normalidade possível da situação de pandemia que vivemos e das férias para quem delas puder usufruir, pareceu-me interessante destacar o dinamismo da alegria do Evangelho no anúncio missionário que deve pautar a nossa vida cristã. Nesse sentido, recupero parte da mensagem do Papa Francisco aos membros das Obras Missionárias Pontifícias na Solenidade da Ascensão. A partir da situação evangélica em que o Senhor ressuscitado nos dá a força do seu Espírito, o Santo Padre interpela-nos a sermos, sempre e em toda a parte, alegres testemunhas de Cristo ressuscitado, propondo sete marcas para uma autêntica missão na alegria do Evangelho.

1. Atração. A Igreja cresce por atração ou adesão de vida à Pessoa de Jesus Cristo, como resposta à sua iniciativa de salvação. “A alegria que transparece nas pessoas que são atraídas por Cristo e pelo seu Espírito é o que pode tornar fecunda qualquer iniciativa missionária”.

2. Gratidão e gratuidade. A alegria de viver e anunciar o Evangelho acontece na memória agradecida de quem acolhe verdadeiramente o Espírito do Senhor na liberdade da gratidão. Nesse sentido, “não vale nada e sobretudo não é apropriado insistir na apresentação da missão e do anúncio do Evangelho como se fossem um dever vinculante, uma espécie de «obrigação contratual» dos batizados”.

3. Humildade. O Evangelho de Cristo deve ser anunciado com humildade, nunca com arrogância nem altivez, uma humildade que é distintiva dos discípulos que seguem Cristo, “manso e humilde de coração”, uma humildade que nos é ensinada pelo próprio Senhor.

4. Facilitar, não complicar. Outra marca da vida e anúncio do Evangelho é assumir a mesma paciência e misericórdia com que Jesus acompanhava o crescimento das pessoas nas suas limitações, pecados e fragilidades, ora abrandando o passo para não deixar ninguém descartado, ora imitando o pai da parábola do filho pródigo de braços e portas abertas… “A Igreja não é uma alfândega e quem participa de algum modo na missão da Igreja é chamado a não acrescentar pesos inúteis às vidas já afadigadas das pessoas, a não impor percursos sofisticados e trabalhosos de formação para usufruir daquilo que o Senhor concede com facilidade”.

5. Aproximação à vida real. “Jesus encontrou os seus primeiros discípulos nas margens do lago da Galileia, quando estavam ocupados no seu trabalho, não os encontrou num congresso, num seminário de preparação nem no Templo”. Quem vive e anuncia o Evangelho com alegria deve aproximar-se das pessoas e encontrá-las nas suas vidas concretas. Às vezes é preciso arrojar novos caminhos. Nesse sentido, o Papa acena a um exemplo desafiador: “na Igreja continua a haver quem apregoe o slogan «é a hora dos leigos», mas o relógio parece ter parado”…

6. O «sensus fidei» do povo de Deus. O reconhecimento do instinto da fé ou sensus fidei é dom do Espírito ao “santo povo de Deus, reunido e ungido pelo Senhor”. Na espiritualidade popular, o povo peregrina “aos santuários e consagra-se a Jesus, a Maria e aos Santos, bebe e adere de forma conatural à iniciativa livre e gratuita de Deus, sem precisar de seguir planos de mobilização pastoral”.

7. Predileção pelos humildes e os pobres. A predileção pelos pobres e os humildes é essência do ardor missionário guiado pelo Espírito Santo, “não é uma opção facultativa para a Igreja”.

Reavivar estas sete marcas, tão antigas e sempre novas, contribui certamente para renovar as nossas vidas como discípulos missionários transformados pela alegria do Evangelho, o que está em consonância com a programação pastoral do Papa Francisco para várias décadas e em sintonia com a permanente receção das orientações sinodais na nossa Diocese de Lisboa.