Lisboa |
Ordenações diaconais, na Sé Patriarcal de Lisboa
“Obreiros constantes da verdadeira paz”
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Na celebração de ordenação de dois novos diáconos, na condição de permanentes, o Cardeal-Patriarca de Lisboa apontou a restauração do diaconado como sinal para “sublinhar a prevalência da caridade na vida da Igreja”. Na homilia da celebração, que teve lugar na Sé Patriarcal de Lisboa, D. Manuel Clemente classificou como “urgente e prioritário reproduzir a atitude de Cristo, ouvindo para propor e perdoando para reconstruir”, face a uma sociedade onde é “difícil escutar os outros”.

 

“Contamos convosco e com os vossos colegas diáconos, para serdes, com a graça especial do sacramento recebido, obreiros constantes da verdadeira paz”, encorajou o Cardeal-Patriarca de Lisboa, na celebração, no passado Domingo, 13 de setembro, na Sé de Lisboa, onde Carlos Marques, da Paróquia da Póvoa de Santa Iria, e José Pedro Costa, da Paróquia de Mafra, receberam o primeiro grau do sacramento da Ordem. Na homilia da Missa onde se escutou o Evangelho em que Jesus responde a Pedro que deve perdoar ‘Não até sete vezes, mas até setenta vezes sete’, D. Manuel Clemente apontou esse como um desafio para todos os cristãos. “Trata-se de renovar profundamente as vidas com o poder recriador de Deus, que não desiste de nenhuma das suas criaturas. Jesus preenche o Evangelho com atitudes e parábolas neste sentido pleno, concluído na cruz, pedindo perdão para os mesmos que o crucificavam. Há quem considere ser precisamente o amor dos inimigos a melhor definição do cristianismo”, sublinhou, evidenciando o caminho do perdão como o único para cortar com o crescimento de “tantas violências do nosso pequeno ou grande mundo”. “Sabemos não ser fácil, mas aceitemos ser possível. Reconheçamos também não haver alternativa, se quisermos prevenir grandes males. Temos aí a história mundial, que nunca resolveu nenhum conflito com outro conflito, nem manteve duradouramente a paz sem perdão mútuo e verdadeiro”, prosseguiu.

Para o Cardeal-Patriarca de Lisboa, os conflitos, que geram “particularismos de nação, raça ou convicção”, “quando perdem o horizonte da humanidade inteira e do mundo em geral, acabam por destruir” aquilo que “cada um transporta de bom e só universalmente renderia”. “Quanto desperdício humano, além de material e ecológico, se tem acumulado por falta de vontade em nos reconstruirmos mutuamente!”, lamentou D. Manuel Clemente, apelando a um olhar mais próximo, junto das “famílias e comunidades”.

 

Falta de escuta

Nesta celebração – que teve transmissão online e em direto, pelo site e redes sociais do Patriarcado de Lisboa e do Jornal VOZ DA VERDADE –, D. Manuel Clemente criticou a falta de escuta que é originada pela existência de uma “sociedade de ‘comunicação’ intensa e muito potenciada”, onde se torna “difícil escutar os outros, perdidos no ruído geral”. “Riposta-se ao que não se ouviu nem leu e as reações imediatas tomam o lugar da reflexão ponderada, quase impossível de fazer e sem sequer aprendida. Não admira que sentimentos desgarrados, primeiras impressões e ligações grupais acabem por ocupar medias e redes, originando ou agravando conflitos sobre conflitos, que muito distraem e nada constroem”, observou o Cardeal-Patriarca de Lisboa, apontando alguns dos temas onde esta falta de escuta tem consequência. “Não raro atingem-se pontos fulcrais, atinentes à vida no seu arco completo, à educação e à cultura, à justa convergência família – escola, ou à realidade política nacional e internacional. Os debates fazem-se para ganhar uma parte e não para nos ganharmos todos mais à frente, escutando com atenção as razões de cada um. A própria linguagem se torna por vezes tão precipitada como a correnteza das ideias feitas – e muito indisponíveis para se refazerem, sendo o caso”, apontou, ressalvando que, “felizmente”, nem sempre é assim, apesar de os maus exemplos terem “mais palco do que os bons”. Por isso, segundo D. Manuel Clemente, torna-se “urgente e prioritário reproduzir a atitude de Cristo, ouvindo para propor e perdoando para reconstruir”.

 

“A alma da Igreja”

Nesta celebração, que foi concelebrada pelos Bispos Auxiliares de Lisboa e por outros sacerdotes, o Cardeal-Patriarca apontou a caridade como especificidade da ordem diaconal, recebida ali por dois leigos. “A restauração do diaconado como grau próprio e permanente do sacramento da Ordem pretendeu sublinhar a prevalência da caridade na vida da Igreja e no seu serviço ao mundo. Com este critério fostes certamente escolhidos, caríssimos ordinandos, e com esta missão vos realizareis agora”, afirmou D. Manuel Clemente, desafiando também todos os cristãos a refletirem sobre a especificidade da sua missão no mundo. Citando o Papa Francisco, numa recente intervenção, o Patriarca de Lisboa avançou que “a caridade, além da natural filantropia, repassa-nos dos sentimentos de Cristo, fazendo amar como Ele amou e amando-O também naqueles em quem nos espera, com particular atenção aos mais pobres, de tantas pobrezas que subsistem”. “Compreendemos assim que a caridade – como a fé e a esperança – seja uma virtude teologal, modo de dizer uma força invencível que tem em Deus a sua fonte e o seu fim”, sublinhou, sintetizando: “O que fazemos em Cristo, de Deus para Deus, seja em que circunstância for e em relação a quem for, é outro modo de referir a caridade sentida e operativa. É a alma da Igreja e o que ela oferece ao mundo. Começou em Cristo e prolonga-se em quem vive do seu Espírito”, reforçou.

 

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Por uma “sociedade verdadeiramente solidária”

O Cardeal-Patriarca de Lisboa saudou todos aqueles que, neste tempo marcado pelo reinício de muitas atividades, continuam a esforçar-se, nas mais diversas áreas, perante as consequências de uma pandemia, para nos manterem a todos como “sociedade verdadeiramente solidária”. Na homilia da celebração de ordenação de dois diáconos, no passado Domingo, na Sé, D. Manuel Clemente indicou que a Igreja se encontra “em todas as frentes”, “porque em todas elas se encontram cristãos, como cidadãos entre cidadãos”. “Não podia ser doutro modo e graças a Deus que é assim”, observou o Cardeal-Patriarca, reconhecendo que “o desafio é grande” e pedindo “participação, criatividade e empenho”.

 

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As fotografias da celebração estão disponíveis em www.flickr.com/patriarcadodelisboa/sets

texto por Filipe Teixeira; fotos por Arlindo Homem/Patriarcado de Lisboa
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