Editorial |
P. Nuno Rosário Fernandes
A morte mata!
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Já passaram nove meses desde o momento em que a pandemia da covid-19 começou a afetar o nosso país. Desde essa altura têm sido inúmeros os esforços para evitar contágios, cuidar e salvar pessoas. Luta-se pela vida nos hospitais, fazendo horários absurdos, mas necessários para poder chegar a todos. Deus os recompense, como só Ele sabe fazer. Luta-se pela vida nos lares de idosos, onde estão os mais frágeis, pela idade e pela saúde. Luta-se pela vida no esforço que se faz na economia, nos que perderam o emprego, nos que têm estabelecimentos comerciais fechados, nos que estão em casa sozinhos, nos que querem e não podem trabalhar, nos que passam fome, nos que não veem os seus familiares há meses, nos que já perderam entes próximos. Luta-se todos os dias pela vida.

O mundo anseia pela chegada da vacina que parece estar mais próxima. Já se elaboram processos, que se esperam eficazes, para o início da vacinação. Luta-se pela vida, mas depois, parece que somos esquizofrénicos e queremos legalizar a morte. Quando, no meio da tristeza, da angústia, do sofrimento de tantos pela pandemia e as suas consequências, pela aproximação do Natal se procura trazer algum alento às pessoas, a preocupação da Assembleia da República, e de alguns grupos parlamentares, é a de colocar em cima da mesa, novamente, o tema do que chamam ‘Despenalização da morte medicamente assistida’, o mesmo é dizer: EUTANÁSIA.

Esta quarta-feira recomeçaram os trabalhos dos grupos parlamentares que levam a discussão quatro Projetos de Lei com vista a regulamentar a Lei que seguirá depois para o Presidente da República, depois de em outubro ter sido recusado na Assembleia da República o pedido da iniciativa popular de referendo que juntou 95.287 assinaturas.

Não penso que este seja o momento mais apropriado para trazer ao de cima este tema da Eutanásia; aliás, não creio que haja algum momento apropriado para o fazer, porque o que seria de esperar era a preocupação por proporcionar os melhores cuidados a quem está frágil, doente e precisa de apoio na sua doença.

A Congregação para a Doutrina da Fé, organismo do Vaticano, publicou em setembro um texto onde vem reforçar esta necessidade. O próprio título do documento apela a isso: ‘SAMARITANUS BONUS (Bom Samaritano) - Sobre o cuidado das pessoas nas fases críticas e terminais da vida’. Este documento vem reiterar a condenação a todas as formas de eutanásia e de suicídio assistido, e lembra que “o cuidado da vida é pois a primeira responsabilidade que o médico experimenta no encontro com o doente. Ela não é redutível à capacidade de curar o doente, sendo o seu horizonte antropológico e moral mais amplo: também quando a cura é impossível ou improvável, o acompanhamento do médico/enfermeiro (cuidado das funções fisiológicas essenciais do corpo), como também psicológico e espiritual, é um dever imprescindível, já que o oposto constituiria um desumano abandono do doente”. Como tem sido dito pelos nossos bispos é preciso promover mais os cuidados paliativos e encontrar meios de apoio a quem sofre. Porque a morte não é solução para acabar com o sofrimento. A morte mata!

 

Editorial, pelo P. Nuno Rosário Fernandes, diretor

p.nunorfernandes@patriarcado-lisboa.pt

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