Lisboa |
Presépio Laudato Si’
Famílias desafiadas a uma vivência “mais verdadeira” do Natal
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Preparar o Natal em família, a partir da encíclica Laudato Si’, é o novo desafio da Catequese e da Pastoral Familiar do Patriarcado de Lisboa. Semanalmente, a família Paiva Brandão e a catequista Filipa Ribeiro deixam desafios para este tempo de “maior recolhimento” e que aponta a “uma vivência mais realista e mais verdadeira do Natal”.

 

O Sector da Catequese e a Pastoral Familiar do Patriarcado de Lisboa apresentaram, na passada semana, o primeiro episódio da iniciativa Presépio Laudato Si’. Todas as semanas do Advento e durante o tempo do Natal, através de um vídeo curto, as famílias são “desafiadas a construírem o presépio e a conversarem sobre a encíclica Laudato Si’, sobre o cuidado da casa comum”, neste ano que lhe é dedicado e em que se assinalam os cinco anos da sua publicação. “Esta iniciativa tem como objetivo ajudar as famílias a viverem este tempo de maior recolhimento”, começa por explicar, ao Jornal VOZ DA VERDADE, o padre Tiago Neto, diretor do Sector da Catequese de Lisboa, que assegura fazer todo o sentido a relação entre o Natal e a encíclica do Papa Francisco, particularmente no ponto 99 do documento, onde é realçada a “centralidade do mistério de Cristo”. “De alguma forma, vemos aqui uma relação estreita entre a encarnação do Filho de Deus – Mistério do Natal – e o destino da criação inteira. Cristo está no centro de tudo e, por isso, no centro daquilo que é a criação do mundo, a criação do Homem”, acrescenta o sacerdote.

 

Surpresa

Para apresentar cada vídeo semanal, o Sector da Catequese desafiou a família Paiva Brandão. “Foi inesperado, ficámos surpreendidos, até porque não temos, enquanto família, experiência de gravação a este nível, mas procurámo-nos ‘agarrar’ à frase: ‘Deus não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos’”, começa por partilhar Diogo, de 41 anos, que, tal como a sua esposa, Isabel, da mesma idade, sentiram “orgulho em poder fazer esta caminhada e ajudar mais famílias a prepararem o nascimento de Cristo”. Atitude mais desprendida tiveram os seus três filhos. Diogo, com 12 anos, José Maria, de 8, e Francisco, com 3, “ficaram numa excitação imediata, pois queriam conhecer um estúdio de gravação a sério”, e nem o facto de terem que despender bastantes horas para as gravações os fez esmorecer. “As gravações dos primeiros quatro episódios confirmaram isso mesmo, a extrema alegria dos nossos filhos em participar neste projeto”, conta Diogo.

 

Um “desafio diário”

A família Paiva Brandão pertence ao movimento das Equipas de Nossa Senhora, vive em Oeiras, mas faz parte da paróquia de São Domingos de Rana – onde Isabel é catequista do 6.º volume. Ao Jornal VOZ DA VERDADE, Isabel refere que, apesar de todos os anos viverem a preparação do Natal em família, começando pela construção do presépio, esta participação no Presépio Laudato Si’ vem ajudar a tomar “ainda mais consciência que, em tudo o que fazemos, podemos e devemos pensar se estamos a fazer tudo o que está ao nosso alcance para protegermos o meio ambiente”. Diogo explica que essa preocupação pela casa comum sempre esteve presente na educação dos filhos e defende que isso “não pode ser só ensinamento, sem prática”. “Esta preocupação é feita em gestos de proteção e defesa da Terra, como a reciclagem em casa, a poupança da água, o desligar a luz quando saem de uma divisão da casa, o não desperdício alimentar, mas também no respeito pelos outros e pela família, como nos fala o primeiro vídeo, e o cuidarem da relação com Deus e com eles próprios”, exemplifica. “O facto de os nossos filhos participarem no Presépio Laudato Si’, e estudarem os diálogos, tem ajudado a tomarem consciência que esta preocupação pela casa comum é um desafio diário, a ser ‘construído’ todos os dias”, reforça este pai.

 

Entusiasmo

Filipa Ribeiro, de 24 anos, é a catequista do Presépio Laudato Si’ e todas as semanas apresenta às crianças os desafios propostos. Quando recebeu o convite para participar nesta iniciativa, aceitou com “algum receio” – sobretudo devido à incerteza na forma como iriam decorrer as gravações neste tempo de pandemia –, mas também “com muito entusiasmo”. “Quando me foi explicado o intuito, achei que seria um desafio muito bom e que existiria uma boa recetividade. Pensei que, neste tempo em que temos de estar mais confinados, ter atividades e desafios semanais que as famílias pudessem fazer e que as próprias catequeses pudessem sugerir, iria ser bom e uma ótima iniciativa”, partilha esta jovem da paróquia de Alcabideche e catequista na comunidade de Alvide. Filipa não tinha experiência neste tipo de trabalho, mas o balanço é “muito positivo”. “Os textos eram um bocadinho mais complexos e achámos que iria ser um bocadinho difícil de gravar, principalmente pelo cansaço das crianças, mas houve liberdade para se ajustar e também foi possível gravar em ‘prestações’. Apesar de o vídeo ter 5 minutos, nós estamos ali durante horas”, lembra Filipa.

 

Tempo em família

Para a jovem catequista, esta iniciativa Presépio Laudato Si’ pode significar “união” nas famílias que cumprirem os desafios propostos. “Alerta-se muito para a palavra ‘cuidar’: cuidar dos outros, cuidar da família, cuidar do meio ambiente, cuidar da casa comum... Mas há muita preocupação com o tempo em família”, aponta. “A própria montagem do presépio, onde todas as semanas se vão acrescentando elementos, também exige um tempo que os pais têm que despender com as crianças. Isso vai trazer tempo, união e aprendizagens, porque vão ter que falar nos assuntos, vão ficar a conhecer mais sobre esta história, sobre este tempo de Natal... E, claro, vai levantar dúvidas que, estando em família, poderão ser respondidas”, projeta Filipa Ribeiro.

Apesar de, atualmente, não ter um grupo de catequese definido e apoiar os catequistas que não podem estar presentes ou que precisam de ajuda, Filipa sublinha que a preocupação das crianças com o cuidado da casa comum “é muito boa, até melhor do que a dos adultos”. “As crianças, na escola, são muito alertadas para este problema, até para a consciência de cuidar dos outros, da casa comum. Acho que nos dão respostas muito positivas”, afirma. Apesar de já ter proposto atividades com esse objetivo, Filipa assegura que os mais novos têm iniciativa. “São eles que nos dizem que temos de poupar água, luz, etc. Acho que são cada vez mais conscientes dos problemas”, atesta.

 

Proposta para as famílias

O projeto Presépio Laudato Si’ tem suscitado, desde logo, “bastante interesse” por parte dos catequistas, afirma o diretor do Sector da Catequese do Patriarcado de Lisboa, explicando que “a iniciativa pretende valorizar a família como lugar de Igreja, de catequese, de evangelização, de oração”. “Tendo em conta o recolhimento neste tempo, quisemos lançar uma proposta dirigida, em primeiro lugar, às famílias. A ideia é que a família seja o lugar onde se constrói este presépio e onde se tem contacto com a Laudato Si’ e, particularmente, através dos esquemas de oração e também com a liturgia dominical”, explica o padre Tiago Neto. Admitindo que, para alguns, possa “parecer estranho” falar-se da encíclica Laudato Si’ no tempo de Natal, este responsável sublinha a pertinência desta iniciativa para os tempos atuais, que apontam para “uma vivência mais realista e mais verdadeira do Natal”. “Isso passa por olhar para o presépio e para as narrativas evangélicas que nos convidam a viver num mundo mais humano e mais fraterno”, assegura.

Esta e outras iniciativas do Sector da Catequese surgiram a partir da experiência de confinamento geral, vivida a partir de março deste ano. A aposta no online por parte de uma grande maioria dos catequistas de toda a diocese veio permitir estarem mais próximos das crianças, jovens e das suas famílias, mas, segundo a catequista Filipa Ribeiro, não são a solução ideal. “A partir da minha experiência, sobretudo no final do ano pastoral passado, senti que alguns pais aderiram muito bem, mas também notei que houve um certo cansaço porque as crianças já estavam no Zoom, durante a semana, com a escola. Por vezes, também enviávamos atividades para realizarem com os pais, a que se juntavam as atividades da escola. Por isso, já estavam saturados de tanta atividade para fazer em casa”, partilha Filipa, afirmando que os meios informáticos, apesar de serem a “opção possível”, “não são a melhor solução, até porque se perde um bocadinho aquele espírito de grupo, sobretudo com os mais pequeninos”.

 

Pandemia “abriu olhares”

Na casa da família Paiva Brandão, também houve hábitos de vivência da fé que se alteraram com a chegada da pandemia. “No confinamento, tal como muitas famílias cristãs, continuámos a participar na Eucaristia semanal em família, mas através da televisão, e no caso das celebrações de Páscoa a partir da internet. Atualmente, em termos de catequese, na nossa paróquia, foi implementado um sistema misto, com catequese presencial para metade dos volumes, enquanto os restantes têm catequese online, e na semana seguinte trocam”, explica Isabel, que reconhece fazerem “muita falta os gestos de proximidade entre todos, como um abraço ou uma festinha na cabeça”. “Contudo, sinto que as crianças estão mais atentas uns aos outros – se falta um menino à catequese, eles perguntam logo se está bem – e também mais preocupados, no bom sentido, com o que os rodeia”, aponta. A mesma ideia é partilhada por Diogo: “A pandemia abriu olhares para o lado, para os outros, para a sociedade. Mesmo nas orações da noite, vemos esta preocupação nas intenções dos nossos filhos, sobretudo nas dos dois mais velhos”.

Como catequista, Isabel afirma que o maior receio das crianças da catequese, neste Natal, é “não poderem estar com os avós”. “Tentamos passar-lhes esperança, dando-lhes pistas de coisas que podem fazer para se sentirem mais perto dos avós, sobretudo aproveitando as novas tecnologias ou enviando-lhes uma carta ou um desenho. Neste tempo de preparação para o Natal, procuramos incutir-lhes valores de solidariedade, entreajuda e atenção ao outro, pedindo-lhes que ajudem um amigo que se sinta só, que partilhem algum bem com as famílias carenciadas, que ajudem os pais em casa, sendo amigos dos irmãos”, descreve.

 

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“Estou a gostar muito de fazer vídeos para o YouTube e depois ver o resultado final. Tem sido giro ‘errar’ as falas e depois fazer bem. Espero que as mensagens cheguem aos corações de todas as pessoas.”

Diogo, 12 anos

 

“Gosto muito de fazer a casa [presépio].”

Francisco, 3 anos

 

“Gosto muito da catequese com a Filipa e de estarmos atentos ao mundo, para o protegermos.”

José Maria, 8 anos


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Os vídeos e orações do Presépio Laudato Si’ são disponibilizados todas as quintas-feiras, às 21h00, durante o tempo de Advento e Natal, no site e redes sociais da Catequese (www.catequese.net | https://bit.ly/YTCatequese | www.facebook.com/CatequesedeLisboa) e na página Facebook da Pastoral Familiar de Lisboa (www.facebook.com/familia.patriarcadolisboa).

 


texto por Filipe Teixeira; fotos D.R.
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