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A história de Nabil, um bebé que sobreviveu ileso à explosão de Beirute
Um milagre em Beirute
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Nabil tinha acabado de nascer quando se deu a explosão no porto de Beirute. Foi terrível. Num instante, tudo mudou. Prédios desabaram, milhares de pessoas ficaram feridas, centenas morreram. Um caos. Parecia um cenário de guerra. No berço, junto a uma janela destruída, coberto de estilhaços, mas ileso, estava Nabil. Tinha nascido há apenas 15 minutos. Para Jad, a aventura de ser pai estava a começar. Com um verdadeiro milagre…

 

O dia 4 de Agosto de 2020 ficará para sempre na memória de Jad. Na verdade, é como se o seu filho tivesse nascido duas vezes. A sua mulher, Christelle, tinha dado à luz o primeiro filho no hospital de St. George, em Beirute, a capital do Líbano. Tudo estava a correr bem. Foi o próprio Jad que contou a história a Maria Lozano, responsável de comunicação da AIS durante os dias que passou em Beirute no levantamento das necessidades mais urgentes para a Igreja local, após a tragédia de 4 de Agosto. O bebé já se encontrava no berço – a sua primeira caminha – quando tudo aconteceu. Quase três mil toneladas de nitrato de amónio explodiram provocando um gigantesco sopro de morte que destruiu praticamente tudo à sua passagem. A janela do hospital, que se encontrava mesmo por cima do berço onde estava Nabil, ficou destruída. Jad, quando recorda esses instantes de caos em que tudo se parecia estar a desmoronar como num verdadeiro apocalipse, diz apenas que o seu bebé estava ileso. Inacreditavelmente ileso. “Tudo voou pelo ar, pensei que a guerra estava a rebentar. O meu primeiro pensamento foi para a minha mulher e o meu filho. Foi um milagre. Quando olho para o berço onde o Nabil estava, só posso dar graças a Deus. Estava sob a janela rebentada, cheio de estilhaços cravados na colcha como pequenas lanças. Mas ao Nabil nada aconteceu. Nada.”

 

Um cenário impossível

Quando se veem as imagens captadas pelas câmaras de segurança ou em ‘selfies’ um pouco ao acaso na cidade de Beirute, percebe-se que Jad tenha pensado que “a guerra estava a rebentar”. Passavam exactamente sete minutos das 6h da tarde daquela terça-feira, dia 4 de Agosto. Numa fracção de segundos, prédios colapsaram, ruas inteiras ficaram em ruínas. Parecia um fim do mundo. Mesmo para os mais velhos, os que ainda têm bem presente na memória os tempos da guerra, com as casas esventradas pelas bombas e os gritos dos feridos, mesmo para esses, os mais velhos, aquilo parecia um cenário impossível de descrever. A explosão no hangar 13 do porto de Beirute provocou mais de duas centenas de mortos e mais de 6500 feridos. Mas a Nabil nada aconteceu.

 

“Nem um arranhão…”

O Hospital Ortodoxo de St. George ficou destruído. Era um dos três maiores do Líbano. A cidade de Beirute estava num caos. A mulher de Jad e o bebé tiveram de ser transportados de urgência para outra unidade hospitalar a cerca de 80 km de distância. Jad recorda agora esses infindáveis minutos que mudaram a sua vida para sempre e diz que a sua fé ficou mais forte. “Estou sempre a dizer ao meu filho: estás vivo porque Cristo te salvou. A tua mãe e eu ficámos feridos, mas tu nem com um arranhão ficaste. Nunca te esqueças: Jesus estava contigo naquele momento. Não tenhas medo, Ele estará sempre contigo.” Foi como um milagre. “A explosão mudou a minha vida.”

 

Pequeno tesouro

Tragédia é mesmo a única palavra possível. Calcula-se que cerca de 300 mil pessoas ficaram afectadas pela explosão. Perderam as suas casas ou estas ficaram danificadas. Muitas destas pessoas, talvez mesmo a maioria, pertencem à comunidade cristã. A profunda crise económica que já atormentava o Líbano transformou-se desde então numa realidade quase impossível de suportar. Para muitas famílias cristãs, o dia 4 de Agosto veio trazer ainda mais miséria à pobreza em que já se encontravam. Este Inverno será ainda mais duro. Para muitos, será um Inverno sem abrigo, sem perspectivas, sem futuro. A vida não está fácil também para Jad e Christelle. Mas, para eles, há uma certeza que alimenta todos os sonhos. A certeza da fé. Uma certeza que, para Jad, é o grande património que quer transmitir a Nabil, o seu pequeno tesouro. “O meu filho vive isso desde o 15.º minuto de vida e nós, cristãos no Líbano, sabemo-lo muito bem. Sobrevivemos a guerras e perseguições. Vivemos porque temos uma missão a cumprir:  dar testemunho de Cristo.”

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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