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40 jovens sonham seguir a vida religiosa num país minado pela violência
Amor pelos pobres
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A República Centro-Africana vive dias complicados, com cidades controladas por grupos armados, ataques, pessoas em fuga, mortos e feridos. O ano começou com violência e ninguém consegue adivinhar como tudo irá terminar. No entanto, apesar deste cenário tão desolador, os frades carmelitas continuam a atrair novas vocações e até pedem ajuda para a formação de quase quatro dezenas de noviços…

 

Dia 3 de Janeiro. A cidade de Bangassou, na República Centro-Africana, foi tomada por grupos rebeldes no primeiro domingo do ano. O Bispo, D. Juan José Aguirre, falou logo nessa manhã com a Fundação AIS e descreveu um ambiente de violência na cidade. Estava preocupado, acima de tudo, com os mais velhos e as crianças. “São inocentes, olhamo-los nos olhos e não sabem nada sobre rebeldes, mercenários, lutas pelo poder... Eles só ouvem os tiros e as explosões e ficam com muito medo.” Percebia-se a inquietação na sua voz.  Não era só Bangassou que estava sob ataque. Várias outras cidades foram igualmente tomadas por grupos rebeldes que estão activos neste país africano principalmente desde a segunda quinzena de Dezembro e que controlarão já vastas regiões do país.

 

Armazém da Caritas vandalizado

É o caso, por exemplo, de Bozoum. O padre carmelita Aurelio Gazzera, que esteve em Lisboa a convite da Fundação AIS em 2015 para a apresentação do relatório sobre a perseguição aos Cristãos, referiu, em mensagem publicada nas redes sociais, que o armazém local da Caritas tinha sido vandalizado, também nesse primeiro domingo do ano, por “homens armados do grupo rebelde 3R”. “Provavelmente estariam a procurar armas ou material valioso”, escreveu o missionário, acrescentando que “dentro do armazém” havia de facto “algo muito precioso”. Algo porém que os homens das milícias “não podiam destruir ou roubar: o amor pelos pobres!”.

 

Os primeiros padres

É preciso recuar meio século para se encontrar registo dos primeiros padres carmelitas  italianos na República Centro-Africana. Foram quatro sacerdotes. Traziam consigo uma semente de fé que queriam ver desabrochar neste pedaço de África, num dos países mais pobres do mundo. Arregaçaram as mangas e começaram a trabalhar. Um desses quatro frades carmelitas que se aventuraram por terras africanas no já longínquo ano de 1971 foi Nicolò Ellena. Trabalhou como missionário praticamente até ao fim dos seus dias. Morreu em 2019, com 96 anos de idade. A pobreza que comoveu Ellena e os seus companheiros de aventura é uma realidade que, infelizmente, persiste quase inalterada nos dias de hoje.

 

Tempos de guerra

Essa pobreza, que tem alastrado impunemente de geração em geração deixando as suas marcas nos bairros periféricos das cidades, entre os casebres das aldeias, em todo o lado, foi fermento para a violência que alastrou no país em 2013. A República Centro-Africana era um barril de pólvora prestes a explodir. Nesses dias de má memória, com o país a ferro e fogo, os Carmelitas abriram as portas dos seus conventos, das suas missões, para abrigar as multidões em fuga. Foi assim, por exemplo, em Bangui. O convento foi literalmente invadido por mais de 10 mil pessoas que procuravam apenas salvar as suas vidas. Eram como náufragos. Talvez tenham sido mais de dez mil pessoas as que se acolheram junto dos carmelitas. De um dia para o outro, os terrenos em volta do convento transformaram-se num gigantesco acampamento. O tempo passou, mas nunca mais houve verdadeiramente paz na República Centro-Africana. Agora, desde o final do ano passado, a violência parece ter desabado de novo sobre as cidades, sobre as populações.

 

O sonho da vida religiosa

A semente de fé que veio de Itália tem frutificado. Na verdade, há cada vez mais jovens que pretendem abraçar a vocação religiosa na comunidade carmelita. E fazem-no apesar dos rumores de guerra, de violência constante, até da ameaça crescente que se verifica neste país sobre os cristãos. Actualmente, há 38 jovens em formação. Todos sonham envergar um dia o hábito carmelita. É o caso de Jeannot e Marcial. No dia 20 de Dezembro iam fazer a profissão permanente em Bozoum, a mais antiga estação da Missão Carmelita na República Centro-Africana. Nesse dia, grupos armados entraram à força na cidade impondo a sua presença. Tudo parou. Todos ficaram à espera do pior numa angústia de morte. A cerimónia foi cancelada.

 

Verdadeiro tesouro

Os dois jovens acabariam por fazer os seus votos mais tarde apenas perante um pequeno grupo de confrades. Perdeu-se a festa, mas salvou-se o essencial. Jeannot e Marcial são dois dos quase quarenta jovens carmelitas que querem dedicar as suas vidas a Deus servindo os mais pobres dos pobres do seu país. Assegurar que todos vão conseguir realizar esse sonho é a missão do padre Frederico, o responsável pela formação dos noviços. Ele pede ajuda à Fundação AIS. Falta quase tudo neste país tão ameaçado pela violência. Mas mais forte do que a ameaça das armas dos homens das milícias é a certeza da fé que enche os dias de Jeannot e Marcial e de todos os outros jovens carmelitas. O padre Frederico quer levar a bom porto a formação de todos eles. Vamos ajudá-lo?

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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