Lisboa |
‘Reflexão Quaresmal’ do Cardeal-Patriarca de Lisboa com as IPSS
“A caridade é uma sociabilidade divina”
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Páscoa, conversão, inteligência, ressurreição, esperança e caridade. São estas as seis palavras-chave da Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma, segundo referiu o Cardeal-Patriarca de Lisboa aos agentes da Pastoral Sociocaritativa, durante uma formação online. D. Manuel Clemente considerou que estes termos “podem, certamente, ajudar muito” as atividades das instituições, e lembrou ainda a recente visita do Papa Francisco ao Iraque como expressão de uma “caridade ativa”.

 

A Mensagem do Papa para a Quaresma surge “no rescaldo dum belíssimo exemplo do que é a caridade ativa”, como foi “a visita do Papa Francisco ao Iraque”, recordou o Cardeal-Patriarca aos membros de diversas instituições e grupos caritativos. “Como sabem, o Iraque foi uma das zonas do mundo mais atingidas por variadíssimos conflitos – aliás, há muito tempo –, mas nas últimas décadas terríveis, que quase dizimaram a população cristã que lá sobrevivia há dois milénios. São os cristãos mais antigos, alguns falam mesmo a língua de Jesus, o aramaico, e foram tão atingidos por conflitos com os quais não tinham nada a ver diretamente, tendo sido as primeiras vítimas de todos os fanatismos e terrorismos que lá se desencadearam”, apontou.

Num encontro via Zoom, na manhã do passado dia 12 de março, perante mais de 200 agentes da Pastoral Social, D. Manuel Clemente lembrou “o risco”, mas também “o exemplo” que Francisco deu ao visitar a terra de Abraão. “A viagem ao Iraque é um ótimo exemplo do que é a caridade, com este impulso de ir ao encontro dos outros, como filho de Deus e irmão universal, até de pessoas que não compartilham a nossa fé”, acrescentou.

 

Páscoa, conversão e inteligência

O Cardeal-Patriarca de Lisboa fez então uma ‘Reflexão Quaresmal’ na sessão formativa sobre ‘Avaliação de Desempenho’, destinada às Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), que foi promovida pela Federação Solicitude e pelo Departamento da Pastoral Sociocaritativa do Patriarcado, tendo como pano de fundo a Mensagem do Papa para a Quaresma, que é “particularmente tocante, mobilizadora e bastante incisiva, e também quaresmal”, sublinhou. Neste sentido, deteve-se em seis palavras-chave. Desde logo, a primeira, “a palavra Páscoa”, ou, “como o Papa diz, a Paixão, a morte e a Ressurreição de Jesus”. “O Papa diz que a Páscoa existe para compreendermos e nos associarmos à missão de Cristo, e esta é uma boa altura para isso”, explicou D. Manuel Clemente, reforçando que “Deus vem ao nosso encontro onde nós precisamos de ser encontrados, na vida, na vida humana, no que ela tem de dramático e de tragédia”. “É no drama e na tragédia da vida humana que Deus nos encontra. Isso é que é compreender o porquê da missão de Cristo. Porque se Ele é o Emanuel – uma palavra que significa Deus connosco – tem que ser Deus connosco onde nós estamos”, sublinhou. “O que aprendemos com Jesus Cristo é que Deus está agora na nossa humanidade, como esteve n’Ele e como se alarga em todos. Onde a vida de Jesus se repercute, está Deus”, concluiu, a propósito da primeira palavra-chave, Páscoa.

A segunda palavra da mensagem quaresmal de Francisco que foi destacada por D. Manuel Clemente é “conversão”. “O Papa escreve que jejum, oração e esmola são condição e expressão da nossa conversão”, apontou, convidando a “uma vida de oração”. “Não há nada em Jesus que não aconteça na sua ligação ao Pai – a sua constante ligação ao Pai é o segredo de Jesus”, explicou, frisando ainda que “o jejum é a privação do supérfluo – e por vezes até de algo essencial – para poder estar mais disponível e liberto de apetites imediatos e exercitar o apetite absoluto, que é o de Deus”, e que “a esmola é a face ativa do jejum que fazemos, porque aquilo que privamos é aquilo que oferecemos, aquilo que distribuímos para que este mundo seja de todos e para todos”. “No fundo, conversão é passarmos a ver as coisas não como nós as vemos, habitualmente, mas vê-las a partir de Deus. Em cada circunstância, perguntar: ‘Como é que Jesus agiria?’ É uma conversão permanente que temos que fazer, em cada minuto, na vida pessoal, na vida familiar, na vida das instituições, na vida da Igreja”, resumiu.

Como terceiro termo o Cardeal-Patriarca apontou a “inteligência”. “Diz o Papa que temos que ter uma inteligência do coração para captar a verdade de Cristo. É uma inteligência do coração que nasce da adesão à própria realidade de Cristo, na sua vida, na sua Palavra, como Ele se apresenta e como Ele nos seduz”, referiu, manifestando que “não é uma força exterior que nos faz estar aqui, é uma força do coração”.

 

Ressurreição, esperança e caridade

Quarta palavra: “Ressurreição”. “Nesta mensagem do Papa, a ressurreição é apresentada nos seguintes termos: a ressurreição de Jesus Cristo abre-nos um futuro, de par em par, pela misericórdia do Pai. Aqui não posso deixar de evocar a parábola do pai misericordioso, também chamada do filho pródigo. Porque foi exatamente assim que Jesus quis falar da misericórdia de Deus”, salientou. Neste sentido, “misericórdia é ter o coração no que é pequeno, no que é mísero, frágil”. “Esse é o coração do Pai, como Jesus o revela”, observou. “Entramos na festa de Deus, nesta misericórdia ativa para com tudo e para com todos?”, questionou.

A quinta palavra sobre a qual o Cardeal-Patriarca se deteve foi “esperança”. “A esperança, como lembrou o Papa Bento XVI, na encíclica ‘Spe salvi’, tem, no número dois, uma definição de esperança muito interessante e numa linguagem muito atual: a esperança é uma virtude performativa – ou seja, realiza aquilo que enuncia –, que quanto mais se pratica, mais cresce”, partilhou, destacando novamente a mensagem de Francisco para esta Quaresma: “Diz o Papa que para dar esperança precisamos de três alíneas ativas: uma amabilidade atenta; um sorriso estimulante; e sermos nós próprios um espaço de escuta para os outros”.

“Caridade” foi a sexta e última palavra destacada por D. Manuel Clemente. “O social é uma dimensão humana, mas a caridade não é apenas este sentimento, é uma sociabilidade divina, é um impulso divino”, exprimiu, garantindo que “a caridade vai além da sociabilidade”. “Mesmo onde a sociabilidade ficaria a meio caminho, o caritativo vai mais longe e até impulsiona quando nós, só por nós, se calhar nem começaríamos já. Porque a caridade é impulsionada pelo Espírito divino”, alertou. Neste sentido, explicou que o Papa Francisco dá duas características à palavra caridade: “A alegria pelo crescimento do outro, seja o outro quem for, porque essa é que toca na própria caridade divina, que não dispensa ninguém; e também a partilha e a comunhão”.

Para o Cardeal-Patriarca, estas seis palavras-chave “podem ajudar muito” as instituições. “Estas seis palavras, que vos proponho para relerem na Mensagem do Papa para a Quaresma, podem certamente ajudar-vos muito, como me ajudam a mim, não só em termos pessoais, mas também em termos das atividades em que nos vamos envolvendo e que os meus amigos, com tanta generosidade, levam por diante em tantas e tantas instituições”, destacou D. Manuel Clemente, neste encontro de Quaresma que reuniu os membros de diversas instituições e grupos caritativos da diocese.

 

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O convite a ler a carta sobre São José

O Cardeal-Patriarca de Lisboa convidou “todos” a “lerem a magnífica carta” sobre São José, intitulada ‘Patris corde’, do Papa Francisco, como “bom e sugestivo exercício quaresmal”. “Como sabemos, o Papa Francisco insiste muito nesta figura de São José na vida da Igreja e eu convido a todos a lerem a magnífica carta sobre São José. É uma carta belíssima, e para todos nós, que estamos diretamente ligados à ação sociocaritativa da Igreja, dá muitíssima inspiração acerca da atitude que, com José, havemos de tomar em relação a todos, como ele tomou em relação a Cristo e a Maria”, desafiou D. Manuel Clemente, na oração inicial deste encontro com as IPSS.

 

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Patriarcado de Lisboa convida agentes para Congresso da Caridade

O diretor do Departamento da Pastoral Sociocaritativa do Patriarcado de Lisboa convidou os agentes desta pastoral a “colocarem na agenda o dia 15 de maio”, data do Congresso da Caridade. “Ainda não sabemos se teremos a presença das instituições ou se será por Zoom, está dependente da pandemia, mas vamos seguramente fazer o congresso”, garantiu Manuel Girão, revelando ainda que em breve será divulgado o programa. “Apelo à vossa participação. Se não for possível em presença – o que era muito bom, se pudéssemos estar todos juntos –, que estejamos assim, desta forma”, frisou.

Presente nesta formação com as IPSS, este responsável tinha começado a sua intervenção por “agradecer ao senhor Patriarca a confiança” para o cargo, que disse ser “uma enorme responsabilidade”. “Foi com sentido de missão que aceitei este desafio”, observou. “Mais do que um diretor, tenho dito à equipa que está comigo que pretendo ser um mediador e um facilitador naquilo que for possível no desempenho desta missão. Pretendemos ajudar as instituições da Pastoral Social”, acrescentou. Ao cónego Francisco Crespo, seu antecessor, Manuel Girão enalteceu a “ajuda preciosa na transição”. “Conto com todos nesta missão”, terminou.

Na abertura desta formação, o presidente da Federação Solicitude, José António Parente, deu “as boas-vindas” ao novo diretor do Departamento da Pastoral Sociocaritativa do Patriarcado de Lisboa, garantindo que “pode contar” com as instituições, e deixou ainda uma “palavra de grande agradecimento e reconhecimento” ao cónego Francisco Crespo por “todos os anos de dedicação e entrega” a este serviço diocesano.

 

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“Criar um modelo de acompanhamento na avaliação de desempenho”

O presidente da Federação Solicitude faz “um balanço extremamente positivo” da sessão formativa online sobre ‘Avaliação de Desempenho’, destinada às Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), que contou com 243 inscritos. “Tivemos dirigentes, profissionais e também voluntários de cerca e 70 instituições – algumas associadas na Federação Solicitude, outras não –, e organizámos a formação com base nas solicitações anteriores que as instituições têm demonstrado acerca da necessidade de abordarmos diversas temáticas, e neste caso concreto a ‘Avaliação de Desempenho’, que é algo que nos tem sido exigido, no sentido também de haver uma coerência e um caminho interno, dentro das instituições, no sentido de corresponder à missão e aos objetivos de cada uma”, explica José António Parente, ao Jornal VOZ DA VERDADE.

Esta sessão formativa sobre ‘Avaliação de Desempenho’ foi promovida pela Federação Solicitude e pelo Departamento da Pastoral Sociocaritativa do Patriarcado, na manhã do passado dia 12 de março. “Ficou este compromisso de agora mantermos esta relação entre as instituições e a federação, no que diz respeito a criarmos um modelo de acompanhamento na avaliação de desempenho. Vamos fazer um acompanhamento mais direto junto das instituições, acerca deste tema”, revela o presidente da Federação Solicitude, que enalteceu ainda a “habitual presença” do Cardeal-Patriarca, D. Manuel Clemente, nestes encontros.

texto por Diogo Paiva Brandão
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