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Religiosa portuguesa descreve “filme de terror” em Cabo Delgado
“Mataram pessoas à nossa frente…”
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São relatos de uma violência extrema. Pessoas que fugiram dos ataques em Cabo Delgado, a província situada a norte de Moçambique, descrevem as atrocidades que estão a ser cometidas pelos terroristas. Algumas destas famílias procuraram refúgio em Lichinga, a mais de 400 quilómetros de distância. É aí que vamos encontrar a Irmã Mónica da Rocha. Ela pede ajuda à Fundação AIS para os sobreviventes desta “guerra cruel”…

 

Dia 24 de Março vai ficar como um marco no horror em Cabo Delgado. Nessa quarta-feira, a vila de Palma, situada no extremo norte de Moçambique, foi palco de um ataque brutal por parte de terroristas que reclamam estar filiados no Daesh, o Estado Islâmico. A cidade, com cerca de 50 mil habitantes, esvaziou-se face à brutalidade dos jihadistas. Nos dias seguintes, sucederam-se os relatos do terror, de pessoas em fuga, escondidas no mato, com fome e medo. O Padre Kwiriwi Fonseca, responsável pela comunicação da Diocese de Pemba, descrevia à Fundação AIS o “total desespero” das populações, com famílias destroçadas, desconhecendo o paradeiro uns dos outros, com crianças perdidas, um caos absoluto. O Padre Kwiriwi falava em “muita gente à deriva”. “O povo”, dizia esse sacerdote, “clama por socorro”. Desde que começaram os ataques, em Outubro de 2017, calcula-se que terão morrido mais de duas mil pessoas e haverá cerca de 650 mil deslocados. Números que terão agora de ser actualizados com o ataque à vila de Palma.

 

Horror total

Para a Irmã Mónica da Rocha, responsável pela Casa do Imaculado Coração de Maria, em Lichinga, na província de Niassa, a pouco mais de 400 quilómetros de Cabo Delgado, esta é uma realidade que, infelizmente, faz parte já do seu dia-a-dia. Apesar da distância, nesta região nasceu um dos vários campos que acolhem as populações deslocadas. É o campo de Malica. Por lá estão agora cerca de quatro dezenas de famílias distribuídas por tendas. Os relatos que esta religiosa portuguesa natural de Arouca escutou destas famílias são o retrato, com toda a frieza a brutalidade, do que está a acontecer. São descrições de violência extrema. Numa mensagem enviada para Portugal, para a Fundação AIS, a irmã cita o testemunho de alguns dos sobreviventes dos ataques. “Eles entravam em casa de repente e mataram algumas pessoas à nossa frente e depois mandaram-nos embora para contarmos o que tinham feito…”. Num outro relato escutado pela Irmã Mónica, contaram-lhe que os terroristas mandaram as crianças embora e depois “pegaram fogo às pessoas que não fossem muçulmanas e recusassem ser insurgentes… e quem tentava fugir era morto a tiro…”

 

Revolta e impotência
A irmã faz o que pode para o acolhimento destas pessoas que passaram por uma experiência absolutamente desumana. A Irmã Mónica pertence à Congregação das Irmãs Reparadoras de Nossa Senhora de Fátima, cuja missão inclui neste momento apenas duas irmãs e quatro jovens aspirantes. Ela fala desta “guerra cruel” em Cabo Delgado como sendo “um filme de terror” e mostra a sua indignação pela incapacidade de as autoridades defenderem as populações. “Sinto revolta e impotência perante esta realidade. Revolta porque considero que já há muito se poderia ter acabado com esta guerra tão cruel e sem sentido, a começar pelo próprio governo que internamente se mantém em silêncio e passa uma mensagem ao povo de que tudo está bem e sob controlo.” Todos os deslocados que vão parar ali, à província de Niassa, precisam de ajuda para tudo. São pessoas sem nada, desorientadas, que estão longe das terras onde sempre habitaram, que transportam consigo uma memória feita de horror e morte. E a irmã pede ajuda. Pede a nossa ajuda.

 

Campanha de solidariedade

Na carta que enviou para Portugal, Mónica da Rocha explica que já lançou, entretanto, uma campanha de solidariedade para com os deslocados de Cabo Delgado, campanha que está já a ter algum eco em Portugal. As necessidades são muitas. “Desde roupa, calçado e lenha, que é um bem essencial para cozinhar, até à alimentação básica que é composta por farinha, arroz, massa, feijão, verduras, óleo, sal, açúcar…” A irmã pede ajuda para estas famílias que ficaram sem nada, vítimas da violência terrorista. A todos os que “poderem ajudar”, diz a Irmã Mónica Moreira da Rocha, que o façam “através da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) ou da minha Congregação das Irmãs Reparadoras de Nossa Senhora de Fátima”. “Em nome deste povo, a minha gratidão…”

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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