Lisboa |
Assembleia Diocesana de Catequistas
“Toda a catequese é um trabalho cultural”
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O Cardeal-Patriarca de Lisboa convidou os catequistas a terem “muito em conta” que “cada um de nós tem uma cultura”, e que “a catequese não acontece fora da cultura”. Na Assembleia Diocesana de Catequistas, que decorreu online, no dia 11 de abril, D. Manuel Clemente refletiu sobre a inculturação da fé e deixou pistas para “uma catequese inculturada”.

 

Na conferência ‘Catequese e evangelização, a inculturação da fé’, o Cardeal-Patriarca começou por se socorrer do capítulo 11 do ‘Diretório para a Catequese’ para sublinhar que “cada um de nós tem uma cultura”. “Inculturação quer dizer que cada um de nós transporta uma cultura, que tem a ver com o local onde nascemos, a língua que falamos, as ideias que nos foram transmitidas. Temos de ter isto muito em conta na catequese. Se a catequese é o eco de tudo quanto Jesus disse e fez, então temos que perceber que isso não acontece fora da cultura, da própria cultura em que Jesus foi criado e que Jesus transmite”, manifestou, neste encontro online organizado pelo Sector da Catequese de Lisboa, lembrando aos catequistas que, “na nossa Diocese de Lisboa, coabitam cerca de 100 nacionalidades, vindas de toda a parte do mundo”. “Por isso, temos que ter em conta que, nas nossas catequeses, numa paróquia da nossa diocese, na cidade de Lisboa, mas também até Alcobaça, nós encontramos pessoas de culturas muito diferentes”, reforçou D. Manuel Clemente, destacando que “também Jesus se adaptava à cultura daquele povo”. “Para transmitir as verdades mais profundas acerca de Deus, acerca da misericórdia divina, acerca do outro como próximo, Cristo não fala de maneira abstrata, fala com palavras, com ideias, com imagens que toda a gente compreendia: as suas famosas parábolas”, observou.

 

Fazer da catequese uma ação cultural

Nesta Assembleia Diocesana de Catequistas, que contou com mais de 500 inscritos, o Cardeal-Patriarca salientou que os catequistas precisam de “ter em conta” a quem se dirige a catequese. “Toda a nossa linguagem é cultural, só que estamos a transmitir o que Jesus Cristo nos trouxe – e a sua própria Pessoa – a pessoas que também têm sensibilidades, quadros mentais, experiências coletivas, oriundas de povos diversos. Portanto, tudo muito diferente. Temos que ter isso em conta. Por isso, toda a evangelização, e a catequese, é um trabalho cultural. Temos que ter aquela atenção que Jesus tinha aos seus auditórios”, apontou, dando ainda “o exemplo de São Paulo, que se adaptava ao auditório” e “fazia da sua catequese uma ação cultural”.

Neste sentido, e lendo o número 394 do ‘Diretório para a Catequese’, D. Manuel Clemente manifestou a importância de se “assimilar o essencial da mensagem evangélica, de a transpor, sem a mínima traição à sua verdade essencial, para a linguagem que as pessoas compreendem”. “É isto a inculturação. Transmitir a mensagem evangélica que praticamente é a vida, a morte e ressurreição de Jesus Cristo, o que Ele disse, o que Ele fez e que os Evangelhos guardam, e transmitir isto numa linguagem, com símbolos e com sinalética que as pessoas compreendam, como o próprio Jesus fez, com as parábolas, e como Paulo fez, adaptando-se aos diversos auditórios”, reforçou.

Noutro sentido, o Cardeal-Patriarca não escondeu que “é difícil” a transmissão da fé nas famílias em que “as referências cristãs já não existem”. “Temos pessoas que já não sabem identificar um crucifixo. Temos gerações de algumas famílias que já não são batizadas”, lembrou, referindo que “quando falta esta cultura, que tinha realmente muitas referências cristãs”, é necessário que “a evangelização e a catequese entrem dentro de cada um, para fazer a cultura cristã na cabeça de cada qual”. “Porque já não há apoios de fora”, frisou.

 

Catequese inculturada

Neste encontro online com os catequistas do Patriarcado, e onde participaram também catequistas de outras dioceses, D. Manuel Clemente deixou “quatro indicações”, expressas no número 397 do ‘Diretório para a Catequese’, sobre “como se faz a inculturação”, de forma a conseguir “uma catequese inculturada”. “Primeiro, conhecer a cultura das pessoas, saber quem tenho diante de mim; Depois, reconhecer que o Evangelho também tem uma cultura própria, que se pode inserir nas outras e as enriquecer; A seguir, perceber que o Evangelho converte as culturas, ou seja o Evangelho oferece às culturas a possibilidade de conversão, uma outra maneira de ver a realidade, aquela que Jesus Cristo nos traz; Finalmente, o Evangelho já está nas culturas, mas transcende-as, portanto, o que Jesus Cristo nos traz não é para anular o que vem antes, mas é para lhe dar a sua forma última, ou seja, a própria cultura de Deus, feita cultura humana”, apontou. “Se tivermos estas quatro indicações bem presentes, na maneira como fazemos os nossos atos catequéticos, creio que podemos ganhar muitos frutos”, acrescentou.

A este propósito, para o Cardeal-Patriarca, os catequistas têm de “ir procurando transmitir” a “novidade absoluta que Deus dá em Jesus Cristo” nas “realidades” que vão “encontrando”. “Hoje em dia, a missão ‘ad gentes’ é aqui, na própria Europa. Com gente de tanta parte do mundo a habitar na nossa Diocese de Lisboa, por vezes encontramo-nos diante de pessoas que nunca ouviram falar e não conhecem Jesus Cristo. Trata-se de um primeiro anúncio do Evangelho, às vezes a famílias inteiras. Mas temos agora uma situação diferente, que já não é de primeiro anúncio, e também não é de simples alimentação de uma comunidade cristã: trata-se de ‘soprar nas brasas’, como fazemos às fogueiras quando estão quase a extinguir-se, para o fogo atear. É isso que se chama a nova evangelização, com um novo ardor, com novos métodos, para conseguirmos mais frutos, e com novas expressões, encontrando uma criatividade grande para voltar a apresentar, a gente que já esqueceu, e fazer com que este brasido se torne numa fogueira, o fogo do Evangelho, a luz de Cristo”, desafiou D. Manuel Clemente.

A última palavra do Cardeal-Patriarca para os catequistas foi de agradecimento. “A minha muita gratidão pelo vosso trabalho, porque vocês, minhas amigas e meus amigos, são a primeira frente de um ato evangelizador na nossa diocese”, terminou.

 


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“Alegria pascal tem de passar para todo o ato catequético”

A Assembleia Diocesana de Catequistas terminou com a Oração de Vésperas do Domingo II da Páscoa, que foi transmitida, em direto, da capela do Seminário dos Olivais, e foi presidida pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa. “O tempo pascal é o vosso tempo muito em particular, caríssimos catequistas. O ato catequético outra coisa não é, para crianças, adolescentes, jovens e adultos, que o anúncio do grande querigma, ou seja, da Páscoa de Nosso Senhor Jesus Cristo. Este primeiro anúncio, este anúncio essencial que depois desenvolve no ato catequético, tem de ser repassado pela alegria que nestes dias, mesmo em tempo de pandemia, nos toca a todos, da ressurreição do Senhor. É um tempo muito especial, porque é um tempo novíssimo, que o próprio Deus nos inaugura com a ressurreição de Jesus Cristo. Esta certeza, a alegria pascal, tem de passar para todo o ato catequético”, referiu D. Manuel Clemente.

 

 

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Inculturar a mensagem cristã

O diretor do Sector da Catequese de Lisboa faz, ao Jornal VOZ DA VERDADE, “um balanço positivo” da Assembleia Diocesana de Catequistas, que teve como tema ‘Olhares sobre a pandemia: Releitura da vivência da catequese’, e destaca a necessidade de “inculturar a mensagem cristã” na “nova realidade”. “A nível do Sector da Catequese, pensamos que esta pandemia não é apenas um momento passageiro, em que tudo vai voltar ao normal. Este é um momento onde somos chamados, também, a escutar a realidade e, no fundo, a inculturar a mensagem cristã nesta nova realidade que nos é dada. Daí que também escolhemos como tema de fundo do encontro a inculturação da fé, que significa no fundo a necessidade de a mensagem cristã se adaptar sempre aos contextos e aos destinatários, que neste caso são as pessoas que vivem esta pandemia”, frisou o padre Tiago Neto.

Este responsável sublinha ainda “a participação das pessoas e a diversidade de temas e de pessoas envolvidas na organização” da assembleia, e lembra que, neste encontro online, os catequistas foram os protagonistas, durante os grupos temáticos. “O balanço é positivo, particularmente porque procurámos não apenas fazer o inquérito, mas pôr as pessoas a pensar sobre a realidade que estão a viver. Fazer o exercício de os catequistas não serem apenas os recetores de uma formação, mas que eles fossem protagonistas de um processo crítico de olhar a realidade e poder transformá-la, de alguma forma”, explica. Concretizando, este sacerdote aponta que os catequistas refletiram “sobre a forma como as famílias viveram a fé, a forma como as crianças e os adolescentes participaram neste processo de adaptação da catequese e a forma como os catequistas, nas suas comunidades, procuraram adaptar-se e como veem o seu próprio ministério e a sua relação com a comunidade”.

 

Manter os laços com a comunidade cristã

Sobre os resultados dos inquéritos, que foram apresentados durante a Assembleia Diocesana de Catequistas, o padre Tiago Neto destaca que, “do ponto de vista das famílias, houve um acentuar da dimensão espiritual”. “As famílias conservaram aquilo que era um ambiente de oração e de vida de fé. Por outro lado, as dificuldades maiores apareceram naquilo que foi a orgânica do tecido comunitário, tendo em conta aquilo que é articulação entre os catequistas, o trabalho que vão desenvolvendo e aquilo que é a relação das pessoas com a comunidade cristã. Portanto, a relação com Deus manteve-se, do ponto de vista daquilo que é uma estrutura pessoal ou familiar, mas aquilo que diz respeito à relação comunitária podemos dizer que a fragilidade está mais na parte da criação de laços e da manutenção desses laços – não quer dizer que eles não tenham existido digitalmente, mas de facto podemos dizer que há uma necessidade para construir a comunidade cristã naquilo que é a dimensão mais presencial, que é essencial para a vida da própria comunidade”, deseja o diretor do Sector da Catequese de Lisboa.

 

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Relação com Deus inalterada ou fortalecida

Famílias, catequistas e adolescentes consideram que, no contexto da pandemia, a sua relação com Deus tem-se “mantido inalterada” ou tem-se mesmo “fortalecido”. Na Assembleia Diocesana de Catequistas foram apresentados os resultados de 1400 inquéritos, numa pesquisa realizada em 26 paróquias, envolvendo 558 famílias, 601 adolescentes, 289 catequistas e 19 párocos. “A pandemia não abalou significativamente a fé, pelo contrário, foi um alicerce importante para ajudar as famílias, adolescentes e catequistas a ultrapassarem as dificuldades”, indicam os responsáveis pela leitura desta consulta, sublinhando que os adolescentes (14,2%) são o grupo que se mostra mais “abalado” pelo impacto da covid-19, seguido dos catequistas (13,9%) e famílias (3,6%).

Os dados foram apresentados por uma investigadora da Universidade Católica Portuguesa, Patrícia Dias – que se dedica à relação entre as crianças e as tecnologias digitais e é catequista na Diocese de Setúbal –, que realçou que a catequese presencial é preferida pela maioria das crianças e adolescentes (65,1%), por considerarem importante “o contacto com os pares e com o catequista e por terem mais dificuldades em acompanhar a partir de casa”. Durante os meses de pandemia, 95,2% dos grupos inquiridos no Patriarcado de Lisboa tiveram catequese online.

 

texto por Diogo Paiva Brandão
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