Lisboa |
Dia Diocesano da Saúde
“Um ambiente saudável garante a saúde”
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No Dia Diocesano da Saúde, o Cardeal-Patriarca de Lisboa apelou a uma “sociedade saudável” e enalteceu os contributos abnegados de tantos profissionais e voluntários que contribuíram para essa finalidade. Neste webinar, que decorreu no dia 22 de abril, o diretor da Pastoral da Saúde, padre Fernando Sampaio, a psiquiatra Margarida Neto e a diretora de um centro social paroquial, Helena Presas, apontaram os desafios da Pastoral da Saúde e elegeram a “organização” e “coordenação” como fundamentais para a missão.

 

D. Manuel Clemente, Cardeal-Patriarca de Lisboa

A saúde “é muito mais do que uma realidade apenas física ou mental”

A inaugurar as intervenções do webinar no Dia Diocesano da Saúde, o Cardeal-Patriarca de Lisboa enalteceu os bons exemplos na área da Pastoral da Saúde que, sobretudo durante a pandemia, contribuíram para a existência de uma “sociedade saudável”. “Um ambiente saudável garante a saúde. Ela é muito mais do que uma realidade apenas física ou mental. É por isso que o povo tem razão quando diz que não há doenças, há doentes”, observou D. Manuel Clemente, destacando exemplos de abnegação e de entrega aos outros. “Vejo que tanta gente não desistiu e esteve presente – sobretudo nos lares –, houve tantas iniciativas, algumas com jovens universitários, houve muita coisa que manifestou uma sociedade saudável, contra outros factos que são de uma sociedade com pouca saúde”, constatou.

Na intervenção que teve como tema ‘Pastoral da Saúde: um mandato do Senhor’, o Cardeal-Patriarca apelou ainda à “confiança” e confirmou que é através da entrega aos outros que “correspondemos ao mandato de Cristo e alargamos o seu Reino”. O pedido de Jesus, presente no Evangelho de São Mateus, capítulo 10 (“Proclamai que o Reino do Céu está perto”) reflete-se hoje, no entender de D. Manuel Clemente, na “atenção global a tudo o que são as carências e as necessidades das pessoas, tanto do corpo como do espírito”. “Podíamos traduzi-Lo [Reino de Jesus] por tudo aquilo que acontece, finalmente, com Cristo e à volta de Cristo. Por isso, Ele também disse, referindo-se a Si próprio: O reino de Deus já está no meio de vós”, reforçou o Cardeal-Patriarca, enumerando depois exemplos que comprovam a necessidade de olhar para a Saúde além das necessidades humanas ou físicas. “Quando Jesus diz que anunciar o seu Reino é atender a todas estas necessidades humanas, do corpo ou do espírito, Ele está a dar-nos um sentido muito global da saúde que é aquele em que o seu Reino acontece”, apontou. “E há muita coisa que tem acontecido. Há, sobretudo, o dar uma palavra que não deixa as pessoas ficarem cativas, prisioneiras e tristes, ainda mais com a solidão que a pandemia obrigou”, observou.

 

Padre Fernando Sampaio, diretor da Pastoral da Saúde

Os desafios às comunidades

O diretor da Pastoral da Saúde do Patriarcado de Lisboa, padre Fernando Sampaio, refletiu sobre a “missão e desafios” desta pastoral e enunciou três objetivos para o próximo triénio: “Reforçar de forma qualitativa a presença das capelanias junto das instituições e profissionais da saúde (são a presença da Igreja nos Hospitais); revitalizar a Pastoral da Saúde nas paróquias; e intervir de forma sistemática nas questões da bioética”.

Nesta iniciativa online que pretendeu abordar a ‘Pastoral da Saúde nas comunidades cristãs’, o padre Fernando Sampaio enumerou também os “desafios ao nível das comunidades”. O primeiro, passa pela revitalização desta pastoral nas comunidades cristãs. “Nas paróquias onde já existe uma Pastoral da Saúde organizada, é ocasião para avaliar o que tem sido feito e como tem sido feito, lançar novos projetos e sair para além das fronteiras da comunidade. Nas paróquias com uma pastoral centrada na visita e distribuição da comunhão, é ocasião propícia para passar a uma pastoral centrada na comunidade, organizada, articulada, planeada e coordenada dentro daquilo que é possível, na paróquia”, defendeu o padre Fernando Sampaio.

O segundo desafio passa por “centrar a pastoral na evangelização”. “Tendo a solicitude pelos doentes no centro, o serviço da Pastoral da Saúde tem de se desenvolver como um serviço à saúde integral do ser humano e aberta à salvação” e “a comunidade deve promover uma visão saudável da vida, viver e promover relações saudáveis, promover a prática das virtudes, educar para a saúde, lutar contra as dependências, tomar iniciativas contra a solidão e depressão das pessoas isoladas, promover um envelhecimento saudável”, definiu este sacerdote.

Por último, o terceiro desafio passa por “fomentar uma pastoral de acompanhamento”. “A solicitude pelos doentes não pode reduzir-se a uma visita apressada e rotineira, desenquadrada da vida da comunidade”, sublinhou. “A comunidade que acompanha o doente, se se centra na sua pessoa e suas necessidades (...), fá-lo sentir-se pertença da comunidade, proporciona-lhe uma experiência da comunhão no amor de Deus, dá-lhe o sentimento de ser amado e de ser único, com dignidade e valor”, apontou.

No início da sua intervenção, ao apresentar a Pastoral da Saúde em Portugal, o padre Fernando Sampaio homenageou o trabalho de monsenhor Vítor Feytor Pinto, hoje com 89 anos, que introduziu a Pastoral da Saúde no nosso país, na década de 80.

 

Margarida Neto, psiquiatra

“O trabalho de coordenação é o mais difícil de fazer”

A presidente do núcleo de Lisboa da Associação dos Médicos Católicos Portugueses, a psiquiatra Margarida Neto, partilhou que a associação profissional está a equacionar a criação dos grupos ‘Cristo no Hospital’, à maneira da proposta ‘Cristo na empresa’, da ACEGE. Segundo esta profissional, a iniciativa, que será “proposta às capelanias hospitalares”, pretende proporcionar aos médicos um tempo para “parar, refletir, rezar”. “As capelanias têm de saber ir ao encontro” de todos os profissionais, mesmo os que “não se identifiquem com a vida associativa”, defendeu. “A vinha do Senhor é grande! (...) Há quem integre outros movimentos, grupos de oração, se empenhe na paróquia ou adira a projetos específicos. Toda esta diversidade é riqueza”, assegurou esta médica, que trabalha na Casa de Saúde do Telhal, alertando ainda para mais uma realidade a ter em conta: “Os estudantes católicos estão organizados em núcleos de estudantes católicos (NEC’s) e têm tido um vigor e uma força extraordinária (...). Também eles refletem sobre a fé e saem para a periferia, participando em missões universitárias, em vários pontos do país, onde desenvolvem um trabalho extraordinário, com grande capacidade de evangelização e, até, de conversão. Muitos destes jovens reaproximam-se da Igreja nesta altura, e regressam às suas vidas com desejos de viver de forma diferente. Essas energias podiam ser aproveitadas quer nas capelanias, quer nas paróquias”.

Sobre a Pastoral da Saúde na realidade paroquial, esta profissional alertou para a atenção aos problemas de solidão, que se “apresentam cada vez com mais frequência”, e pediu uma maior coordenação na organização de “todas as atividades na área da saúde”. “Em Portugal, o trabalho de coordenação, de rede e de articulação é o mais difícil de fazer. Não estamos habituados, há demasiados receios do trabalho em conjunto, vícios que temos de ultrapassar. Só em conjunto poderemos chegar mais longe, com as aptidões e especificidades de cada um”, apontou. Na intervenção que teve como tema ‘Contributos dos profissionais para a Pastoral da Saúde na paróquia’, Margarida Neto questionou sobre se “seria possível a criação de mais núcleos paroquiais de Pastoral da Saúde”. “Há muitos profissionais católicos na área da saúde que frequentam a paróquia. Muitas vezes parece que não sabemos canalizar o tempo que as pessoas têm para o voluntariado ou para o trabalho pastoral”, lamentou.

 

Helena Presas, paróquia do Campo Grande

“Quando nos abrimos em rede, saímos mais fortalecidos”

‘Pastoral da Saúde numa paróquia urbana: testemunho’ foi o tema que coube a Helena Presas, da paróquia do Campo Grande, em Lisboa. Atualmente, esta leiga é a diretora executiva do Centro Social Paroquial desta paróquia da cidade e partilhou, neste webinar, a sua experiência ao longo de 30 anos de trabalho pastoral, destacando dois nomes que foram determinantes. O primeiro, o padre João Resina, que a ajudou a “a tornar mais austera e simples a maneira de viver e testemunhar Jesus, aprendendo a ir ao essencial” e, nos últimos 20 anos, na Pastoral da Saúde, o padre Vítor Feytor Pinto. “Uma pessoa muitíssimo preocupada com o método e com a atualização do método para estes tempos, de forma a facilitar o anúncio da mensagem para todos, de forma organizada”, apontou.

Na sua intervenção, Helena Presas começou por apresentar a paróquia como lugar primeiro para fomentar uma “proximidade continuada e regular” entre as pessoas, e apresentou casos práticos em como diferentes realidades da paróquia e outras “estruturas de proximidade” podem, em conjunto, “conseguir promover alguns aspetos de uma saúde holística”.

A “pertença a uma comunidade de relação e de esperança” foi também um dos pontos desenvolvidos por Helena Presas. “Mesmo na pandemia, os telefonemas, os Zoom’s, os WhatsApp’s foram formas de enquadrar, de escutar, de cuidar, e não só das pessoas isoladas, mas também das famílias em teletrabalho, com crianças sem aulas”, precisou. Para esta profissional, é também necessário incentivar o “voluntariado de quem se prepara para se reformar da vida de trabalho”. “Aplicar algumas horas num projeto em prol de outros permite pertença, desenvolvimento de competências, evolução pessoal como cristão e confere satisfação interior, prazer de gozar a vida, ativos na sociedade, conferência de sentido, logo, saúde”, apontou.

Num terceiro ponto, sobre a “organização das redes de partilha de saberes e ações”, Helena Presas pediu maior articulação entre as diferentes realidades da paróquia. “A paróquia é um mundo de diversidade em todos os aspetos e há que articulá-los (...). Quando nos abrimos em rede, saímos todos mais fortalecidos e as pessoas de quem cuidamos saem a ganhar”, garantiu.

 

  

 

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Mais de metade das paróquias não têm núcleos de Pastoral da Saúde, mas existe disponibilidade dos leigos para colaborar

Segundo uma sondagem que decorreu online, durante a realização do webinar do Dia Diocesano da Saúde, dos cerca de 35 inquiridos 54,3% afirma não existir qualquer núcleo de Pastoral da Saúde nas suas paróquias e 28,6% não tem a certeza sobre a sua existência. No entanto, 65,7% afirma ter vontade em colaborar com a Pastoral da Saúde na sua paróquia.

Sobre as capelanias hospitalares, quase 70% dos inquiridos revela já ter recorrido aos serviços de um capelão e à pergunta sobre como teve conhecimento dos serviços do capelão, 35,3% dos inquiridos apontaram a paróquia como a principal fonte e 23,5% diz ter tido conhecimento dos serviços através da própria visita do capelão. Quando questionados sobre o que consideram mais importante nos serviços do capelão, 50% dos inquiridos afirmam ser apenas a “presença”, seguidos de 41,7% que apontam o receber os sacramentos.

texto por Filipe Teixeira
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