DOMINGO DE PENTECOSTES Ano B
“Viram então aparecer uma espécie de línguas de fogo,
que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles.”
Act 2, 3
Confesso a minha paixão pelos jacarandás de Lisboa,
que explodem em flores por esta altura do Pentecostes,
(ainda que alguns, irreverentes, o façam em tempos inesperados…),
e peço desde já perdão por compará-los às línguas de fogo,
do amor que nunca se apaga e da vida que venceu a morte,
poisadas sobre cada um dos amigos de Jesus
naquela primeira Páscoa.
Com que palavras se conta e canta este fogo?
Que não é vermelho nem laranja,
mas roxo, lilás, violeta, púrpura, magenta, anil, carmim e até índigo…
e torna azuis os olhos de quem se deixa incendiar?
Da flor à inflorescência,
das inflorescências à árvore,
de cada uma ao conjunto,
o pouco se torna muito,
e com solenidade e espanto
desce o céu à nossa terra.
Para o entendimento das línguas é preciso o banho da beleza,
olhos que escutam e ouvidos que vêm,
braços e mãos que se estendem,
sorrisos que nenhuma máscara pode ocultar,
todos no mesmo lugar, unidos e tão diferentes,
como uma flor é diferente da outra,
abertos, expectantes, disponíveis.
Viver à pressa é passar ao lado e não ir ter a lugar nenhum.
A subtilíssima explosão dos jacarandás, no Rossio, ao Marquês, na 24 de Julho,
por entre os prédios ou num pequeno jardim,
é surpreendente como o Espírito Santo, a abrasar a alma, a unir contrários,
a acender a luz, a animar e a consolar…e a tudo o mais que nos eleva e desinstala.
Podem as suas flores sujar as ruas, pintalgar os carros e dar trabalho aos varredores,
mas ficar indiferente ao seu grito de que o céu já habita dentro de nós,
é recusar viver de coração ardente. E não é que o roxo também é quente?
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