Lisboa |
Homenagem ao padre José Eduardo Martins, nos 700 anos das Festas do Espírito Santo
A “marca identitária” de Alenquer
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O Cardeal-Patriarca de Lisboa destacou a adesão “total, entusiástica e concreta” do padre José Eduardo Martins para a restauração das Festas do Império do Divino Espírito Santo de Alenquer. Na homenagem ao sacerdote, nas comemorações dos 700 anos destas festas, D. Manuel Clemente sublinhou que “as Festas do Espírito Santo são hoje tão urgentes como foram quando nasceram”.

 

“Desde o primeiro momento, a adesão do padre José Eduardo [para o restauro das Festas do Espírito Santo de Alenquer] foi total e foi entusiástica. Não só foi total e entusiástica, como foi concreta. E depois, com bons amigos de Alenquer, o padre José Eduardo lançou-se para a frente e felizmente, com um grande apoio da Câmara Municipal – que também encontrou aqui uma marca identitária de Alenquer muito forte, como aliás tem sido reconhecido –, conseguiu-se restaurar esta tradição das Festas do Espírito Santo de Alenquer”. Foi este o tom da intervenção do Cardeal-Patriarca de Lisboa na sessão de homenagem póstuma ao padre José Eduardo Martins – pároco de Alenquer durante 36 anos, que faleceu em 2012 –, por ocasião dos 700 anos das Festas do Espírito Santo de Alenquer.

Na Igreja de São Francisco, em Alenquer, na tarde do passado dia 22 de maio, D. Manuel Clemente referiu-se ao padre José Eduardo Martins como “um bom amigo” e assumiu que a restauração das Festas do Espírito Santo de Alenquer era “um sonho” de ambos. “Sem o padre José Eduardo, com aqueles que depois se juntaram, e a Câmara Municipal, com certeza, nós não teríamos esta ressurreição das Festas do Espírito Santo em Alenquer, como felizmente aconteceu”, manifestou. “É muito significativo, não apenas para recordar o passado, mas para criar um melhor futuro. Porque é exatamente a isso – criar um melhor futuro – que se liga a tradição das Festas do Espírito Santo. Elas aparecem numa altura que tem alguma semelhança com a nossa, ou seja, de uma profunda mudança de época e de civilização, aqui no nosso continente europeu”, acrescentou.

 

“Tudo começou daqui”

As Festas do Império do Divino Espírito Santo foram instituídas em Alenquer pela Rainha Santa Isabel e pelo seu marido, o Rei D. Dinis, em 1321. Em 1945, após cerca de 150 anos de interrupção, as festas realizaram-se por uma única vez, até ao seu recente restauro, em 2007. O incentivo, junto do então pároco de Alenquer, partiu de D. Manuel Clemente, então Bispo Auxiliar de Lisboa, quando assumiu o acompanhamento pastoral da região.

Homem da História, o Cardeal-Patriarca de Lisboa referiu, nesta sessão, que estas festas que começaram em Alenquer “ganharam uma enorme expansão”. “Sobretudo do século XIV para o século XV, princípio do século XVI, ganharam uma grande expansão, por todo o lado onde, especialmente, os portugueses chegassem. Aqui, no continente, um pouco por todo lado, mas também, depois, nas ilhas atlânticas, no Brasil, na diáspora portuguesa por esse mundo além, em especial desde o século XIX para os nossos dias. É uma festa que está também muito ligada à diáspora açoriana, mas tudo começou daqui”, lembrou.

Para D. Manuel Clemente, a atualidade destas festas mantém-se a mesma. “As festas do Espírito Santo são algo que hoje é tão urgente como foi quando nasceu, há séculos atrás, naquele final da Idade Média, em que havia um mundo novo a aparecer, grandes contradições a resolver e em que a devoção do Espírito Santo como dom pascal de Cristo para criar um mundo fraterno sobressaiu tanto e encontrou maneiras, naquela altura, com as possibilidades tão escassas que havia de se concretizar”, frisou o Cardeal-Patriarca de Lisboa, sublinhando ser “com muito gosto pessoal, eclesial e cultural” que se associa a esta iniciativa de homenagem ao padre José Eduardo Martins, nos 700 anos das Festas do Espírito Santo de Alenquer. “Vejo, com muito gosto, que aqui, em Alenquer, tudo resultou. Mas tudo resultou, além das colaborações que suscitou, e isto tem sobretudo um nome, uma figura e um coração, que se chama padre José Eduardo Martins”, terminou D. Manuel Clemente.

 

‘Ilustres Alenquerenses’

O padre José Eduardo Martins é a primeira personalidade a figurar na nova coleção ‘Ilustres Alenquerenses’, que foi apresentada, nesta sessão, pelo vereador da Cultura e Património, Rui Costa. “Este projeto municipal tem como objetivo principal colaborar na persecução da missão centrada numa visão ampla da política educativa, nesta visão do acesso à cultura e na valorização da identidade do território, identificando, destacando e divulgando, junto de públicos distintos, personalidades – como o padre José Eduardo Martins – que ao longo da história desempenharam um papel significativo na sociedade alenquerense”, explicou.

Vão ser editadas, pela autarquia, duas publicações distintas: os mini cadernos biográficos, com periodicidade bimensal, a distribuir gratuitamente por todas as crianças do 1.º Ciclo do ensino básico – “para trabalho em sala de aula, de forma transdisciplinar” – e um volume bianual, “com as versões completas das biografias dos ilustres alenquerenses, para memória futura”. “A opção editorial de dedicar o número um desta coleção à pessoa do padre José Eduardo Ferreira Martins parece-nos, nesta altura, séria, justa e muito feliz”, terminou o vereador.

 

Defensor das festas

O presidente da Câmara Municipal de Alenquer marcou presença na homenagem ao padre José Eduardo Martins, tendo destacado, na sua intervenção, que o sacerdote era “um homem de causas e de obras”. “Não devemos – nem tão pouco podemos – reduzir a importância do saudoso padre Zé à sua dimensão confessional e apostólica. O padre Zé foi e será, enquanto a memória coletiva não nos abandonar, um filho carinhosamente adotado pelos alenquerenses. Do alto da sua empatia e caridade, soube deixar bem vincada as marcas da sua bondade e benevolência no coração de todos que com ele tiveram o privilégio de, em alguma fase da sua vida, se cruzar”, salientou Pedro Folgado, sublinhando que, “além de sacerdote e bom pastor, o padre Zé foi professor e pedagogo, defensor do património, amante da história e da arte”. “Foi meu colega na escola secundária, onde nos cruzámos variadíssimas vezes, nos anos 80”, partilhou.

O autarca lembrou ainda que o antigo pároco de Alenquer “não se limitou a sonhar” e “arregaçou as mangas”. “Mobilizou pessoas, angariou fundos e avançou temerário deixando o testemunho da sua dedicação inscrito nas paredes das intervenções que promoveu no edificado religioso local. Hoje, esse património valoriza a nossa terra, o nosso município. É motivo de contemplação e de admiração”, observou.

Pedro Folgado destacou também que o padre José Eduardo Martins era “um grande defensor” das Festas do Espírito Santo de Alenquer. “Se há alguma coisa que ele nos ensinou foi a importância da missão pastoral, da utopia e da necessidade de perpetuar as celebrações que estão na base da nossa identidade judaico-cristã. No fundo, é disso mesmo que se tratam as Festas do Império do Divino Espírito Santo, uma das celebrações mais antigas de Portugal. Foi com ele e com outros que se revitalizaram as celebrações em Alenquer, e foi também com ele que aprendi sobre a importância destas celebrações em e para Alenquer. Nunca fez tanto sentido enaltecer os valores do Império do Divino Espírito Santo como agora”, terminou o presidente da Câmara Municipal de Alenquer.

 

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Padre José Eduardo

Nascido a 22 de agosto de 1934, o padre José Eduardo Martins era natural de Pé de Cão, na freguesia de Olaia, concelho de Torres Novas, e foi pároco das duas paróquias de Alenquer (Santo Estêvão e Triana) durante 36 anos, entre 1975 e 2011. Antes, em 1945, foi admitido no Seminário de Santarém, transferindo-se, depois, para o Seminário de Almada, em 1948, chegando ao Seminário dos Olivais em 1952, onde iria permanecer até à ordenação sacerdotal, em 15 de agosto de 1958. O padre Zé foi coadjutor em Tomar (1958 a 1961) e pároco de Aldeia Galega da Merceana (1961 a 1967) e de Aldeia Gavinha (1961 a 1975), a que se seguiu a chegada a Alenquer. Foi também docente e diretor do Externato Damião de Góis, exerceu funções na Santa Casa da Misericórdia de Alenquer e foi um dos fundadores do Agrupamento de Escuteiros de Alenquer.

O padre José Eduardo faleceu a 8 de setembro de 2012, em Alenquer, aos 78 anos, vítima de cancro nos pulmões, diagnosticado em 2011, na semana em que entregava as paróquias ao sucessor, padre Francisco Ludovino, ainda hoje pároco de Alenquer.

 

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Festas do Espírito Santo de Alenquer vencem prémio

As Festas do Império do Divino Espírito Santo de Alenquer são um dos dez vencedores da 4.ª edição do programa ‘Tradições’ da EDP, de apoio à cultura popular portuguesa. “Através desta iniciativa, a EDP distribuirá um apoio financeiro de 25.000¤ ao município [de Alenquer] para que sejam desenvolvidas iniciativas que contribuam para a preservação e promoção desta tradição que data já 700 anos desde que há registo do seu início”, salienta uma nota de imprensa da autarquia. Este projeto vai viabilizar a realização de um estudo, a publicar em livro, além de um conjunto de reportagens e documentários, a marcar o estado das festas neste século XXI, mas também a organização de workshops sobre a construção de flores e sobre gaita de foles, a criação e desenvolvimento de uma estratégia de comunicação integrada desta marca, e, por último, uma exposição permanente no Museu Municipal.

 

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‘Memórias do Padre José Eduardo Martins’

O átrio dos Paços do Concelho de Alenquer está a receber a exposição fotográfica ‘Memórias do Padre José Eduardo Martins’, que vai ficar patente até dia 31 de maio. A mostra, segundo o município alenquerense, pretende homenagear o sacerdote “por tudo o que deu à nossa terra” e pode ser visitada diariamente, até às 18h00.

Informações: http://alenquerterradoespiritosanto.pt

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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