O Papa Francisco, com a exortação apostólica ‘Evangelii Gaudium’, tornou muito presente a expressão ‘sair para fora’. Bem sabemos que o verbo sair e a própria atitude da saída são uma redundância, quando dizemos “para fora”, mas claramente o Santo Padre convida-nos a sair fora de portas das igrejas, das sacristias, dos nossos ambientes habituais, para ir ao encontro dos que estão mais distantes. Precisamos ir ao encontro das denominadas periferias, como inclusive nos foi proposto no programa pastoral na nossa diocese, no caminho que temos vindo a fazer de receção à Constituição Sinodal de Lisboa.

No entanto, nestes tempos que vivemos, com todo este contexto da pandemia que tanto nos tem afetado, e fez afastar tantos das igrejas e das celebrações, tenho-me questionado se a periferia não será, agora, cá dentro. Podemos pensar e continuar a insistir em querer chegar aos que estão mais longe, mas não podemos deixar de lado os que se foram afastando, ficaram distantes e ainda permanecem longe.

Vamos percebendo que, para muitos, a Missa presencial pode ter-se tornado algo de menos importante. Em tempo de confinamento, a solução das transmissões online e televisivas foi a forma encontrada para cada comunidade chegar junto dos seus, e poder, até, chegar mais longe, e isso foi muito importante. Porém, do que vamos percebendo, o distanciamento foi, para muitos, total e esses são convidados a regressar a ‘casa’.

Em muitos lugares, continuam-se a fazer transmissões online para permanecer junto dos que não podem mesmo sair de casa, e assim poderem estar em contacto com as suas comunidades locais. Essa presença é importante e a pandemia veio proporcionar essa possibilidade pela forma como obrigou a uma certa agilidade para que isso acontecesse. Os números estatísticos de visualizações apontam, nesta altura, para um decréscimo, o que pode significar que já não são muitos a servir-se desses meios telemáticos para a sua prática cristã, e por isso fica a pergunta: onde estão os restantes? Será a periferia, agora, cá dentro?

Editorial, pelo P. Nuno Rosário Fernandes, diretor

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