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À procura da Palavra
A felicidade difícil
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DOMINGO XXIV COMUM Ano B

“[Jesus] começou a ensinar-lhes

que o Filho do homem tinha de sofrer muito.”

Mc 8, 31

 

O título do artigo era interpelativo: “Positividade tóxica: ‘Não há tempo para o amigo triste’”. E começava assim: “O mundo perfeito onde só há felicidade e toda a gente é saudável, equilibrada e passa férias em locais paradisíacos com os filhos, giríssimos, que nunca fazem birras, existe e está ao alcance do seu polegar.” O artigo de Rui Gustavo no Expresso de 27 de agosto dava conta do perigo de se propagar nas redes sociais a ideia de que “a felicidade é o único sentimento admissível”, conduzindo a uma repressão e ocultação de emoções naturais como a tristeza, a ansiedade, o medo. A realidade ilusória propagada aumenta a comparação social que “é uma fonte de mal-estar psicológico”, refere Teresa Espassandim, psicóloga, acrescentando: “Nas redes sociais toda a gente pode publicar. É mais fácil a identificação. São iguais a mim e estão melhores do que eu.”

 

O encontro com as contrariedades e os sofrimentos é natural; a vida “não é um mar de rosas”, e “mesmo as rosas têm espinhos”, já ouvimos dizer. Crescer é enfrentar dificuldades, experimentar sentimentos, que não são positivos ou negativos (pois o que fazemos com eles depois de os assumir é que é significativo), abrirmo-nos à ajuda de outros, e descobrir que a fé não é “varinha de condão” que afasta o difícil mas convida a viver tudo com Jesus Cristo, “Deus connosco”.

 

A pergunta que Jesus fez aos discípulos “quem dizeis que Eu sou?” é única em toda a Escritura. É feita a meio do evangelho e obtém de Pedro uma resposta de 20 valores. Na teoria, claro, pois o silêncio que Jesus lhes impôs irá revelar que a imagem de Messias que tinham não é a realidade que Jesus veio assumir. A ideia de que o Reino de Deus sobre a terra havia de impor-se pela força, pelos prodígios e sinais que iriam convencer todos da grandeza e do poder de Jesus não é o caminho de amor e serviço do seu messianismo. Eles sabiam “a fórmula de fé”, mas tinham uma imagem distorcida de Deus e do seu projecto de salvação. Anunciando-lhes o sofrimento, a rejeição, e a morte Jesus desmoronou as ideias de sucesso, triunfo e “felicidade fácil”. Nem prestaram atenção ao anúncio de ressurreição! O amor e o serviço, a vida que se dá para que se multiplique implica descentrarmo-nos, deixarmos de pensar unicamente em nós, tomar a cruz, o sinal “mais” do amor total, e seguir Jesus, isto é partilhar a sua escolha. O que sentiram os discípulos? Desilusão? Sim. Medo? Certamente. Surpresa? Claro. Mas seguiram Jesus, e, mesmo com todo o drama da paixão, da negação de Pedro, do medo e da fuga, aprenderam a dar a vida como Ele!

 

Fica-me uma pergunta: “quem digo que sou eu?” ao “publicar” constantemente na janela de um écran as imagens que, presumivelmente, me revelam? E “quem sou eu?” ao “ver” o que outros publicam, numa dependência que quase me impede de ter tempo para a minha vida? São extremas as situações e interpelam-me primeiramente a mim próprio. Não são maléficas as redes sociais, mas será saudável a dependência delas? Somos muito mais do que qualquer imagem possa transmitir!

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