Lisboa |
Padre Vítor Feytor Pinto (1932-2021)
“No coração do nosso padre Vítor cabia toda a gente”
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O Cardeal-Patriarca de Lisboa considera que o padre Vítor Feytor Pinto representou, “de uma maneira ímpar”, o “espírito da ‘Gaudium et spes, luctus et angor’ na sociedade portuguesa”. D. Manuel Clemente recordou a vida e obra do “fantástico padre Vítor”.

 

Um “aderente completo” à “doutrina e mensagem do Concílio Vaticano II”. Foi desta forma que o Cardeal-Patriarca de Lisboa recordou o padre Vítor Feytor Pinto, falecido a 6 de outubro, aos 89 anos. “O padre Vítor viveu intensamente, como jovem sacerdote, essa grande oferta de Deus à Igreja, e pela Igreja à humanidade, que foi o Concílio Vaticano II. O concílio correspondeu de uma maneira formidável, fantástica – palavras que o padre Vítor tanto gostava! –, àquilo que ia no coração de tanta gente dessa altura. O padre Vítor viveu-as de uma maneira muito intensa, aliás ligado a um dos movimentos que depois mais difundiu o essencial da mensagem, o Movimento por um Mundo Melhor”, observou D. Manuel Clemente, na Missa exequial, no passado dia 7 de outubro.

Na Igreja do Campo Grande, e na presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o Cardeal-Patriarca destacou que o padre Vítor Feytor Pinto “repartiu esta mensagem conciliar pelos diversos locais, movimentos, organizações a que aderiu ou que ele próprio ajudou a fundar”. “O padre Vítor representou esse espírito da ‘Gaudium et spes, luctus et angor’ na sociedade portuguesa de uma maneira ímpar. Não conheço ninguém que, durante tanto tempo, em tantos horizontes, em tantas fronteiras da vida e com tanta expansão, representasse e divulgasse esta magnífica, fantástica, mensagem do Concílio Vaticano II, e concretamente da ‘Gaudium et spes, luctus et angor’: ‘as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos nossos contemporâneos são as alegrias e de esperança, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo’. Magnífica mensagem e tão bem realizada”, apontou.

 

“Bem-aventurança garantida”

D. Manuel Clemente tinha começado a homilia por salientar que “foi na família que o padre Vítor herdou a fé cristã”, que “depois sempre o acalentou durante toda a sua vida” e “com que ele acalentou tanta gente que se aproximou dele ou de quem ele se aproximou”.

Segundo o Cardeal-Patriarca, a “certeza” da “bem-aventurança garantida” foi “muito bem vivida e convivida pelo nosso padre Vítor”. “A certeza de que, viesse o que viesse, e em qualquer circunstância que fosse, há um final feliz à nossa espera, e por ele mesmo temos de nos guiar quando outros sinais de esperança vão desaparecendo. Tem sido muito relatada aquela frase dele: ‘Até à morte, é a natureza; depois, fala a ternura de Deus’. Quando dizia isto, era levado por esta convicção”, partilhou.

No final, D. Manuel Clemente agradeceu “a todas as comunidades que acompanharam” o padre Vítor Feytor Pinto, “todos os grupos e redes”, em particular, “nas últimas décadas, a paróquia do Campo Grande. “Campo Grande que ele ainda fez maior”, frisou. “No coração do nosso padre Vítor cabia toda a gente. Obrigado, caríssimo padre Vítor!”, terminou o Cardeal-Patriarca, perante o aplauso da assembleia.

 

“Amar a Deus sobre todas as coisas”

Na Missa exequial, Pedro Feytor Pinto, irmão do padre Vítor, agradeceu a Deus a vida do sacerdote. “Ontem à noite, na magnífica velada que o senhor prior organizou, foi como se fosse um Te Deum pela sorte que tivemos de ter crescido com ele, de ter vivido com ele e de ter sofrido com ele. Agradecemos a Deus a sorte que tivemos quando vimos o Vítor – perdoem-me não dizer o padre Vítor – deitado no chão frio das lajes da Sé da Guarda a receber o sacramento da Ordem”, recordou.

Pedro Feytor Pinto destacou depois a “educação católica profundamente marcada” que receberam dos pais. “Para além das orações comuns que se faziam antes e depois das refeições, ensinaram-nos que o principal mandamento era amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. O Vítor foi a quintessência do amor a nós, à sua família, aos seus amigos, aos seus paroquianos”, apontou o familiar, não esquecendo as “pegas” que tinha com o irmão mais velho: “A mãe promovia essas pegas para nos estimular”, disse, perante os sorrisos da assembleia. “Às vezes éramos duros um com o outro, mas o amor permanecia sempre!”, assegurou Pedro Feytor Pinto, irmão do padre Vítor.

 

“Mestre pela palavra e pelo exemplo”

O Presidente da República considera que, com a morte do padre Vítor Feytor Pinto, “desaparece uma das figuras mais importantes da Igreja Católica Portuguesa nos últimos cinquenta anos”. “E, certamente, das mais presentes em movimentos de jovens, de famílias, de comunidades sociais as mais diversas, e das mais sensíveis a todos os grandes problemas da sociedade portuguesa, da educação à saúde, da solidariedade social às migrações, da inclusão ao mundo do trabalho”, escreveu Marcelo Rebelo de Sousa, numa nota no site da Presidência.

O chefe de Estado sublinhou ainda que o padre Vítor “não precisou sequer de pertencer à Hierarquia para ter influência decisiva em momentos essenciais da afirmação da mensagem cristã, com uma constante visão de serviço e de futuro, ou para ajudar a estabelecer diálogos ecuménicos e a aplanar caminhos em paróquias, dioceses e plataformas de partilha, em momentos cruciais da vida comunitária, desde os anos 70”. “O Presidente da República homenageia ainda o Homem, o Mestre pela palavra e pelo exemplo, o Cidadão, o Português, apresenta os seus mais emocionados sentimentos aos seus familiares e recorda, em particular, uma muito antiga amizade, que os anos mais recentes tornaram ainda mais forte, com o acompanhamento próximo da via crucis, feita de amor à vida e de capacidade de resistir e de se reinventar, que o Padre Vítor Feytor Pinto demonstrou até ao último minuto da sua presença entre nós”, termina o texto de Marcelo Rebelo de Sousa.

 

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“Muito obrigado, padre Vítor”

Na Missa de Corpo Presente, no pós-comunhão, a leiga Helena Presas, em nome da comunidade paroquial do Campo Grande, recordou o antigo pároco, que marcou gerações. “Temos saudade e sentimos a falta da presença; mas temos também, na nossa memória, ou, mais do que isso, gravados no nosso ADN e integrados nas nossas vidas, os ensinamentos do padre Vítor e o seu testemunho de enorme evangelizador”, destacou, lembrando que o sacerdote “era um padre feliz, que afirmava muitas vezes o seu gosto por ter sido escolhido por Deus”. “Tinha muita consciência de ser amado por Deus e dos dons que Ele lhe tinha dado para colocar ao serviço do anúncio de Jesus”, frisou.

Helena Presas observou ainda que o padre Vítor Feytor Pinto “era apaixonado pela Palavra de Deus”, da qual “falava com entusiasmo”, e era também um “comunicador por excelência, mestre na adequação ao povo que tinha na frente, pelo qual tinha o maior respeito”. “Pessoa de consensos, tecedor de pontes, lembrava-nos muitas vezes que as pontes servem para ser pisadas, por aqueles que querem unir margens. Não suportava os confrontos entre as pessoas, exercendo a sua mediação até atingir algum compromisso. O seu sentido de humor era inigualável, e muitos risos provocou quer em núcleos pequenos, quer em assembleias de qualquer tamanho e em qualquer língua. Dava gosto vê-lo rir com os seus olhos iluminados e transmitindo uma enorme alegria”, recordou, apontando de seguida que o sacerdote era “discípulo do Vaticano II e do enorme esforço de atualização da Igreja no mundo”. “Rodeava-se de leigos aos quais pedia um esforço e um compromisso de organização, para a concretização de projetos para o bem comum”, assinalou a leiga da paróquia do Campo Grande, não esquecendo igualmente a “profecia da Pastoral da Saúde”. “Profecia, porque ninguém falava dos cuidadores e o termo ‘cuidado da pessoa na sua dimensão holística’ foi muito introduzido por ele”, lembrou.

No Campo Grande, o padre Vítor “fez questão de que o Centro Social partilhasse o mesmo espaço das catequeses, grupos vários de evangelização ou liturgia”. “Parecia-lhe importante que este ‘acotovelar-se’ permanente suscitasse o diálogo tão importante para a permanente conversão da vida social. Foi assim que o nosso Centro Social se tornou verdadeiramente Paroquial”, garantiu Helena Presas. “Era assim esta pessoa que parte para o Pai e que nos deixa as sementes da Vida em Deus que queremos continuar a desenvolver, em sua memória. Em nome de todos os paroquianos, muito obrigado padre Vítor”, terminou a leiga da paróquia do Campo Grande.

 

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Parlamento aprova voto de pesar

A Assembleia da República expressou “o seu profundo pesar pelo falecimento do padre Vítor Feytor Pinto” e aprovou, por unanimidade, um voto de pesar. A nota enaltece a “dimensão humana” do sacerdote, “figura de proa da Igreja Católica em Portugal”, que “deixa um importante legado pelo seu envolvimento em questões relacionadas com a saúde e a sociedade civil”. “O modo como nunca permitiu que a sua erudição o impedisse de ser humilde, que as suas responsabilidades o impedissem de ter tempo para os que mais precisavam da sua palavra amiga, são testemunhos da grandeza do seu espírito”, salienta o voto.

 

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“Neste dia em que o Padre Vítor Feytor Pinto partiu, aos 89 anos de idade, para a eterna comunhão junto de Deus, a Conferência Episcopal manifesta a sua oração solidária e memória agradecida pelo que o Padre Vítor foi entre nós e continuará a ser agora como nosso intercessor junto do Pai. (…) O Padre Vítor foi um profundo conhecedor do espírito renovador do Concílio Vaticano II, divulgando os seus documentos com persistente entusiasmo e assertiva comunicação.”

Conferência Episcopal Portuguesa

 

“Era um homem muito comprometido na realidade social. A sociedade estava-lhe na alma. É verdade que ele quis chegar à sociedade com a diferença do Evangelho e da Igreja, e conseguiu. Pela linguagem que usava, pela forma como estava dentro dos assuntos, ele marcou profundamente as realidades sociais.”

Bispo da Guarda, D. Manuel Felício

 

“No seu mandato como Conselheiro do CNECV, o Monsenhor Vítor Feytor Pinto teve uma contribuição sempre pronta e generosa, em todos os trabalhos e pareceres. A hospitalidade, a abertura ao mundo e à mudança, o olhar de acolhimento e sabedoria, ofereceram sempre uma reflexão bioética através da doença, do sofrimento e da saúde, uma reflexão sobre as pessoas, sob o signo da inclusão, e como ‘a vida é sempre um valor’.”

Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida

 

“Na sua fragilidade, emergia o grande rasgo pastoral, inovador para o seu tempo, que brilhou não só na Igreja de Lisboa, na Igreja em Portugal, mas também na Pastoral da Saúde no mundo inteiro. O padre Vítor foi sempre um homem de grande resistência e também na sua doença muito arrastada foi um homem de grande vigor. Viveu a doença como ensinou.”

Coordenador nacional da Pastoral da Saúde, padre José Manuel Pereira de Almeida

 

“Figura sempre próxima, disponível e presente, o padre Vítor Feytor Pinto deixou a sua marca pessoal e de pastor na AMCP, associação que serviu com zelo e dedicação desde inícios da década de 80 do século XX, em certo tempo como assistente espiritual nacional e nos anos mais recentes como assistente espiritual do Núcleo Diocesano de Lisboa.”

Associação dos Médicos Católicos Portugueses

 

“Monsenhor Vítor Feytor Pinto. Padre Vítor! Um lutador que nos mostrou o quanto a vida é um dom que devemos celebrar. Um testemunho de entrega e de liberdade!”

Cáritas Portuguesa

 

“A ACEGE homenageia o Pe. Vítor Feytor Pinto, pelo seu testemunho de Fé e por tanto que fez ao longo da sua vida em favor dos outros e de intervenção na sociedade. Que cada um de nós aprenda com ele a também estar presente e tornar presente o Amor de Deus na terra e nas nossas organizações.”

ACEGE | Associação Cristã de Empresários e Gestores

 

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Fotografias da celebração das exéquias do padre Vítor Feytor Pinto em www.flickr.com/patriarcadodelisboa/albums

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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