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Roma
“Estar aberto ao Senhor, não ter medo do Senhor”
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O Papa Francisco agradeceu “a lição” de “liberdade” de um menino. Na semana em que falou de doentes, Francisco recordou as vítimas de atentados, desafiou as farmacêuticas a libertar as patentes das vacinas e lembrou que o combate à fome é desafio “inadiável”.

 

1. O Papa aproveitou um momento inesperado na audiência-geral de quarta-feira, 20 de outubro, para elogiar a espontaneidade e a liberdade das crianças. Na Sala Paulo VI, enquanto um sacerdote lia o Evangelho em espanhol, uma criança saiu da plateia e foi ter com Francisco, que sorriu para o rapaz e estendeu as mãos. O menino deu a volta à cadeira e falou com o clérigo que estava a acompanhar Francisco, apontando para a cabeça do Papa, como que pedindo o solidéu branco. Num momento que gerou risos e aplausos entre a multidão, o rapaz foi ter com o padre brasileiro que, entretanto, tinha subido para ler o Evangelho em português e, puxando-o pelo braço, levou-o até junto de Francisco e voltou a pedir o solidéu do Papa. Pouco depois voltou para o seu lugar.

A audiência prosseguiu, com o Papa a aproveitar para falar daquele momento. “Agradeço a este menino pela lição que nos deu a todos. Que o Senhor o ajude na sua limitação, no seu crescimento, porque ele deu este testemunho que veio do seu coração. As crianças não têm um tradutor automático do coração para a vida: o coração continua. Este menino teve a liberdade de se aproximar e se mover como se estivesse em casa”, destacou o Papa, lembrando as palavras de Jesus de que quem não for como uma criança não entrará no Reino do Céu. Francisco elogiou ainda a “coragem de aproximar-se do Senhor, de estar aberto ao Senhor, de não ter medo do Senhor”.

Também neste dia, o Papa Francisco instituiu canonicamente a Conferência Episcopal da Amazónia, fruto do Sínodo especial para a região que decorreu em 2019, anunciou o Vaticano. “O Santo Padre erigiu canonicamente a Conferência Eclesial da Amazónia como pessoa jurídica pública eclesiástica, com o objetivo de promover a ação pastoral comum das circunscrições eclesiásticas do Amazónia e incentivar uma maior inculturação da fé no referido território”, refere uma nota publicada pela Sala de Imprensa da Santa Sé, sublinhando que os estatutos do novo organismo serão submetidos ao Papa, “para a necessária aprovação no final do seu estudo”.

 

2. O Papa convidou a colocar a pessoa doente “à frente da doença”. “Colocar o doente antes da doença é essencial em todos os campos da Medicina; é fundamental para um tratamento que seja verdadeiramente abrangente, verdadeiramente humano”, afirmou o Papa, na audiência aos membros da Fundação Biomédica, da Universidade Campus Biomédico de Roma, a 18 de outubro.

O Papa destacou que esta fundação, “e a saúde católica em geral”, são chamados a “testemunhar com factos” que não existem “vidas indignas ou descartadas”, porque não atendem ao critério do lucro ou às necessidades do lucro. “Toda a estrutura hospitalar, particularmente as de inspiração cristã, deve ser um lugar onde se pratica a cura da pessoa e onde se pode dizer: ‘Aqui não se vê apenas médicos e pacientes, mas pessoas que se acolhem e se ajudam mutuamente, aqui se encontra a terapia da dignidade humana’”, exemplificou.

 

3. O Papa Francisco recordou as vítimas dos atentados terroristas dos últimos dias. “Ao longo da última semana houve vários atentados, por exemplo Noruega, Afeganistão e Inglaterra que provocaram muitos mortos e feridos”, lamentou o Papa, na oração do Angelus, no passado Domingo, 17 de outubro. “Exprimo a minha proximidade aos familiares das vítimas e peço que se abandone o caminho da violência, que é sempre um caminho perdedor e representa uma derrota para todos. Não nos esqueçamos que a violência gera a violência”, lembrou.

 

4. O Papa pediu que as farmacêuticas libertem as patentes das vacinas, de forma a ajudar as populações dos países mais pobres. “Peço aos grandes laboratórios que libertem as patentes. Tenham um gesto de humanidade e permitam que cada país, cada povo, cada ser humano tenha acesso às vacinas. Há países em que apenas três, quatro por cento dos habitantes foram vacinados”, referiu Francisco, numa mensagem-vídeo para o IV Encontro Mundial dos Movimentos Populares, promovido online pelo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral.

Num discurso de cerca de 40 minutos, em espanhol, Francisco apelou ao perdão das dívidas. “Quero pedir em nome de Deus aos grupos financeiros e organismos internacionais de crédito que permitam aos países pobres garantir as necessidades básicas da sua população”. Às grandes empresas alimentares, o Papa criticou as “estruturas monopolistas de produção e distribuição que inflacionam os preços”. Aos “gigantes da tecnologia”, o Papa exortou a que “deixem de explorar a fragilidade humana, as vulnerabilidades das pessoas, para obter lucros, sem ter em conta como aumentam os discursos de ódio, as ‘fake news’, as teorias da conspiração, a manipulação política”.

O Papa manifestou ainda o seu apoio à criação de um salário universal e à redução do horário de trabalho. “Um rendimento básico (o RBU) ou salário universal para que cada pessoa neste mundo possa aceder aos bens mais elementares da vida. É justo lutar por uma distribuição humana destes recursos”, indicou, acrescentando que “não pode haver tantas pessoas oprimidas pelo excesso de trabalho e tantas outras oprimidas pela falta de trabalho”.

 

5. Numa mensagem à Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), o Papa lembrou que o combate à fome é um desafio “inadiável”, alertando para o impacto da pandemia nas populações mais pobres. “A luta contra a fome exige que se supere a fria lógica do mercado, centrada avidamente no mero benefício económico e na redução dos alimentos a mais uma mercadoria, promovendo a lógica da solidariedade”, escreveu Francisco, numa mensagem ao diretor-geral da FAO, Qu Dongyu, por ocasião da cerimónia que assinala o Dia Mundial da Alimentação (16 de outubro).

No texto, divulgado pela Sala de Imprensa da Santa Sé, o Papa apela a uma “mudança de rumo”, no pós-pandemia, para que os sistemas alimentares mundiais possam responder a futuras crises. “O valioso contributo dos pequenos produtores é crucial, devendo ser facilitado o seu acesso à inovação que, aplicada ao setor agroalimentar, pode reforçar a resistência às alterações climáticas, aumentar a produção de alimentos e apoiar quem trabalha na cadeia de valor alimentar”, pode ler-se.

Francisco destacou ainda que a celebração anual do Dia Mundial da Alimentação coloca em destaque “um dos maiores desafios da humanidade, vencer a fome de uma vez por todas”.

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