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Cristãos da Síria não esquecem os Bispos Yohanna Ibrahim e Boulos Yazigi
Memória viva
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A nomeação, em Outubro, de um novo metropolita para a Diocese greco-ortodoxa de Alepo, trouxe para as primeiras páginas dos jornais a história do rapto, em Abril de 2013, dos Bispos Yohanna Ibrahim e Boulos Yazigi. Durante oito longos anos, a sede episcopal esteve vacante, sinal da violência absurda que tomou conta da Síria, um país em guerra há mais de uma década…

 

O Sínodo do Patriarcado Greco-ortodoxo de Antioquia, liderado pelo Patriarca Yohanna X Yazigi, nomeou, em Outubro, o Bispo Efrem Maalouli como o novo metropolita da Arquieparquia Greco-ortodoxa de Alepo e Alexandria. Esta nomeação ganhou particular significado pelo facto de a sede episcopal ter estado vacante durante mais de oito anos, após o desaparecimento de Boulos Yaziji, o metropolitano greco-ortodoxo de Alepo. A história do seu rapto, assim como a do Bispo Yohanna Ibrahim, ainda está por escrever. Sabe-se o dia e o local em que ambos foram raptados. Foi na cidade de Kafr Dael, no 22 de Abril de 2013. Ambos os prelados estavam envolvidos na libertação de dois padres que haviam sido raptados em Fevereiro desse ano. Sobre o que lhes aconteceu nesse dia de Abril pouco se sabe.

 

O ataque no posto de controlo

Ao chegarem a um posto de controlo, o automóvel em que viajavam foi cercado por um grupo de homens armados, possivelmente jihadistas oriundos da Chechénia, que dispararam sobre o veículo. O motorista, um diácono, foi morto com um tiro na cabeça. Sobre os dois bispos nunca mais se soube nada. O desaparecimento de ambos continua a ser um mistério. Ao longo dos anos sucederam-se diversos boatos nunca comprovados sobre o que lhes terá acontecido, tanto mais que o rapto nunca chegou a ser reivindicado por qualquer grupo terrorista. Em Janeiro do ano passado, Mansur Salib, um sírio que vive nos Estados Unidos, promoveu um trabalho de investigação para a reconstrução do que terá sucedido. Segundo o Vatican News, “os dois arcebispos haviam sido raptados e depois mortos por militantes de Nour al-Din al-Zenki, um grupo independente envolvido no conflito sírio, financiado e armado durante o conflito tanto pela Arábia Saudita como pelos Estados Unidos”.

 

Uma armadilha?

Não parecem restar muitas dúvidas de que ambos caíram numa armadilha. Quando saíram da cidade de Alepo, numa viatura de marca Toyota, tanto Yohanna Ibrahim como Boulos Yazigi trajavam à civil, talvez para não atraírem sobre si demasiadas atenções. De qualquer forma, estavam dispostos a negociar a libertação dos dois sacerdotes. O que não se sabe também é se o rapto desses dois padres, o católico arménio Michael Kayyal, e o greco-ortodoxo Maher Mahfouz, já teria sido planeado como “isco” para a captura dos bispos. A investigação, não conclusiva, aponta para a possibilidade de ambos os prelados poderem ter sido torturados e mortos, tendo sido sepultados num lugar ainda desconhecido.

 

Vigílias de oração

A história do que realmente aconteceu aos Bispos Yohanna Ibrahim e Boulos Yazigi poderá estar ainda por esclarecer, mas a verdade é que o povo cristão da Síria não os esqueceu. A memória de ambos tem-se mantido viva, com vigílias de oração, procissões e várias manifestações públicas. A nomeação, agora, de um novo Arcebispo para Alepo, veio avivar também todas as outras histórias das inúmeras vítimas de raptos, da violência brutal que incendiou a Síria desde há uma década. Uma violência que continua a fustigar as pessoas, as famílias, que se vêem agora forçadas a uma quase mendicidade num país onde tudo falta, onde um pedaço de pão na mesa é já quase um luxo. Para a comunidade cristã da Síria, os Bispos Ibrahim e Yazigi serão sempre lembrados como militantes construtores da paz num país que mergulhou nas trevas ao sucumbir a uma das mais brutais guerras dos tempos modernos.

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