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Os 50 anos da morte do beato Tiago Alberione (1884-1971), fundador da Família Paulista
“Um homem muito simples, que aproximava as pessoas”
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Uma religiosa portuguesa e um padre italiano conheceram pessoalmente o padre Tiago Alberione, o fundador da Família Paulista que faleceu há 50 anos. Em testemunhos ao Jornal VOZ DA VERDADE, sublinham a “simplicidade” e a “humildade” do beato italiano.

 

Conheceu o padre Tiago Alberione quando tinha 15 anos, ao entrar no postulantado das Irmãs Discípulas do Divino Mestre, em Alba, Itália. Durante um ano, a irmã Maria Joana Gonçalves contactou semanalmente com o fundador da Família Paulista, que faleceu a 26 de novembro de 1971, há 50 anos. “Era um homem simples”, começa por recordar a religiosa, ao Jornal VOZ DA VERDADE. “Fiz o postulantado em Alba, onde nasceu a congregação, e o nosso fundador, o padre Tiago Alberione, vinha a nossa casa uma vez por semana fazer uma meditação”, contextualiza.

Estávamos no início dos anos 60 do século passado quando esta então jovem de Trás-os-Montes conhece o sacerdote italiano. “Marcou-me muito o primeiro encontro com o padre Alberione. Eu tinha um grande desejo de o encontrar – faz-me lembrar quando encontramos o Papa pela primeira vez… digo isto porque trabalhei no Vaticano durante sete anos! Vivíamos aquela intensidade, porque era a primeira vez que via o fundador. O padre Alberione era uma pessoa muito simples, muito dada, que aproximava as pessoas, perguntava como se chamavam, de onde é que vinham, se eram italianas ou estrangeiras… Ele tinha muita familiaridade connosco, e isso marcou-me muito, porque pensava que ele era uma pessoa a quem nós não pudéssemos chegar; assim, uma pessoa ‘grande’. Afinal, era um homem muito simples”, partilha a irmã Maria Joana.

Os encontros semanais com o padre Alberione, há 60 anos, decorreram durante todo o postulantado, ao longo de um ano. “O que mais guardo destes encontros é precisamente a personalidade e a simplicidade do padre Alberione. As palavras dele calavam em nós. Tudo o que nos dizia era com uma grande convicção, que não podíamos não fazer fruto daquilo que ouvíamos”, assegura a religiosa das Discípulas do Divino Mestre, que pertence a este ramo da Família Paulista há 62 anos.

 

Rezar pela canonização

A formação da irmã Maria Joana para a vida consagrada foi feita em Alba e, depois, em Roma, onde tiveram lugar os primeiros votos desta religiosa, em 1964, e que foram presididos, precisamente, pelo fundador da Família Paulista. “Nessa altura, nós mudávamos de nome. Era obrigatório. E recordo-me muito bem desse momento. Quando ele nos dava o nome novo, e o pronunciava, olhava para a pessoa e dava o sentido do que o nome significava. Isso marcou-me muito, porque a mim deram-me o nome de Joana e eu fiquei assim na dúvida… e o padre Alberione disse-me: ‘É bonito, é bonito!’”, conta. “Éramos 40 noviças e 40 fizeram a profissão, incluindo quatro portuguesas”, acrescenta a religiosa, referindo depois que os seus votos perpétuos já foram feitos em Portugal.

O padre Tiago Alberione foi beatificado em Roma, no dia 27 de abril de 2003, pelo Papa João Paulo II. “Tive a graça de poder participar na celebração. Nessa altura, estava em Lisboa, onde era a responsável da comunidade, e tivemos um encontro de responsáveis de todo mundo na Casa Geral em Roma, que coincidiu com a beatificação do nosso fundador”, frisa.

Hoje com 75 anos, a irmã Maria Joana Gonçalves está novamente, desde há três anos, na comunidade de Lisboa, na Casa Mãe da congregação, em Camarate. “Já aqui tinha estado em outras várias ocasiões, mas também estive no estrangeiro, alguns anos. Vamos para onde nos mandam”, garante. Diariamente, as religiosas rezam pela subida aos altares do beato Tiago Alberione. “Rezamos pela canonização do nosso fundador e imploramos sempre a sua proteção. Temos a imagem dele na entrada da casa e, qualquer coisa, dizemos sempre ao beato Alberione que nos ajude, que nos acompanhe. Sempre, sempre”, testemunha a religiosa portuguesa, que conheceu o padre Alberione quando tinha 15 anos.

 

Modelo de humildade

O padre italiano Mario Conti partilha, ao Jornal VOZ DA VERDADE, a sua experiência de contacto com o beato Alberione e recorda uma história em particular. “Certo dia, um bispo chegou à nossa casa para levar um jovem ao seminário e queria muito encontrar o padre Alberione. O superior da casa chamou-o e, quando se encontraram, o bispo dirigiu-se ao fundador com muita solenidade, exaltando-o: ‘O senhor é uma pessoa muito importante!’ Diante desta atitude, o padre Alberione, pela sua forma humilde de ser, quase fugiu; e, com muita simplicidade, ajoelhou-se, beijou a mão do bispo e disse: ‘Sou eu quem deve agradecer, porque nos trouxe um jovem’. Nós estávamos ali, a ver esta sua atitude de profunda humildade”, testemunha.

Sacerdote com 74 anos, o padre Mario Conti é atualmente superior numa comunidade paulista na ilha da Sardenha, em Itália, mas já foi animador vocacional, mestre de noviços em noviciado internacional, pároco em Roma e provincial da Província italiana do Instituto Missionário Sociedade de São Paulo. É com saudade que recorda a sua entrada na congregação religiosa, em 1966, então com 19 anos, no seminário em Albano Laziale, uma cidade às portas de Roma, próximo do lugar onde o Vaticano tem a conhecida casa de férias de Castegandolfo. “Este seminário tinha sido desejado pelo padre Alberione para as vocações juvenis”, lembra, acentuando que naquele mesmo lugar tinha começado há pouco tempo o apostolado dos discos. “Entrei numa realidade viva da difusão dos discos. Fazíamos nós próprios a gravação dos discos sobre assuntos relacionados com a religião, conferências de padres e bispos e, depois no Natal, o padre Alberione quis que fizéssemos a difusão de canções de Natal”, explica este religioso.

O padre Tiago Alberione, apesar da sua idade já avançada, não deixava de acompanhar os rapazes que se dispunham a entregar à vida religiosa consagrada na congregação que fundou, preocupando-se com a sua formação, sobretudo a espiritual. “Em cada quarta-feira, ele vinha ao nosso encontro para nos fazer uma meditação. Gostava muito que nós, jovens, nos empenhássemos em aproximar-nos da Palavra de Deus. Oferecia, a todos, a Bíblia e queria que todos aprendêssemos a meditar a Palavra de Deus”, frisa.

Caracterizando o beato italiano como um homem simples, humilde e próximo, o padre Mario Conti destaca, ainda, a “sua grande e profunda capacidade de comunicar o seu profundo amor a Jesus Divino Mestre, a São Paulo e à Rainha dos Apóstolos”, as três dimensões presentes na espiritualidade da Família Paulista. E sobre a relação com Maria, destaca algumas palavras que ouviu do fundador: “Diante de todas as dificuldades que terás recorda-te que deves olhar sempre para a Virgem Maria, Rainha dos Apóstolos, que te ajudará no teu caminho vocacional”, lembra.

 

Levar o Evangelho ao coração das almas

O carisma da evangelização pelos meios de comunicação foi uma inspiração do jovem padre Tiago Alberione na noite de viragem do século XIX para o século XX, e que o levou a fundar a primeira de dez congregações e institutos seculares no ano de 1914. No entanto, este é um carisma que se mantém, hoje, “mais do que nunca, atual”, salienta o padre Mario Conti. “Se o padre Alberione vivesse hoje teria pedido para nos interessarmos pelos novos meios de comunicação, sobretudo a internet e todos os outros, pelo seu desejo de que a Palavra de Deus chegasse a todas as pessoas. Hoje, mais do que nunca, precisamos de estar na cultura da comunicação e ter a capacidade de aproximar as pessoas”, comenta.

As dificuldades na evangelização nos tempos de hoje já eram preocupação assumida pelo fundador da Família Paulista, que manifestava uma visão alargada da realidade. Em 1933, refere o padre Mário Conti, “num encontro com sacerdotes, o padre Alberione afirmou: ‘As pessoas não vão mais à Missa, as igrejas esvaziam-se, por isso é preciso ir ao encontro das pessoas e levar-lhes a Palavra do Evangelho; para que o Evangelho, a Palavra de Deus e do Divino Mestre possa chegar ao coração das almas’.”

 

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O “púlpito retumbante e eficaz” do padre Alberione “na evangelização dos povos”

A Família Paulista em Portugal assinalou os 50 anos do falecimento do beato Tiago Alberione na tarde do passado dia 26 de novembro, data da morte e da festa litúrgica do seu fundador. Na Capela Jesus Mestre, na Apelação, a Missa foi presidida pelo padre Tiago Melo, diretor editorial da Paulus Editora. “O beato Tiago Alberione dedicou cada fibra do seu frágil corpo ao anúncio da Palavra, utilizando os meios mais eficazes no seu tempo. Homem que descobriu a comunicação social – antigamente conhecida como os meios de massa – como um púlpito retumbante e eficaz na evangelização dos povos”, salientou o sacerdote brasileiro.

A celebração foi concelebrada pelo superior regional dos Paulistas em Portugal, o padre colombiano Fávio Marín, e contou com a presença de membros religiosos e laicais dos vários ramos da Família Paulista, com o padre Tiago Melo a lembrar ainda “a grande crise que a Igreja estava a sofrer em pleno século XIX”, com “o modernismo, uma corrente interna e externa que tentava reinterpretar a doutrina da Igreja e a sua forma de agir no mundo”. “O padre Alberione viu que esses meios eficazes que o próprio modernismo utilizava, se utilizados para evangelizar alcançariam novas pessoas, novas almas”, observou.

 

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Papa convida Paulistas a comunicar o Evangelho com “paixão”

O Papa Francisco recebeu em audiência o superior-geral da Sociedade de São Paulo, o padre brasileiro Valdir José de Castro, e destacou que o beato Alberione tinha uma “paixão pelo Evangelho”. “Destaco isto, porque o Evangelho sem paixão não pode ser vivido. O Evangelho só com palavras não funciona: o Evangelho vem do coração. E é justamente a paixão pelo Evangelho que brilha nas incontáveis iniciativas apostólicas” do bem-aventurado italiano, observou Francisco.

Este encontro no Vaticano teve lugar no passado dia 25 de novembro, véspera da memória litúrgica do padre Alberione. A data, segundo o Papa, é a ocasião propícia para fazer memória das “grandes coisas operadas pelo Espírito Santo no beato Alberione e, através dele, para reafirmar a importância do seu carisma no contexto atual, na perspetiva da nova evangelização”. Neste sentido, o Papa agradeceu à Família Paulista o empenho na evangelização através dos meios de comunicação. “Também vocês escolheram os meios de comunicação como púlpito, para que – como dizia o padre Alberione com frequência – se possa mostrar Jesus Cristo aos homens do nosso tempo com os meios do nosso tempo”, salientou.

No final, Francisco recomendou à Família Paulista uma intensa vida de oração. “Não esqueçam a oração. É o meio de comunicação mais importante. Trabalho e oração”, concluiu.

 

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Os três ramos da Família Paulista em Lisboa

Sociedade de São Paulo (Paulistas)

Fundada em 1914, na cidade italiana de Alba, a Sociedade de São Paulo está presente em Lisboa na casa regional (que funciona como casa de formação e onde está sediada a Paulus Editora), na Quinta Rainha dos Apóstolos, na Apelação, e tem ainda a residência na zona de Alvalade.

 

Filhas de São Paulo (Paulinas)

Conhecidas por Irmãs Paulinas, as Filhas de São Paulo foram fundadas em 1915 e, além da residência situada em Alvalade, a congregação tem também a Paulinas Multimédia (a livraria na Rua Morais Soares, em Lisboa) e a Paulinas Editora (Centro de Apostolado), no Prior Velho.

 

Irmãs Discípulas do Divino Mestre

Em 1924, foi criada a congregação das Irmãs Discípulas do Divino Mestre, para o apostolado eucarístico, sacerdotal e litúrgico. Em Lisboa, as religiosas têm a casa da delegação, em Camarate, e a loja Apostolado Litúrgico, na Rua de Dona Estefânia.

 

Restantes ramos

Além destes três ramos, o beato Tiago Alberione fundou ainda mais duas congregações (as Irmãs de Jesus Bom Pastor, chamadas Pastorinhas, e o Instituto Rainha dos Apóstolos para as Vocações, as Apostolinas), quatro Institutos Seculares (São Gabriel Arcanjo, Nossa Senhora da Anunciação, Jesus Sacerdote e Sagrada Família) e a Associação de Cooperadores Paulistas, que constituem, em conjunto, os dez ramos da Família Paulista.

 

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Foto: A irmã Maria Joana Gonçalves (à esq.) professou os primeiros votos em 1964, em Roma, numa celebração presidida pelo padre Tiago Alberione

texto por Diogo Paiva Brandão, com Nuno Rosário Fernandes; fotos de arquivo
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