Missão |
Regina Maria Silva, do grupo Voluntariado Passionista
“Todos temos uma luz e devemos fazê-la brilhar!”
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Regina Maria Silva nasceu em 1990, viveu a infância e adolescência em Carregosa (concelho de Oliveira de Azeméis) junto da família materna. Nos seus estudos de liceu revelou-se uma paixão pela matemática e todas as áreas analíticas, e foi o que depois definiu as suas escolhas de vida. No ingresso ao ensino superior, foi tirar licenciatura em Economia e, mais tarde, o mestrado em Contabilidade e Controlo de Gestão, na Universidade do Porto. Profissionalmente enveredou por uma carreira na área Financeira. Atualmente, vive em Pigeiros (concelho de Santa Maria da Feira) e trabalha numa comercializadora energética no Porto.

Na sua caminhada, o associativismo e o voluntariado também se manifestaram, desde cedo, presentes na sua vida. Enquanto estudava, fez parte da AIESEC durante 2 anos e apoiava diversas iniciativas académicas. Pertenceu a um grupo de jovens católico, durante 5 anos. Desde 2017, é membro do grupo Voluntariado Passionista que pertence à ONGD Rosto Solidário e aos Missionários Passionistas. Foi aqui que, em 2020, participou numa Missão ad gentes em Calumbo, Angola.

 

Experiência transformadora

Não parti sozinha, foi uma descoberta realizada em equipa com outros dois voluntários passionistas, o David e o Carlos. Desembarcámos naquele lugar mágico, Calumbo, o “pedacinho de céu”, que tem tanto de beleza como de cultura. No local fomos acolhidos na Missão da Comunidade de São José de Calumbo, pelo período de 2 meses.

O primeiro impacto foi, sem dúvida, mais chocante, ver tudo aquilo que nos rodeava, a pobreza, as condições más em que a maioria das pessoas vivem, a carência de cuidados de saúde, a falta de condições de ensino… foi um turbilhão de emoções difícil de explicar. Uma coisa é certa, depois daquele momento tudo passou a ter um novo significado para mim. Com as primeiras experiências e a interação com o povo angolano, este povo que é tão acolhedor e tão alegre, algo me tocou o coração de tal forma que emanava toda a energia e motivação necessárias, sentia o meu “sonho” assumir a sua realidade e, nesse instante, vivenciei sem filtros uma felicidade extrema e paz interior.

Estava disponível para o que fosse preciso, a minha missão no terreno era olhar para aquelas pessoas e como em tudo o que me envolvo, depositei todas as minhas forças para dar o melhor de mim neste Projeto de Cooperação. E foi uma jornada tão, mas tão incrível, uma maratona de aprendizagens e desenvolvimento. O meu trabalho abrangeu o apoio na biblioteca “Imbondeiro do Saber”, dar explicações às crianças e jovens que frequentam a biblioteca, ensinar a ler e escrever, fazer cálculos matemáticos, contar histórias entre outras atividades. Preparei formação de Língua Portuguesa para os seminaristas filósofos da comunidade, os manos como chamamos, ensinei gramática, ortografia e coerência textual. Visitei o Centro Prisional do Kakila e promovi palestras de economia doméstica e de empreendedorismo e inovação, aos reclusos e aos guardas prisionais. Acompanhei visitas a algumas comunidades e participei nas eucaristias que lá se celebram com muita fé e alegria.

O lema não é dar por dar, mas ensinar. Temos consciência da carência de formação que aquele povo sente, por isso, estes projetos visam continuar a apoiá-los da forma que for possível. Mesmo assim, há tanto que também podemos aprender com o povo angolano, tantas lições de vida que aquelas pessoas têm para transmitir. São sempre bastante recetivas a esta cooperação e às atividades que propomos. E a gratidão, a forma como nos diziam: “Obrigada!”… era aquele “obrigada” que sai do coração, é incrível sentirmos que a nossa presença foi importante e deixamos uma marca.

As crianças corriam para nos abraçar e puxar para as brincadeiras com os olhinhos a brilhar, com elas havia também os momentos da merenda, fazíamos jogos divertidos como o jogo do lencinho, cabra cega, ginástica, corridas, futebol, entre outros, e treinávamos os talentos, como danças e cânticos africanos. Os seus afetos, sorrisos simples e cheios de amor, as mãos que apertam e o calor que emanam… tão bom que é sentir vida nos nossos braços. Como podemos ficar indiferentes? Leva-nos a questionar as nossas prioridades e reconhecer a nossa vida superficial e indiferente à humanidade.

Apesar do que as fotografias aparentam mostrar, nem todos os dias são espetaculares. Na verdade, a missão teve os seus altos e baixos e, por vezes, até a minha autoconfiança ficava abalada para o desafio a que me tinha proposto. Naturalmente que isto afetou a minha relação no grupo e há momentos em que podemos vacilar, porque não há “super-heróis”. Mas, o facto de saber que estava livremente a ajudar aquelas pessoas e com a convicção de que “um missionário nunca abandona o barco”, ganhava cada dia um novo alento para vencer qualquer sentimento de tristeza ou cansaço.

Nesta entrega genuína por inteiro, tive o resultado de uma experiência verdadeiramente transformadora que me proporcionou um grande sentido de concretização e de autodescoberta, autoconhecimento e autossuperação.

 

Viver a missão com simplicidade

Entramos em missão e a comunhão faz-se essencial. Por lá abraçamos o outro com o pouco que somos, o outro é uma pérola de Deus. E sabem aquela sensação de simplicidade, irmandade, carinho e proteção? Pois é, é nos momentos simples que mais nos comovemos nestes projetos! Vive-se naturalmente a simplicidade na Fé que é sinónimo de entrega e envolvimento, simplicidade no ensinar, simplicidade no caminho do aprender, simplicidade e alegria no acolhimento, simplicidade na forma de fazer pela vida, simplicidade no querer, no fazer, no estar, simplicidade na partilha de afetos e de saberes,… porque mesmo com todas as dificuldades, imperfeições e limitações, a cumplicidade se faz presente, assim como o amor permanece firme. Não são as coisas bonitas que marcam as nossas vidas, mas sim as pessoas que têm o dom de jamais serem esquecidas.

Aprendi com cada criança, mamã, papá, que o mais importante é ser e viver a vida com mais calma, com mais ternura e simplicidade. Aprendi a ser feliz com coisas simples, com momentos, com sorrisos. Fiquei com um bocadinho de cada um com quem me cruzei, mas tenho a certeza de que cada um deles também ficou com um bocadinho de mim.

Todos os dias são uma oportunidade para estar em missão e dar a conhecer um Amor maior. “Nós não somos nós, somos o que damos.” [Afonso Cruz] - Não esqueçamos a importância de sabermos que todos temos uma luz e devemos fazê-la brilhar! Seja onde for... fazer missão onde estivermos e no nosso dia a dia, ser a melhor versão de nós próprios é deixar a nossa luz brilhar sempre e com todos os que nos cruzamos.

Todos somos missão!

texto por Regina Maria Silva
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