Catequese |
Diretório para a Catequese
A transmissão da Revelação
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Depois de termos tratado da Revelação divina e da resposta da fé, meditamos, agora, na transmissão da fé. O Diretório para a Catequese situa a missão da Igreja, enquanto anunciadora do Evangelho, na dinâmica missionária do próprio Deus.

 

A missão da Igreja é inseparável da missão de Jesus e da missão do Espírito, na medida em que «realiza na história a mesma missão que Jesus tinha recebido do Pai» (DC 22). Este olhar centrado no mistério de Deus faz-nos perceber que o verdadeiro protagonista da missão eclesial é o Espírito Santo. É Ele que age na Igreja e nos corações daqueles a quem ela é enviada a anunciar o Evangelho. Por isso, somos convidados a agradecer a ação misteriosa do Espírito, tanto na nossa vida, como nas vidas de quantos se sentem impelidos para o bem.

É o mesmo Espírito que, agindo na Igreja, permitiu que os apóstolos, fiéis ao mandato de Jesus, nos transmitissem tudo o que tinham recebido de Jesus e, agora, nos faz progredir na perceção de tudo quando nos foi entregue por eles (cf. DC 8).

A transmissão da Revelação acontece na Igreja de dois modos: através da Sagrada Escritura e pela Tradição, isto é, a transmissão viva da palavra de Deus, corretamente interpretada pelo Magistério (cf. DC 24-27).

A Igreja continua esta transmissão viva da palavra de Deus através da evangelização. De facto, o mandato de evangelizar não é algo de supletivo ou adicional à natureza da Igreja. «Ela existe para evangelizar» (cf. EN 14). Na linha da perspetiva personalista e dialogal da Revelação divina, evidenciada pela Dei Verbum, evangelizar é não só tornar Jesus presente e anunciá-lo, mas possibilitar a relação íntima com Ele (cf. CT 5). Isto faz-se pela transmissão de toda a sua vida, que implica conhecê-lo e entrar numa relação afetiva com Ele (coração), compreender a verdade da vida e da doutrina que Ele propõe (cabeça) e viver como Ele viveu (mãos).

A urgência de evangelizar brota da convicção profunda que só o Espírito Santo pode dar, de que só na pessoa de Jesus Cristo o ser humano encontra salvação e pode abrir a sua vida a horizontes novos e definitivos. Em suma, só conhecendo Jesus Cristo a pessoa humana se realiza plenamente. O Diretório associa duas categorias que nos ajudam a compreender em que consiste esta realização da pessoa: salvação e divinização. Tanto a salvação, mais comum no Ocidente, como a divinização, própria da linguagem cristã do Oriente, complementam o mesmo mistério da vida nova que Cristo confere. Deus fez-se homem em Jesus, para que «o homem se torne verdadeiramente homem como Ele o quis e criou» (DC 30).

É nesta ótica cristológica que o Diretório aponta para a relevância da natureza querigmática e mistagógica do processo de evangelização, através do qual a Igreja: a) impregna e transforma toda a sociedade; b) se faz próxima de todas as pessoas, através do testemunho e da caridade; c) proclama explicitamente o Evangelho e convida à conversão; d) inicia na fé e na vida cristã os que aderem a Jesus Cristo; e) alimenta os fiéis pela palavra e os sacramentos e os envia em missão. Ao longo deste processo de evangelização, a Igreja anuncia a palavra de Deus em todas as pessoas e circunstâncias: tanto quando sensibiliza as pessoas para a fé e para o primeiro anúncio, quando faz amadurecer o desejo de uma opção consciente por Jesus Cristo, quando, através da catequese, inicia em todas as dimensões da vida cristã promovendo uma frutuosa profissão de fé e quando nutre a fé dos batizados e os acompanha na comunidade cristã.

Em cada tempo a Igreja deve interrogar-se sobre o modo como pode levar a cabo a missão de transmitir a fé. O Diretório traça o diagnóstico do nosso tempo, definindo-o como complexo, atravessado por alterações profundas e por «fenómenos de afastamento da experiência de fé e da experiência eclesial» (DC 38). Face a esta realidade, a catequese deve realizar um autêntico exercício de inculturação da fé que alcance a cultura contemporânea marcada pela globalização, pelas desigualdades sociais, pelas transformações antropológicas, que estão a alterar profundamente o sentido da experiência humana, e pelos desafios das novas formas de comunicação.

É neste contexto que o Diretório apresenta alguns traços da catequese atual que concorrem para uma espiritualidade da nova evangelização assente numa conversão pastoral e missionária que visa colocar a Igreja em estado de saída missionária, particularmente, no âmbito da evangelização daqueles que desconhecem Jesus Cristo ou o recusaram: uma catequese em saída missionária, uma catequese sob o signo da misericórdia, uma catequese como laboratório de diálogo. Subentendendo que a missão ad gentes constitui o paradigma de toda a ação pastoral a Igreja «deverá estar disponível para procurar os sinais de verdade que já estão presentes em diversas atividades humanas, confiando que Deus já está em ação no coração do ser humano ainda antes deste ser alcançado de forma explícita pelo Evangelho» (DC 50). No âmbito de uma pastoral de primeiro anúncio, a catequese deverá tornar-se próxima das pessoas, caminhando ao seu lado, nos lugares onde se encontram e interessando-se pelas suas questões. Para se transformar de modo missionário, a Igreja deverá, também, formar discípulos missionários.

A transmissão da fé requer que a catequese seja capaz de «suscitar processos espirituais na vida das pessoas, para que a fé lance raízes e seja significativa» (DC 43) e o faça de modo dialogal, «porque, na profundidade de ser humano, encontra a vivacidade e a complexidade, os desejos e as procuras, os limites e, por vezes, também os erros da sociedade e das culturas do mundo contemporâneo» (DC 54).

O primeiro capítulo do Diretório, que agora terminamos, constitui a base hermenêutica de todo o documento, à luz do qual se pode compreender a identidade da catequese, como veremos no próximo artigo.

texto pelo P. Tiago Neto, diretor do Sector da Catequese de Lisboa
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