DOMINGO VI COMUM Ano C
“Bem-aventurados vós, os pobres,
porque é vosso o reino de Deus.”
Lc 6, 21
Em plena realização dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Inverno, que decorrem nestes dias na China, escutamos as Bem-aventuranças na radicalidade que é apresentada por S. Lucas. Há um sabor olímpico no projecto de felicidade que Jesus propõe. E, em concreto, o Papa Francisco saudou, há dias, a decisão do Comité Olímpico Internacional de acrescentar ao lema oficial “Citius, altius, fortius” (mais rápido, mais alto, mais forte) a palavra “communiter” (juntos). Este é o objectivo: fazer “crescer um mundo mais fraterno. Juntos”, sublinhou o Papa. E olhando para o mundo paraolímpico sublinha Francisco: “O exemplo dos atletas com deficiência ajudará a todos a superar preconceitos e medos e a tornar as nossas comunidades mais acolhedoras e inclusivas: esta é a verdadeira medalha de ouro.”
As bem-aventuranças apontam para as “olimpíadas da vida”: o importante são as escolhas que nos projectam para os outros e para Deus, que nos fazem andar atentos às suas necessidades, que nos revelam como seres de “dádiva”, e não só, de “recebimento”, que não almejam a fartura como objectivo essencial. O evangelista Lucas apresenta Jesus de pé, a olhar de frente para os discípulos (e para nós, numa atitude profética). O mundo a quem Lucas se dirige não é muito diferente do nosso, onde os valores materiais, a riqueza, a diversão e a fama, se tornam objectivos fundamentais a alcançar. A própria dimensão comunitária é posta em causa pelos egoísmos, e “juntos” aparece como uma interpelação constante à procura individual da felicidade.
Dizia um professor meu amigo: “A felicidade não é um objectivo; é uma consequência. As pessoas felizes não se preocupam em serem-no. É o seu modo de viver que as toma felizes.” Até parece a descoberta da pólvora, não é? O importante mesmo é “como vivemos, e o que vivemos”! Se nos enrodilhamos nos problemas ou na ânsia daquilo que ainda não temos, se somos o “centro do mundo” e deixamos de saborear a alegria de uma dádiva gratuita, é natural que percamos a linha do horizonte. É tudo uma questão de “foco”: quanto mais longe de nós, mais abrangente ele é. Como Jesus tinha sempre o foco no Pai, podia não só estar unido a Ele, mas envolver todos num abraço!
E fica por falar como a força desta palavra, acrescentada ao lema olímpico, rima espantosamente com o dinamismo sinodal em que a Igreja está envolvida. “Juntos” e não “cada um por si ou para si”, exige a coragem e a humildade de verdadeiros treinos olímpicos!
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