Lisboa |
Faculdade de Medicina da Universidade Católica Portuguesa
“Formar médicos que tenham atenção ao doente”
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Formar “verdadeiros profissionais de saúde”, que tenham “atenção ao doente”. Nas palavras do diretor da Faculdade de Medicina da Universidade Católica Portuguesa, António de Almeida, este é o objetivo do novo curso, um sonho com mais de 20 anos que se concretizou neste ano académico. Maria do Rosário Magriço e Gonçalo Ruivo são dois dos 56 alunos e falam dos desafios de ‘estrear’ uma faculdade e do método de ensino “baseado em problemas”.

 

À pergunta do Jornal VOZ DA VERDADE ‘Como serão os médicos do século XXI formados na Faculdade de Medicina da Universidade Católica Portuguesa?’, o diretor da recém-criada faculdade, António de Almeida, sublinha a importância de os futuros médicos “olharem o doente” e estarem preparados para a evolução da Medicina. “Uso sempre a analogia – que se calhar já é antiquada – do Buck Rogers [uma série televisiva norte-americana, transmitida entre 1979 e 1981], que era um militar americano que ficou congelado e acordou passado cinco séculos, num mundo completamente diferente. Os médicos que são formados agora vão ter essa experiência. Vão ser formados com uma certa medicina tecnológica, e vão, ao longo da sua carreira, ver uma transformação total da Medicina, como eu vi na minha carreira, no fim do século XX, princípio do século XXI. Portanto, o que é muito importante para os médicos que vão sair daqui, e são esses os médicos que vamos formar, é que vão ser profissionais de saúde que olham para o doente, vão ser profissionais de saúde flexíveis, capazes de ir buscar informação, capazes de se adaptar a novas tecnologias, mas ainda assim nunca perdendo o fito principal da sua profissão que é o cuidado e o acompanhamento das pessoas”, destaca o diretor da FMUCP.

O desejo, assume este responsável, é “estar na vanguarda da Medicina no mundo”. “Nós temos um curso em Inglês e queremos formar médicos para o mundo. É óbvio que Portugal precisa de médicos, mas não podemos esquecer que, primeiro, há uma mobilidade enorme e, segundo, o mundo inteiro precisa de médicos – até mais do que Portugal –, em muitas regiões. Queremos incutir esta responsabilidade social, esta preocupação pelo mundo, nos nossos alunos. Queremos verdadeiramente que os nossos alunos sejam médicos para o mundo, onde quer que eles vão. Podem ser o especialista mais especializado numa certa área de cirurgia ou podem ser o médico de família rural, no Alentejo. É indiferente. Têm é que ser médicos capazes de trabalhar em qualquer sítio do mundo”, assinala.

 

Método “diferente”

A Faculdade de Medicina era um sonho antigo da Universidade Católica Portuguesa, já com duas décadas. A 14 de setembro do ano passado, nascia no Campus de Sintra, em Rio de Mouro, o primeiro curso superior privado de Medicina no nosso País, que aposta num método de ensino “um pouco diferente, baseado em problemas”. “Temos um curso muito prático – claro que temos uma parte teórica muito forte, mas ensinada de uma maneira um pouco diferente, porque temos um ensino baseado em problemas, no qual os alunos aprendem e vão pesquisar, eles próprios, as informações teóricas para resolver casos concretos”, explica António de Almeida, sublinhando que os problemas “são construídos para serem os mais educativos possíveis”. “No fundo, é uma resolução de casos”, acrescenta.

Esta nova formação apresenta ainda “soluções práticas de competências clínicas, de competências de comunicação”. “Os alunos têm já doentes simulados, a quem fazem entrevistas clínicas simuladas, têm modelos anatómicos, têm modelos funcionais para auscultar. Portanto, todo este aspeto muito prático, que é uma coisa que qualquer aluno de Medicina anseia, trouxe um grande entusiasmo para a faculdade”, garante. O balanço do primeiro semestre é, por isso, “muito positivo”. “Este primeiro semestre foi muito colorido por um enorme entusiasmo”, frisa. “Já tivemos várias provas, tanto da primeira como da segunda unidade curricular, e em geral tivemos um bom aproveitamento por parte dos alunos. Portanto, eles estão a aprender e estão a aprender com afinco”, assegura o diretor da FMUCP.

 

Curso que “cativa”

Maria do Rosário Magriço, de 19 anos, é natural da cidade de Lisboa e foi ‘estrear’ o curso de Medicina da Universidade Católica. “Estou a adorar! Sei que é clichê, mas é verdade: estou a adorar o curso, que tem provado tudo o que estava à espera. Até agora, tudo o que aprendemos fica. Estou num curso que me cativa mesmo”, refere, ao Jornal VOZ DA VERDADE, Rosarinho, como gosta de ser tratada. Este é o sentimento geral dos 56 alunos do curso, segundo esta jovem. “Por vezes, falo com os meus amigos e sinto que somos os únicos que gostamos imenso de vir para a faculdade. Claro que temos de estudar imenso, mas a única parte que custa do estudo é a carga horária porque o que nós estamos a estudar cativa-nos imenso. Olho à volta e todos os meus colegas adoram de facto o que estão a fazer, não só por ser Medicina e por ser na Católica, mas porque este curso explora a nossa curiosidade”, observa.

Esta estudante, que pertence ao movimento das Equipas de Jovens de Nossa Senhora, assume que “nem sempre” quis ir para Medicina. “Não foi sempre o meu sonho”, confessa, destacando a importância de duas tias, irmãs do pai, que são médicas. “Eram as pessoas a quem nós íamos para resolver qualquer problema e foi muito por aí que comecei a ter a ideia de Medicina”, partilha, lembrando que quando estava no Ensino Secundário, com 14-15 anos, já tinha “a certeza” do que queria seguir. Em 2020, Rosarinho não entrou em Medicina no ensino público, “porque as médias subiram muito”, tendo sido colocada em Engenharia Biomédica. Após “três dias”, percebeu que “não valia a pena”. Para este ano, esta jovem candidatou-se a Espanha e à nova FMUCP. “O curso da Católica era super-apelativo. O único ponto negativo era sermos os primeiros e virmos à descoberta. Não havia referência, não havia testemunho, mas tirando isso era a minha cara: a parte prática, a parte interativa, a parte científica, o sermos poucos e termos mais atenção, mais unidade, parecia-me tudo muito bom. Estava super entusiasmada em estrear um projeto novo”, garante esta futura médica.

 

Tudo “interligado”

Filho de pais médicos, Gonçalo Ruivo, de 18 anos, é também da cidade de Lisboa e escolheu a nova Faculdade de Medicina da UCP. “No início, não estava a ver como ia ser o curso, porque era o primeiro ano e é sempre uma descoberta, mas decidi candidatar-me pela conexão com outras universidades, como a Universidade de Maastricht, que é muito conhecida internacionalmente, e pelo método de ensino, que é um pouco diferente do tradicional em Portugal”, explica, ao Jornal VOZ DA VERDADE. Tal como Rosarinho, este estudante candidatou-se também ao ensino público, mas não entrou “por pouco, cerca de duas décimas”, optando pelo novo curso da Católica. E não está arrependido. “Com este método de ensino, que se chama PBL - problem-based learning e que tem provas dadas, nós é que vamos em busca do problema. Enquanto no ensino clássico há várias cadeiras, anatomia, fisiologia, neste curso é mais por zonas: se estamos a estudar a parte cardiovascular, vamos estudar a anatomia, a fisiologia, a histologia, a farmacologia, tudo naquela zona. Está tudo mais interligado entre si e é bom para os alunos, motiva-nos”, garante.

Desde pequeno que Gonçalo sempre teve “uma grande afinidade” pelas áreas das Ciências e da Saúde. “Na minha família, tenho muito contacto com a Medicina. Foi algo que sempre gostei e me interessei e queria saber mais e mais”, conta, frisando que o curso da FMUCP é “mais prático”, com “um contacto mais cedo com os doentes”. “O curso tem ligação com o grupo Luz Saúde, o que é bom, porque tem todas as áreas da Medicina e as Urgências”, realça. Gonçalo Ruivo destaca ainda sentir que todos os 56 alunos se estão a “ambientar bastante bem” e que, por serem “poucos alunos”, têm “mais contacto com os professores”, para “esclarecer dúvidas”. “Temos uma grande entreajuda entre nós, o que é bastante positivo. Medicina é um curso complicado e sem a ajuda dos colegas seria muito difícil fazê-lo”, considera. Os pais, médicos, têm também acompanhado. “Têm visto de maneira positiva este primeiro semestre. Estão, tal como eu, confiantes de que o curso está a correr bem, tem tudo para correr bem. Sinto que estou a fazer algo que gosto. É um curso muito exigente, mas quando estou a estudar interesso-me, gosto e procuro. O único problema é de facto não haver o ano à frente, mas no futuro já nos vão ter a nós e ao nosso testemunho”, assegura este estudante de Medicina.

 

Ao lado do doente

Num encontro com a Federação Internacional das Universidades Católicas (FIUC), em novembro de 2019, o Papa Francisco sublinhou que “educar não é apenas encher a cabeça de conceitos” e convidou as universidades católicas a oferecerem uma formação capaz de desenvolver “a mente”, mas também “o coração” dos alunos. Para o diretor da Faculdade de Medicina da UCP, a instituição “revê-se muito nestas palavras do Papa”. “O nosso objetivo é exatamente esse: é não gerar somente alunos cheios de informação médica – e, inevitavelmente, a Medicina contém muita informação necessária –, mas gerar verdadeiros profissionais de saúde”, deseja António de Almeida. O foco está, por isso, em “ensinar os alunos a terem uma relação com o doente e a olharem o doente e não a doença”. “O que é importante é eles perceberem que nós, como médicos, estamos a tratar o doente. E, muitas vezes, não conseguimos tratar a doença, mas ainda assim não podemos abandonar o doente. Insistimos muito, como corpo docente, que queremos formar profissionais e queremos formar pessoas que tenham atenção ao doente e acompanhem o doente até ao fim. Essa é a função do médico”, realça António de Almeida, o primeiro diretor da nova Faculdade de Medicina da Universidade Católica.

 

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Um NEC “com potencial”

Maria do Rosário Magriço é uma das fundadoras, juntamente com uma colega, do recém-criado NEC (Núcleo de Estudantes Católicos) da Faculdade de Medicina da Universidade Católica. “Os NEC’s existem nas várias faculdades, mas quando viemos para cá não existia, claro, e sentimos que fazia falta. Este é um curso que ligamos muito a Deus e fazia todo o sentido o NEC estar presente nesta faculdade”, começa por explicar esta jovem. Nestes primeiros tempos, o grupo reúne cerca de dez alunos e tem contado com a colaboração do capelão da UCP, padre Miguel Vasconcelos. “Estamos no início, a dar passos pequenos, porque temos muita carga horária, mas reunimo-nos de duas em duas semanas, para falar e discutir um tema, e estamos a tentar criar algo que se estenda para os próximos anos. Temos também a Missa todas as segundas-feiras, à uma da tarde, que é uma ótima oportunidade para nos reunirmos. O NEC é um grupo que tem muito potencial e que nos faz muito bem a todos”, salienta a futura médica Rosarinho.

 

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Os diplomados que “servem nas mais diversas latitudes de Portugal”

O Magno Chanceler da Universidade Católica Portuguesa (UCP) destacou o papel da instituição, que “oferece à sociedade portuguesa – sem que esta, concretamente a nível oficial, gaste nisso coisa que se veja – dezenas de milhares de diplomados que servem nas mais diversas latitudes de Portugal e por esse mundo além”. Na Missa a que presidiu na Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes, no Parque das Nações, em Lisboa, no Dia Nacional da UCP, a 6 de fevereiro, D. Manuel Clemente convidou todos os católicos a “apoiar e acarinhar” a instituição académica.

No final da Eucaristia, a reitora da Universidade Católica, Isabel Capeloa Gil, lembrou o tema escolhido para as celebrações deste ano, ‘Por um novo humanismo’, e afirmou que “o novo humanismo salienta a centralidade da pessoa, sem a reduzir a um essencialismo individualista”.

 

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Faculdade de Medicina da UCP: https://fm.ucp.pt

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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