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Roma
“A vida é um direito, não a morte, que deve ser acolhida, não administrada”
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O Papa voltou a defender que a eutanásia não é solução. Na semana em que o Papa emérito Bento XVI pediu “perdão”, o Vaticano fez um balanço do processo sinodal. Francisco fez um desafio aos futuros padres, evocou a morte de Rayan, a criança marroquina retirada sem vida de um poço, e alertou para a “terceira guerra mundial aos pedaços”.

 

1. O Papa Francisco voltou a defender que a eutanásia não é solução e que a resposta face ao sofrimento passa pelos cuidados paliativos. “Devemos acompanhar as pessoas até à morte, mas não provocar a morte nem ajudar o suicídio assistido”, destacou, na audiência-geral de quarta-feira, 9 de fevereiro. “Devemos estar gratos por toda a ajuda que a medicina procura dar, para que, através das chamadas curas paliativas, cada pessoa que se está a preparar para viver a última parte da sua vida o possa fazer da forma mais humana possível. Contudo, devemos ter o cuidado de não confundir esta ajuda com desvios inaceitáveis que levam à eutanásia”, alertou. Sublinhando depois o “direito a cuidados e tratamentos para todos” como “prioridade”, o Papa pediu que “os mais débeis, particularmente os idosos e os doentes, nunca sejam descartados”. “A vida é um direito, não a morte, que deve ser acolhida, não administrada. E este princípio ético diz respeito a todos, e não apenas aos cristãos ou crentes”, acrescentou.

Na catequese, que teve como tema ‘São José, patrono da boa morte’, Francisco sublinhou que, “através da fé”, é possível “atribuir à morte um papel positivo”. “A morte continua a ser um acontecimento com o qual temos de nos confrontar e perante o qual temos também de fazer escolhas. De facto, pensar na morte, iluminada pelo mistério de Cristo, ajuda-nos a olhar para toda a vida com novos olhos. Nunca vi atrás de um carro fúnebre uma carrinha de mudanças! Não tem sentido acumular se um dia morreremos”, afirmou. “O que precisamos de acumular é caridade, a capacidade de partilhar, de não ficar indiferentes às necessidades dos outros”, frisou, acrescentando que “é bom morrer reconciliado, sem deixar ressentimentos e sem arrependimentos!”.

No final da audiência, o Papa defendeu que a ameaça crescente de uma invasão da Ucrânia pela Rússia deve ser resolvida através de um diálogo sério e considerou que avançar para “uma guerra é uma loucura”. “Continuamos a implorar ao Deus da paz para que as tensões e ameaças de guerra sejam superadas através de um diálogo sério e para que as conversas no formato Normandia possam contribuir para esse fim”, referiu, às centenas de fiéis reunidos na Sala Paulo VI, no Vaticano, para o habitual encontro público semanal. Entre os presentes estava Dolores Aveiro, que ofereceu ao Papa Francisco uma camisola do seu filho, Cristiano Ronaldo, capitão da seleção nacional de futebol.

 

2. Numa carta divulgada esta terça-feira, 8 de fevereiro, o Papa emérito Bento XVI escreve sobre a “dor” que sente pelos abusos que se verificaram quando foi Arcebispo de Munique e pede “perdão” por ter sido “negligente”, mas garante que o erro “não foi intencional”. “Em todos os meus encontros, sobretudo durante as numerosas viagens apostólicas, com as vítimas de abusos, aprendi a compreender que nós mesmos somos arrastados por esta tão grande culpa quando a negligenciamos ou não a enfrentamos com a necessária decisão e responsabilidade, como aconteceu e acontece com muita frequência”, escreveu Bento XVI, expressando de seguida a sua “profunda vergonha” e o seu “sincero pedido de perdão”, porque teve “grandes responsabilidades na Igreja”.

 

3. O Vaticano revelou, em comunicado, que “98% das Conferências Episcopais (entre elas, a Portuguesa) e sínodos das Igrejas Orientais de todo o mundo nomearam uma pessoa ou equipa inteira para implementar o processo sinodal” lançado pelo Papa em outubro do ano passado. A informação foi divulgada dia 7 de fevereiro, depois de uma reunião do Conselho Ordinário do Sínodo dos Bispos, que reuniu “cerca de três meses após a abertura do processo sinodal”. O Conselho admite que, neste momento, “as modalidades de consulta e a participação” variam de uma região do mundo para a outra, mas que o processo sinodal foi “acolhido com alegria e entusiasmo em vários países de África, América Latina e Ásia”.

 

4. O Papa apelou aos futuros padres para não ficarem “barricados” na sacristia. “Por favor, não fiquemos barricados na sacristia e não cultivemos pequenos grupos fechados, onde nos podemos aconchegar e ficar sossegados. É necessário abrir, expandir o horizonte do ministério às dimensões do mundo”, referiu Francisco, numa audiência com seminaristas italianos, a 7 de fevereiro, no Vaticano. O Papa defendeu que os novos padres devem ter também “o desejo de levar o Evangelho às ruas do mundo, aos bairros e lares, especialmente aos lugares mais pobres e esquecidos”. “O Senhor deseja que os seus pastores se conformem a Ele, carregando no coração e aos ombros as expectativas e os fardos do rebanho. Corações abertos, compassivos, misericordiosos”, pediu.

 

5. O Papa evocou, no passado Domingo, a morte de Rayan, a criança marroquina retirada sem vida de um poço, na véspera, após vários dias de operações de resgate. “Em Marrocos, todo um povo se uniu para salvar Rayan. Todo o povo esteve ali, a trabalhar, para salvar uma criança. Deram tudo. Infelizmente, não conseguiram”, lamentou, após a recitação do Angelus. Francisco mostrou-se impressionado com as imagens da população, à espera da criança, durante as tentativas de salvamento. Milhares de pessoas viajaram até ao local, em sinal de solidariedade. “Obrigado a este povo, por esse testemunho”, referiu, na janela do apartamento pontifício.

 

6. O Papa Francisco associou-se à celebração do II Dia Internacional da Fraternidade Humana, a 4 de fevereiro, e alertou para a necessidade de se ultrapassarem conflitos e indiferenças. “Ou somos irmãos ou tudo desmorona. E isso não é uma expressão puramente literária sobre tragédia, não, esta é a verdade! Vemos isso nas pequenas guerras, nesta terceira guerra mundial em pedaços, como os povos são destruídos, como as crianças não têm o que comer, como a educação cai... É a destruição. Ou somos irmãos ou tudo desmorona”, alertou, constando que “o percurso da fraternidade é longo e difícil”, mas aponta-o como a “âncora de salvação para a humanidade”.

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