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P. Manuel Barbosa, scj
Dizer palavras sentidas

Empresto dos Padres do Deserto a expressão “diz-me uma palavra”, um dizer de sentido e silêncio. Indicia-nos a escutar e comunicar palavras sentidas, mesmo em ambiente de silêncio ativamente contemplativo. Faço estas anotações observando alguns andamentos, já agora com acenos à vida consagrada, que em fevereiro tem acontecimentos de relevo.

 

1. A tradução portuguesa do novo Missal Romano, que entra em vigor na próxima Quinta-feira da Semana Santa, depois da devida aprovação pelo Papa Francisco, pela Congregação do Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos e pela Conferência Episcopal Portuguesa, pode inserir-se nesta tónica de palavras sentidas, agora na sublimidade da Palavra e da Eucaristia. Não são letras soletradas e livros colecionados. Trata-se do Missal que nos orienta na grande celebração da fé. “Celebrar e viver melhor a Eucaristia” é a suprema finalidade dos novos textos, como nos convidam os nossos bispos em nota pastoral. Deseja-se que “a oração e o compromisso quotidiano da Igreja peregrina sejam vividos à luz do encontro vital com a Palavra de Deus e com a Fração do Pão na celebração eucarística”.

 

2. Também de palavras sentidas se entendem recentes nomeações de bispos para duas dioceses com forte presença de consagrados e consagradas em todas as suas formas de existência, especialmente a vida contemplativa. Palavras ditas e reditas, a apontar atitudes de serviço à Igreja de Deus que se realiza nessas Igrejas locais. D. José Garcia Cordeiro já assumiu o ministério pastoral na Arquidiocese de Braga a 13 de fevereiro, D. José Ornelas Carvalho vai iniciá-lo na Diocese de Leiria-Fátima a 13 de março. As palavras de saudação só fazem sentido se cordiais, isto é, se brotam do coração de todos nós. «Não vos esqueçais de rezar por mim», tanto repete o Papa Francisco. De modo análogo, «não nos esqueçamos de rezar por estes dois pastores». E que a oração se estenda às três Igrejas locais que esperam pastor (Angra, Bragança-Miranda e Setúbal).

 

3. Ainda na mesma tonalidade de dizer palavras sentidas, vale a pena ler (muito pausadamente!) a homilia do Papa Francisco no Dia da Vida Consagrada, a 2 de fevereiro, Festa da Apresentação do Senhor. Três perguntas à luz dos movimentos de Simeão. Primeira: O que nos faz mover? “O que é que move os nossos dias? Que amor nos impele a seguir em frente: o Espírito Santo ou a paixão do momento, isto é, uma coisa qualquer? Como nos movemos na Igreja e na sociedade?” Segunda: O que veem os nossos olhos? “Não desperdicemos o hoje a olhar para o ontem ou a sonhar com um amanhã que jamais virá, mas coloquemo-nos diante do Senhor, em adoração, e peçamos olhos que saibam ver o bem e vislumbrar os caminhos de Deus”. Terceira: Que estreitamos nos braços? “Renovemos hoje com entusiasmo a nossa consagração! Perguntemo-nos quais são as motivações que movem o nosso coração e o nosso agir, qual é a visão renovada que somos chamados a cultivar e, sobretudo, tomemos Jesus nos braços. Coloquemos Jesus no centro e continuemos para diante com alegria”. Três meditações autênticas para a vida consagrada em particular, mas indicativas para todos os cristãos! Que provocações nos coloca? Não são mais do mesmo, dito ou pensado!

 

4. A Quaresma aí está. Na sua mensagem, o Papa Francisco agarra na Palavra de Gálatas e diz tudo: “Não nos cansemos de fazer o bem… pratiquemos o bem para com todos”. E incide em três tópicos: “Não nos cansemos de rezar; não nos cansemos de extirpar o mal da nossa vida; não nos cansemos de fazer o bem, através duma operosa caridade para com o próximo”. Uma mensagem para ler e meditar, dizer e praticar!

 

Tantas palavras para pensar e refletir, para escutar e meditar, para anunciar e proclamar! Palavras a serem sentidas e assumidas no coração de cada um e no coração da comunidade! Não nos cansemos das palavras sentidas, ditas e escutadas, entoadas ou silenciosas!