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À procura da Palavra
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DOMINGO V QUARESMA Ano C

Disse então Jesus:

‘Nem Eu te condeno. Vai e não tornes a pecar’.”

Jo 8, 11

 

É possível já terem reparado que alguns manequins das lojas de modas perderam as cabeças. Como se tivesse passado um furacão ou uma foice apocalíptica pelas montras e os deixasse decepados, lá continuam a exibir as últimas novidades. É verdade que a cabeça é dispensável quando o que importa vender são as roupas para o resto do corpo, mas será isto uma mensagem subliminar? Se o que conta é andar na moda, vestir e calçar determinada marca, cultivar a aparência, para quê a cabeça? Se pensar cansa, se ter opinião perturba a “ordem”, se a conversa for substituída pelo consumo maciço de “acontecimentos”, se a crítica é considerada subversão, não é dispensável a cabeça? Mas se a arrancamos ou se a deixamos de utilizar, em que nos tornamos?


Diz um biblista que também a página do evangelho chamado da “mulher adúltera” foi arrancada de algumas primeiras cópias da Bíblia. Passaram dois mil anos e a perturbação mantém-se. Então Jesus não condena aquela mulher que vem pôr em causa todas as regras de bom comportamento e decência, “perigo” para os casamentos estáveis e duradouros, merecedora de todas as pedras que estejam à mão para atirar? Quase escutamos as vozes das vizinhas: “Coitadinhos dos nossos maridos, ovelhinhas mansas diante deste lobo mau em corpo de mulher!” Basta de hipocrisia! Onde está aquele que com ela fez adultério? Claro que as leis (até as chamadas “de Deus”) acabam por atingir sobretudo os mais fracos, os que importa castigar para que o medo continue a dominar. E estaremos assim tão longe desta praça do templo de Jerusalém?


É fácil fazermos um “deus” à nossa medida! Um “deus” mesquinho e vingativo, que legitime a ânsia de controlar e regulamentar as consciências dos outros, que promova a invasão da intimidade e encontre novos motivos para condenar. Não falava também a lei de misericórdia e de perdão? O ódio ao pecado legitima a destruição do pecador? Em que se tornaram as cabeças destes homens tidos por sábios e inteligentes? Jesus interpela os seus pensamentos e acorda-os da sua letargia sanguinária. O hábito de condenar os outros acaba por desumanizar!


Nenhuma lei resiste à afirmação incondicional do amor que Jesus manifesta por esta mulher. Por ela e por todos os pecadores. Um amor anterior ao arrependimento. Tão diferente do nosso que, às vezes, faz do perdão um exercício de humilhação! Onde os homens tinham visto um beco sem saída, Ele aponta um horizonte de vida e de esperança. Porque não há “becos sem saída” para Deus! Ele é o amor escandalosamente transbordante a pedir que o nosso seja igual. Diz o teólogo Hans Urs von Balthasar: “O agir cristão é, pois, um ser inserido por graça na acção de Deus, é amar com Deus, e só aí tem lugar um conhecimento (cristão) de Deus.” Por isso Ele não nos quer “sem cabeça”, qual manequins tresloucados ou acomodados a leis e regras que não salvam, e a poderes que não são serviço. Foi Ele que nos deu os olhos para termos um olhar como o de Jesus!

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