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Roma
“Senhor, onde estais? Falai no silêncio da morte e ensinai-nos a fazer a paz”
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Famílias da Ucrânia e da Rússia escreveram uma meditação para a Via-Sacra com o Papa, nesta Sexta-Feira Santa. Na semana em que a Caritas Internationalis se mostrou “horrorizada e chocada” com morte de dois funcionários em Mariupol, diversos líderes religiosos visitaram a Ucrânia e o Papa pediu trégua pascal para acabar com a “loucura da guerra” e defendeu que a justiça “precisa de verdade”.

 

1. O Papa Francisco confiou a diferentes famílias a redação das meditações da Via-Sacra de Sexta-feira Santa, 15 de abril, e a 13.ª Estação foi escrita por duas famílias – uma da Ucrânia e outra da Rússia – que vivem a preocupação da guerra. “A morte em redor. A vida que parece perder valor. Tudo muda em poucos segundos. A existência, os dias, brincar com a neve de inverno, ir buscar os filhos à escola, o trabalho, os abraços, as amizades… tudo. Inesperadamente tudo perde valor”, lê-se na meditação da 13.ª Estação da Via-Sacra, que o Papa vai presidir, no Coliseu de Roma.

No livreto da Via-Sacra com as meditações e orações, as duas famílias afirmam que as lágrimas acabaram-se e a raiva deu lugar à resignação, no decorrer da guerra que começou a 24 de fevereiro. “Sabemos que Vós nos amais, Senhor, mas não sentimos este amor e isto faz-nos enlouquecer. Acordamos de manhã e sentimo-nos felizes por alguns segundos, mas logo a seguir pensamos como será difícil reconciliar-nos. Senhor, onde estais? Falai no silêncio da morte e da divisão e ensinai-nos a fazer a paz, a ser irmãos e irmãs, a reconstruir aquilo que as bombas teriam querido aniquilar”, desenvolvem as famílias da Ucrânia e da Rússia.

O Papa Francisco confiou as meditações e as orações da Via-Sacra de Sexta-feira Santa a 15 famílias que oferecem as suas perspetivas sobre “a dor que a vida pode trazer e os horrores da guerra”. A decisão de convidar diferentes famílias está relacionada com a celebração do ano especial ‘Amoris Laetitia’, que decorre até à celebração do X Encontro Mundial das Famílias, em Roma, em junho próximo.

 

2. A Caritas Internationalis mostrou-se “horrorizada e chocada” pela morte de dois funcionários da instituição, em Mariupol. “Juntamo-nos com dor e solidariedade ao sofrimento das famílias e dos nossos colegas da Cáritas Ucrânia que vivem esta tragédia”, escreveu o secretário-geral da Caritas Internationalis, a propósito de um episódio conhecido recentemente, mas cujo ataque terá ocorrido no dia 15 de março. As vítimas terão sido atingidas quando um tanque disparou contra o prédio da Cáritas em Mariupol, matando os dois funcionários e cinco familiares, que ali terão procurado abrigo. A Caritas Internationalis reitera “o seu apelo incansável à paz, como fazemos há 48 dias”. “O ‘martírio’ na Ucrânia, como o Papa Francisco o definiu, tem de parar e tem de parar agora. A comunidade internacional deve fazer o impossível para parar este massacre imediatamente. O conflito armado e a violência não são a solução. As vidas humanas devem ser salvaguardadas, a dignidade humana respeitada e a segurança dos civis deve ser garantida”, defende Aloysius John.

 

3. Líderes de religiões de vários países do mundo visitaram, na terça-feira, 12 de abril, campos de refugiados e a cidade de Chernivtsi, na Ucrânia. Foi uma “missão histórica”, que uniu líderes religiosos que foram “demonstrar amizade e solidariedade com o povo da Ucrânia e todos os que foram atingidos pela guerra”, salienta uma nota.

Participaram nesta visita – que teve transmissão direta online via streaming (http://faithinukraine.com) – o Arcebispo Emérito de Canterbury, Rowan Williams (Anglicano, Reino Unido), o Rabino Jonathan Wittenberg (Judeu, Reino Unido), o Grande Mufti Mustafa Ceric (Muçulmano, Bósnia), o Arcebispo Nikitas Lulias (Arcebispo Ortodoxo do Reino Unido), o Grande Imam Yahya Pallavacini (Muçulmano, Itália), Massimo Fusarelli (Ministro Geral Católico, Ordem Franciscana dos Frades, Itália), Swami Sarvapriyananda (Hindu, Índia/EUA), a Abadessa Irmã Giác Nghiêm, (Budista, França), o Rabino Daniel Kohn (Judeu, Israel), a Irmã Maureen Goodman (Brahma Kumari, Reino Unido) Swami Rameshwarananda (Hindu, Espanha) e o Rabino Alon Goshen-Gottstein (Judeu, Israel).

 

4. O Papa apelou a “que se deponham as armas e se dê início a uma trégua pascal”. Mas esta paragem na ofensiva russa sobre a Ucrânia não é “para recarregar as armas e retomar os combates” – é antes “uma trégua para alcançar a paz, através de uma verdadeira negociação”, sublinhou Francisco, durante a oração do Angelus de Domingo de Ramos, 10 de abril, na Praça de São Pedro, no Vaticano. Segundo o Papa, nessas negociações, os envolvidos devem estar “dispostos a algum sacrifício para o bem da gente”. Francisco levantou uma questão para reflexão para os autores da ofensiva – “Que vitória será aquela que plantará uma bandeira sobre um amontoado de destroços?” –, e deixou um pedido de oração para o fim da guerra: “A Deus nada é impossível, nem sequer fazer cessar uma guerra de que não de vê o fim. Uma guerra que todos os dias nos põe diante dos olhos tragédias hediondas e crueldades atrozes, realizadas contra civis indefesos. Rezemos por isto”.

Já antes, na Missa de Ramos, o Papa se tinha referido à “loucura da guerra”. “Quando se usa violência, nada mais se sabe sobre Deus, que é Pai, nem sobre os outros, que são irmãos”, garantiu, na homilia. Sem se referir diretamente à guerra na Ucrânia, Francisco afirmou que no cenário de violência “esquece-se a razão por que se está no mundo e chega-se a realizar absurdas crueldades”. Os fiéis, que encheram a Praça de São Pedro, escutaram Francisco a considerar que essas “crueldades” estão presentes “na loucura da guerra, onde se torna a crucificar Cristo”. “Sim, Cristo é pregado na cruz mais uma vez nas mães que choram a morte injusta de maridos e filhos. É crucificado nos refugiados que fogem das bombas com os meninos no braço. É crucificado nos idosos deixados sozinhos a morrer, nos jovens privados de futuro, nos soldados mandados a matar os seus irmãos”, manifestou.

 

5. O Papa recebeu em audiência, no Vaticano, os membros do Conselho Superior da Magistratura italiana. “O povo pede justiça e a justiça precisa de verdade, de confiança, de lealdade e de pureza de propósitos: um serviço a favor da dignidade da pessoa humana e do bem comum”, lembrou Francisco, a 8 de abril, recordando a estes responsáveis que foram chamados “para uma missão nobre e delicada”. “Ouvir o grito dos sem voz e dos injustiçados ajuda a transformar o poder recebido num serviço a favor da dignidade da pessoa humana e do bem comum”, destacou o Papa, recordando ainda que “a justiça é definida como dar a cada um o que lhe é devido”.

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