Lisboa |
Bicentenário da descoberta da imagem de Nossa Senhora da Conceição da Rocha
“Maria toma conta de nós”
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É uma “pequenina grande imagem”, como apelidou o Cardeal-Patriarca de Lisboa. Não terá mais do que 15 cm de altura e foi descoberta há dois séculos, por sete crianças, dentro de uma rocha, em Linda-a-Pastora, bem junto ao Rio Jamor. A imagem de Nossa Senhora da Conceição da Rocha desencadeia, desde essa época, um sinal de esperança.

 

Foi há 200 anos. Era dia 28 de maio de 1822. Um Domingo. Em Linda-a-Pastora, num local conhecido como Casal da Rocha, na margem direita do Rio Jamor, quase à hora da Missa na igreja de São Romão, em Carnaxide, sete rapazes estavam a brincar, começando a perseguir um coelho que, ao fugir, se mete numa toca. As crianças, entre os 11 e os 15 anos, ao tentarem apanhar o animal, descobriram uma gruta. À medida que foram avançando, constataram que se tratava de uma gruta funerária, com várias ossadas. Descobrem, então, uma pequena imagem da Virgem Maria, Nossa Senhora da Conceição, a Padroeira de Portugal, de barro cozido, envolta em modesto manto. Em memória do achado, o povo dá à imagem a invocação de Nossa Senhora da Conceição da Rocha. “Nessa altura, o nosso país encontrava-se numa situação económica e social muito grave e havia já várias décadas em que se prolongavam os sofrimentos e infortúnios dos portugueses, pelo que, neste contexto, a imagem de Nossa Senhora da Conceição da Rocha constituiu um sinal de esperança, aqui crescendo, em número e devoção, as preces dos portugueses à protetora e padroeira do reino”, salienta, ao Jornal VOZ DA VERDADE, Emílio Mata Pereira, 1.º Juiz da Irmandade de Nossa Senhora da Conceição da Rocha. “Nessa época, a descoberta foi amplamente divulgada e muita gente acorreu à gruta para prestar culto à imagem de Nossa Senhora da Conceição da Rocha”, acrescenta.

Ainda em 1822, o Rei D. João VI, “por achar que o lugar não era próprio para se efetuar o culto público”, mandou trasladar a imagem para a Sé Patriarcal de Lisboa, onde se manteve durante 61 anos. “Tomás Ribeiro, homem de muita fé e influência, passou férias de verão em Carnaxide e tomou conhecimento da tristeza do povo por terem levado a milagrosa imagem. Com os seus esforços, conseguiu devolver a imagem ao povo desta zona, tendo a trasladação da Sé para a igreja paroquial de São Romão de Carnaxide acontecido em 1883, onde veio a permanecer durante dez anos”, conta este responsável.

Em 1893, foi então concluída a construção do Santuário de Nossa Senhora da Conceição da Rocha, cujo altar-mor se situa por cima da gruta onde foi encontrada a imagem. “A trasladação da imagem foi uma cerimónia religiosa imponente, que contou com a presença da Rainha D. Amélia, dos príncipes D. Luís Filipe e D. Manuel, do presidente do conselho Hintze Ribeiro e mais entidades de relevo”, salienta Emílio.

 

Sempre Ela

O Cardeal-Patriarca de Lisboa associou-se, na manhã do passado Domingo, 29 de maio, aos festejos do bicentenário da aparição de Nossa Senhora da Conceição da Rocha. “São 200 anos da descoberta desta pequenina grande imagem de Nossa Senhora da Conceição, nesta rocha sobre a qual assenta o templo – e daí o nome –, e dois séculos de devoção, nunca interrompida, que esta irmandade, com tanto zelo, agora retoma e relança”, lembrou D. Manuel Clemente. No Santuário de Nossa Senhora da Conceição da Rocha, em Linda-a-Pastora, “tão bonito e singelo” e “que é tão significativo da nossa história nos últimos 200 anos”, o Cardeal-Patriarca lembrou as várias invocações de Maria. “Como Jesus ressuscitou e subiu ao Céu, Maria ressuscitou com o seu Filho Jesus Cristo e está connosco: chama-se aqui, Nossa Senhora da Conceição da Rocha. Como noutros lugares tem outros nomes, Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora da Assunção, da Rocha, de Fátima, mas é sempre Ela. Está com Jesus Cristo, em Deus, e a ascensão de Cristo também já n’Ela se realizou, porque está totalmente em Deus, e, por isso, está totalmente connosco, porque Deus está em toda a parte”, frisou, na Solenidade da Ascensão do Senhor. “Há dois mil anos que Maria toma conta de nós, obedecendo a esta ordem do seu Filho. Seja aqui, seja em Fátima, seja no mundo inteiro: toma conta de nós”, terminou D. Manuel Clemente.

 

Culto da padroeira

Foi há 30 anos, no início da década de 90 do século passado, que Emílio Mata Pereira começou a frequentar o santuário, juntamente com a mulher e os três filhos. “O meu filho mais velho, que faz 45 anos, teria uns 15 quando começámos a frequentar o santuário e a participar nas celebrações, em família. Íamos alternando entre Linda-a-Velha, onde moramos, e o santuário, porque gostávamos do ambiente e das pessoas daqui, que se conhecem todas”, conta o atual 1.º Juiz da Irmandade de Nossa Senhora da Conceição da Rocha, que entrou nesta associação, juntamente com a mulher, cerca de cinco-seis anos antes de assumir funções administrativas, em 2018.

Esta associação pública de fiéis católicos, com personalidade canónica e civil, foi fundada a 23 de setembro de 1893. “Os fins desta irmandade são, sobretudo, a promoção do culto da Sagrada Eucaristia, bem como o culto da nossa padroeira, Nossa Senhora da Conceição da Rocha, socorrer os pobres da paróquia, dentro das nossas possibilidades, e fomentar a vocação cristã dos membros. E, obviamente, assegurar a gestão e manutenção do santuário e sua envolvente, bem como colaborar com o nosso pároco e reitor do santuário na preparação e realização da Missa e dos casamentos e batizados que aqui têm lugar”, refere Emílio, sublinhando que, “antes da pandemia, a presença assídua dominical era de aproximadamente entre 100 e 150 pessoas, tendo diminuído substancialmente, para as 30, e algumas vezes 40, atuais”.

 

Salvar o santuário

Situado no espaço geográfico da paróquia de Queijas, o Santuário de Nossa Senhora da Conceição da Rocha, em Linda-a-Pastora, que tem como reitor, desde 2019, o padre António Tomás Correia, dehoniano de 79 anos, é muito solicitado para casamentos e batizados. Uma realidade que pode ainda aumentar. “A Câmara de Oeiras tem projetado, para esta zona, obras de grande vulto, para requalificação do jardim, muito degradado, e zona envolvente do santuário, com início previsto para o quarto trimestre deste ano. Temos a certeza que poderemos, de uma forma mais agradável, usufruir do magnífico espaço do nosso jardim, ao mesmo tempo que as famílias que venham aos casamentos e batizados poderão também aproveitar para guardar para a posteridade, através das fotos, a imagem do santuário da nossa padroeira”, deseja Emílio. “Isto, pode-nos, de alguma forma, salvar. Vai ficar muito bonito”, garante.

Este santuário mariano tem ainda um “fantástico museu”, que, contudo, está “encerrado ao público”. “O museu tem os mais diversos motivos de interesse, como azulejos e fotos dos anteriores elementos que deram ao santuário um pouco da beleza que tem, salientando-se os diversos véus, debruados a ouro, que cada noiva oferecia a Nossa Senhora na altura do casamento”, explica o 1.º Juiz da irmandade. O chão do museu, segundo refere, está “em muito mau estado”, tendo sido já pedida “a ajuda da autarquia” para a recuperação.

A vida pastoral deste templo, bem junto ao Rio Jamor, passa pela celebração da Missa de Domingo, às 12h30, e pelas confissões com o reitor. “Durante a semana, a igreja está fechada”, lamenta Emílio Mata Pereira.

 

Honrar a padroeira

É também à irmandade, “desde longa data”, que cabe “organizar as festas anuais em honra da padroeira”, que, devido à pandemia, não foram organizadas nos últimos dois anos, 2020 e 2021. “Este ano, foi possível! Metemos mãos à obra, porque não é todos os anos que se celebram 200 anos de uma aparição”, considera Emílio, sublinhando que as festas deste ano “tiveram um grande significado”. “Quisemos organizar umas festas com toda a dignidade que a nossa padroeira merece. Há mais de um ano que as começámos a preparar, mesmo sem saber como iria ser, devido à pandemia”, frisa.

As Festas da Rocha decorreram então de 20 a 29 de maio. “Se não fosse a Câmara Municipal de Oeiras e a junta de freguesia, a quem agradecemos imenso, era impossível organizar a festa. A parte profana, com os feirantes, ficou com a junta, e a câmara ajudou com os artistas; tudo o que é religioso, ficou connosco”, explica este responsável. Do programa religioso fez parte o Terço diário, às 21h00, e, no último dia, a Missa celebrada pelo Cardeal-Patriarca e a procissão, acompanhada pela banda da Sociedade Filarmónica Fraternidade de Carnaxide. “Graças a Deus, correu muito bem, com muita gente”, salienta o 1.º Juiz da irmandade.

 

Visitar a gruta

Emílio Mata Pereira, de 73 anos, aponta a “renovação dos membros da irmandade” como uma prioridade. “Tirando um ou outro membro, todos nós temos mais de 70 anos”, refere, sublinhando que a Irmandade de Nossa Senhora da Conceição da Rocha “conta com cerca de 60 membros efetivos”. Para o santuário, o principal desafio é a manutenção. “O santuário está velhote e precisa de grandes obras. O último pedido que fizemos ao presidente da União de Freguesias de Carnaxide e Queijas foi a substituição das janelas, que são de madeira e estão todas podres”, revela.

Afirmando-se devoto de Nossa Senhora “há 63 anos”, Emílio partilha o desejo de que “esta devoção não morra”. “Temos de chamar mais pessoas… estamos aqui um pouco isolados, Queijas tem a sua paróquia, Carnaxide é afastado”, lembra. Neste sentido, através do Jornal VOZ DA VERDADE, deixa o convite a visitar a gruta com a imagem de Nossa Senhora da Conceição da Rocha. “Durante as festas, a gruta esteve sempre aberta ao público. Agora, basta marcar com a irmandade, através de e-mail [irmandadensenhorarocha@gmail.com] ou do meu telemóvel [965031121]”, disponibiliza o 1.º Juiz da Irmandade de Nossa Senhora da Conceição da Rocha.

 

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“Memória viva a não perder”

No final da celebração, que foi transmitida em direto pela TVI, o Cardeal-Patriarca de Lisboa não esqueceu o apoio “da Câmara Municipal de Oeiras” e “da União das Freguesias de Carnaxide e Queijas”, e deixou um agradecimento em particular. “Agradecer a dedicação com que os Padres do Coração de Jesus, Dehonianos, se têm dedicado a este santuário e também a esta freguesia, já há tantos anos, trazendo, aqui, aquilo que também é próprio do seu carisma, que é esta religião afetiva que, no Coração de Jesus e, portanto, também no coração da sua Mãe, se vai alargando no mundo. Na presença do senhor padre João Nélio, atual provincial, quero agradecer o vosso trabalho e a vossa dedicação”, salientou D. Manuel Clemente.

À Irmandade de Nossa Senhora da Conceição da Rocha, o Cardeal-Patriarca deixou uma palavra de incentivo. “A irmandade atual, que retoma o trabalho das irmandades anteriores, com tanta dedicação vai refazendo, aqui, aquilo que, como memória viva, não se devia perder, para bem de todos. Porque a nossa alma precisa disso, para que a nossa vida seja outra coisa, seja também uma ascensão, como celebramos neste dia”, desejou D. Manuel Clemente.

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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