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Isilda Pegado
O Padre João Seabra

O Padre João Seabra partiu…

Não tenho a pretensão de saber escrever sobre tão eminente Personalidade, mas tenho o desejo de dar público testemunho do que vi e recebi dele. Por isso estas palavras serão sempre imperfeitas.

A dor e a tristeza que fica é tão objetiva, quanto foi toda a sua vida.  Guiado pela Fé, radicada no Amor a Cristo, agia com um interesse único por cada um dos que consigo se cruzavam, com realismo e amor pelas circunstâncias concretas de quem tinha pela frente. Era um apaixonado pela vida de cada pessoa, em todas as dimensões, no trabalho na família ou até no lazer: “qual o último filme que foste ver?”

Senhor das maiores capacidades intelectuais, pôs ao serviço dos outros tudo o que tinha… o tempo dele era nosso (enquanto pôde, trabalhou 7 dias por semana e 14 a 16 horas por dia – “na Eternidade, terei tempo para descansar” – dizia). Os saberes (muitos) fluíam para nos ajudar em qualquer circunstância. Usava de um humor fino que tornava o estar com o Padre João um “privilégio”. Era bom estar com o Padre João.

Deixou-nos os belíssimos restauros das Igrejas de Santos-o-Velho e da Encarnação no Chiado, que são a prova viva do realismo que o conduziu – cuidar das coisas com empenho, com saber, com tradição, com o moderno e com muita Fé, era um lema de vida.

Legou-nos essa grande vocação para a Educação, que se corporizou na grande obra que é o Colégio de São Tomás (nos diferentes pólos), depois de ter relançado a “Assistência de Santos-o-Velho” (infantário e creche) e de, no início da sua vida sacerdotal, ter sido o inesquecível Capelão da Universidade Católica (onde, ainda em vida, já era uma lenda…) e depois Professor.

A forma como conduzia as suas homilias, desde muito cedo chamou jovens e adultos. Para além da eloquência das palavras, tinha o cuidado de dar fundamentos históricos das passagens Bíblicas e, para ilustrar, relatava uma ou duas histórias reais (que levávamos para casa…). Imitando a Cristo no uso das Parábolas.

A Bíblia, no seu entender, não é um “conto virtual”. A Bíblia radica em acontecimentos históricos datados. Como usava dizer, a expressão mais relevante do Credo é “Padeceu sob Pôncio Pilatos…” porque é a carnalidade da História que ali está. Cristo Viveu e Vive na história concreta dos homens.

Também assim, nunca deixou de “olhar” para a Política e travar os combates que foram necessários – aborto, reprodução artificial, família, eutanásia ou na defesa da Igreja e do seu múnus. Como tantas vezes disse, “o Cristão está no mundo em todas as suas circunstâncias”.

Sendo um homem que cultivava a Tradição (por esta já ter sido submetida à prova do tempo, e a ele ter resistido com sucesso…), foi também um inovador ousado. Em 1982, quando Fátima estava a sofrer a crise deixada pelos tempos da Revolução de 74, ousou organizar a partir da Universidade Católica a Peregrinação a pé. Sempre com logística muito bem organizada. Até hoje, as Peregrinações a pé a Fátima são um momento pastoral de grande importância. E no que muito se revia.

Encontrou em D. Luigi Giussani (Fundador do Movimento Comunhão e Libertação - CL) uma “lanterna” para a sua vida e Sacerdócio, no Amor a Cristo e nesse grande capítulo que é a “Razão e a Fé”.  Fez do CL uma realidade em Portugal, onde milhares de pessoas vivem a sua fé de forma adulta e educada no amor a Cristo, à Igreja, à razão, à cultura, à Beleza, à Ciência… e na alegria do tempo que nos é dado viver. 

O Pastor da Igreja, a que tantos de nós devemos o encontro com Cristo, dizia quando se despediu da sua última Paróquia: “Então o que me resta? Resta-me a minha vida dada a Deus. Como no primeiro instante… Na utilidade da vida que não tem outro propósito senão Servi-Lo e oferecer se por Ele.”

O Padre João Seabra partiu… mas não nos deixou…

Obrigado!

 

Isilda Pegado,

Presidente da Federação Portuguesa pela Vida