Por uma Igreja sinodal |
Sínodo
Sinodalidade – um chamamento à conversão
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A proposta de um Sínodo sobre a sinodalidade foi recebida de maneiras muito diferentes na Igreja e, certamente, que o debate sobre a sua oportunidade ou não, sobre se esta era a questão mais importante ou se haveria outras, sobre se seria isto a trazer paz à Igreja ou se iria avivar tensões foi um debate que teve a sua utilidade e em alguns lugares ajudou a ir ao essencial. Só isso já foi um ganho. Contudo, agora que o Sínodo foi convocado pelo Papa e os bispos aderiram, parece-me que ficar de fora poderá ser visto como desinteresse não só pelo Sínodo, mas pela Igreja em si.

Como fundamento da compreensão do que implica participar num Sínodo destes importa olhar para alguns termos e daí tirar conclusões. O termo: sínodo – como certamente o sabe quem lê estas linhas – vem do grego (syn odos) e quer dizer, em síntese: caminho juntos[1]. Contudo, o uso que está a ser dado a esta palavra e a outras dela derivadas aumentou muito nestes tempos recentes e o debate actual exige alguma clarificação desde logo no significado dos vários termos usados.

Hoje em dia, falamos de Sínodo para indicar fundamentalmente duas coisas: a reunião de alguns bispos representantes dos outros bispos com o Papa (Can 342); uma assembleia diocesana convocada pelo bispo que envolve representantes de todos os católicos de uma diocese para juntos olharem para a vida dessa diocese e tomarem decisões que, escutando o Espírito Santo, considerem importantes (Can 460).

Estes são os Sínodos; já quando falamos de sinodalidade temos de explicar melhor o que isso seja. De certo modo, podemos dizer que o sínodo é uma expressão da sinodalidade[2]. Alguns chegam a identificar a sinodalidade com uma das notas da essência da Igreja, no fundo, para dizer que a natureza da Igreja é ser uma comunhão de pessoas que caminham juntas na história. Não há dúvida que Jesus quis que a comunidade dos Seus discípulos se realizasse como uma comunhão de vida, e também não há dúvida que Jesus e a Igreja dos primeiros séculos sempre viram esta unidade como algo que acontece ao mesmo tempo que se reconhece a diversidade de dons, ministérios e carismas (cf. I Cor 12).

A Igreja, entendida como povo de Deus e corpo de Cristo (cf. Lumen Gentium), precisa de todos, de todos os estados de vida e de todos os carismas e não pode prescindir de ninguém. O Cardeal Angelo Scola, há uns anos, sugeriu um neologismo que ajuda a perceber a sinodalidade. Falou dos cristãos como co-agonistas[3] para sublinhar que o verdadeiro protagonista na vida da Igreja é o Espírito Santo, e, ao mesmo tempo, dizer que todos os cristãos são importantes. A nossa missão primeira enquanto co-agonistas é a de escutarmos o Espírito Santo e de seguirmos o caminho por Ele indicado, mas, porque caminhamos juntos todos temos de sentir como nossa a co-responsabilidade sobre o que, visando o bem comum, há a discernir e a fazer.

Ao falarmos de sinodalidade teologicamente, percebemos que mais do que fazer-se uma reforma de estruturas, está-se a recordar o que é a identidade da Igreja de sempre: uma comunhão de vida dos homens com Deus. Claro que isso passa por termos reuniões e conselhos pastorais. Estas são ocasião para que todos possam contribuir e aconselhar, mas também aprender e perceber os caminhos a fazer. A sinodalidade passa por haver reuniões, contudo isso não diz tudo, pois o que deve caracterizar a sinodalidade não é tanto um organograma, mas a participação activa de todos, cada um conforme os seus dons, estados de vida e carismas, na vida e na missão da Igreja para tornar Jesus Cristo mais conhecido e amado.

Podemos concluir que há, ainda, um outro significado da palavra sinodalidade. Ela pode ser uma categoria teológica que explica a Igreja e daí pode deduzir-se uma forma de organizar a vida da Igreja, mas vemos que a sinodalidade também tem um significado que a liga à moral pessoal. Uma atitude sinodal, a partir de quanto tem sido dito pelo Papa, é uma responsabilidade pessoal que passa por escutar Deus e os outros com os seus problemas e os seus dons; uma forma de estar activo na vida da Igreja capaz de cuidar do bem comum. A sinodalidade torna-se, por isso, expressão da caridade.

Tendo isto em conta, julgo que um Sínodo sobre a sinodalidade tem um tríplice apelo: (1) a que descubramos a Igreja como uma verdadeira comunhão de vida em Cristo, ou seja, como a família de Deus que pede que cada um esteja de corpo e alma nela para caminharmos juntos neste mundo adverso; (2) a que saibamos usar as estruturas sinodais com entusiasmo, acreditando que é Deus quem nos convoca e reúne; e (3), sobretudo, a que cada um escute melhor Deus e se converta profundamente, esperando contribuir com a sua vida para o bem de todos.

 



[1] Cf. Comissão Teológica Internacional, A Sinodalidade na Vida e na Missão da Igreja, 2018.

[2] A Constituição Apostólica Eppiscopalis Communio do Papa Francisco (2018) com a qual o Papa reforma a figura do Sínodo dos bispos, continua a dizer que os sínodos são reuniões dos bispos, mas enquadra o sínodo dos bispos dentro daquilo a que chama a sinodalidade da Igreja. Se toda a Igreja caminha junta, os sínodos dos bispos são um aspecto deste caminhar junto e só se entende dentro da sinodalidade como característica de toda a Igreja. Claramente aqui sinodalidade está a significar quase o mesmo que a palavra comunhão.

[3] A. SCOLA, “A cinquant’anni dall’apertura del Concilio Vaticano II” in Teologia 37 (2012) 331-334.

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