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Jovens de Lisboa presentes no encontro ‘Economia de Francisco’, em Assis
“É possível uma economia justa, fraterna e sustentável”
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A ‘Economia de Francisco’ “não é uma utopia”. “Isto é possível e nós já estamos a construir e a viver esta nova economia”, assegura a jovem Rita Sacramento Monteiro, que esteve presente no encontro ‘Economia de Francisco’ em Assis, Itália, com o Papa.

 

“Foram dias muito inspiradores, de celebração e de encontro, e, ao mesmo tempo, de reenvio. Fica o desafio a cada um para, na sua circunstância, onde é chamado a viver, a estar, a trabalhar, a construir esta nova economia, a ‘Economia de Francisco’”. É desta forma que Rita Sacramento Monteiro resume, ao Jornal VOZ DA VERDADE, os dias vividos em Assis, entre 22 e 24 de setembro, durante o encontro ‘Economia de Francisco’, que contou com a presença do Papa. Esta jovem integra a coordenação do hub (grupo) português da ‘Economia de Francisco’ e considera que a construção desta nova economia depende de “pequenos gestos individuais”, mas também de “um desafio mais coletivo”. “Temos que nos questionar sobre a forma como hoje consumimos e estruturamos a nossa vida e as decisões que tomamos, desde as questões práticas individuais, às questões mais relacionais, como por exemplo como nos relacionamos com os outros, como olhamos os que se cruzam connosco na nossa vida e que nos pedem ajuda ou os que sofrem ao nosso lado. Mas depois, também, este desafio mais coletivo de cada um na sua organização, no seu projeto, na sua empresa, de perceber como é que contribui para a construção dessa economia”, assinala.

Rita socorre-se de palavras do Papa Francisco e convida a “olhar para as estratégias em curso e perguntar se elas, de facto, estão a transformar no sentido desta economia justa, fraterna e sustentável ou se, na verdade, são ‘pinceladas de verniz’”. “Porque se são ‘pinceladas de verniz’, chegou o tempo de tirar o verniz e, de facto, construir de fundo. Fica este desafio”, considera esta jovem.

 

“Tudo para correr bem”

O encontro ‘Economia de Francisco’, em Assis, contou com a participação de mais de mil jovens, de 120 países. De Portugal, estiveram cerca de 20 jovens, sendo metade de Lisboa. “É impressionante! Isto tem tudo para correr bem, sobretudo para continuar a decorrer bem. O Papa, quando lançou este desafio, o que quis foi exatamente pôr-nos a caminho e pôr-nos a mexer. No seu discurso, ele disse-nos: ‘A ‘Economia de Francisco’ deu corpo a um desejo e a anseios que vocês já tinham’. E é verdade! O Papa criou esta possibilidade de nos encontrarmos, como cristãos, mas não só, crentes e não crentes poderem juntar-se à volta do mesmo ideal, que é um mundo mais justo, mais fraterno, que cuida de todos e cuida da casa comum. Portanto, tem tudo para correr e para correr bem”, garante Rita Sacramento Monteiro, sublinhando que “estão reunidas muitas pessoas, ideias, corações, cabeças e mãos para o bem”. “E isso é bom”, reforça.

Em Assis, antes da assinatura do ‘Pacto por uma nova Economia’ (ver caixas), o Papa desafiou estudantes, professores, economistas e gestores a transformarem “a economia que mata numa economia da vida”. Aos jovens, pediu para serem “artesãos e construtores de uma casa comum que se está a arruinar”. Rita vê estes desafios do Papa Francisco com “muita esperança” e “desejo de corresponder”. “Sinto que, na verdade, é o próprio Deus que fala através do Papa e do desejo de cada um, não só jovem, mas de cada homem e mulher que tenta, a cada dia, viver o Evangelho na sua vida. Portanto, recebo estes desafios e sinto que correspondem ao desejo da minha vida e só anseio trabalhar por isto, por esta economia, por este mundo, porque sinto que é isso que é ser cristã”, assinala.

 

Desafiar mais jovens

Do encontro em Assis, Rita Sacramento Monteiro considera que “um dos pontos altos foi quando o Papa Francisco entrou no auditório”. “Só de recordar, fico toda arrepiada! Foi muito emocionante. Uma das jovens que estava no palco disse-lhe as palavras que todos sentíamos: ‘Papa Francisco, tu, para nós, és um amigo! És o nosso Papa, mas és um amigo’. E, de facto, sentimos isso e este pacto com o Papa é um grupo de amigos e companheiros que dizem, uns aos outros, nós estamos aqui uns pelos outros, pela casa comum e estamos aqui porque acreditamos que esta nova economia é possível”, recorda.

O movimento mundial ‘Economia de Francisco’ nasceu em maio de 2019. Cerca de um ano e meio depois, em novembro de 2020, em plena pandemia, realizou-se o primeiro encontro, de forma digital, onde estiveram ligadas cerca de quatro mil pessoas – Portugal foi o quarto país do mundo com mais pessoas a assistir. Agora, foi possível reunir os jovens em Assis. “Finalmente, estivemos juntos em presença! Com uma pandemia e uma guerra pelo meio, era mesmo preciso estarmos juntos e vermos as pessoas com quem temos estado a falar, de diferentes países, e também as pessoas de diferentes regiões do nosso país com quem temos estado a colaborar. Estarmos cara a cara, abraçarmo-nos, trocarmos ideias e pensarmos no futuro em conjunto. Isso foi muito importante para reforçar a rede, para reforçar este movimento”, considera a responsável portuguesa.

O grupo Economia de Francisco Portugal integra cerca 50 jovens, que têm feito parte deste caminho. “Vamos continuar a trabalhar em conjunto e a desafiar mais gente, à nossa volta, em Portugal a pensar e a trabalhar por esta nova economia, a ‘Economia de Francisco’”, garante Rita Sacramento Monteiro, a jovem que integra a coordenação do hub português da ‘Economia de Francisco’.

 

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Economia de Francisco Portugal

Site: www.economiadefrancisco.org

Facebook: www.facebook.com/economiadefranciscopt

Instagram: www.instagram.com/economiadefrancisco_pt 

 

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Perfil

Rita Sacramento Monteiro (em primeiro plano, na foto), de 35 anos, é da Paróquia de São Julião da Barra, em Oeiras, e integra “desde o início” a coordenação do hub (grupo) português da ‘Economia de Francisco’. Formada em Ciências da Comunicação, trabalhou, nos últimos dez anos, numa empresa portuguesa e está agora num ano sabático, dedicando-se à colaboração com diferentes projetos, entre eles com a associação Casa Velha, de inspiração Inaciana, e com a ‘Economia de Francisco’. “A oportunidade de participar no encontro ‘Economia de Francisco’, em Assis, surge do convite do Papa e materializa-se nesta resposta que queremos dar em conjunto. No fundo, em encontrar um grupo de pessoas que partilham os mesmos anseios e desejos que eu tenho”, refere Rita, sublinhando a ambição de “continuar a organizar em Portugal encontros sobre os temas da ‘Economia de Francisco’ e manter vivo o espírito de Assis”.

 

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Pacto por uma nova Economia

Nós, jovens, economistas, empreendedores, agentes de mudança, chamados aqui a Assis de todo o mundo, conscientes da responsabilidade que pesa sobre a nossa geração, comprometemo-nos agora, individualmente e todos juntos, a gastar as nossas vidas para que a economia de hoje e de amanhã se torne uma Economia do Evangelho.

Portanto:

uma economia de paz e não de guerra,

uma economia que cuida da criação e não a saqueia,

uma economia ao serviço da pessoa, da família e da vida, respeitosa de cada mulher, homem, criança, pessoa idosa e sobretudo dos mais frágeis e vulneráveis,

uma economia onde o cuidado substitui o desperdício e a indiferença,

uma economia que não deixa ninguém para trás, para construir uma sociedade em que as pedras descartadas pela mentalidade dominante se tornem pedras angulares,

uma economia que reconheça e proteja o trabalho digno e seguro para todos, especialmente para as mulheres,

uma economia onde as finanças sejam amigas e aliadas da economia real e do trabalho e não contra eles,

uma economia que saiba valorizar e preservar as culturas e tradições dos povos, todas as espécies vivas e os recursos naturais da Terra, que combata a pobreza em todas as suas formas, reduza as desigualdades e saiba dizer “Bem-aventurados os pobres”,

uma economia guiada pela ética da pessoa e aberta à transcendência,

uma economia que crie riqueza para todos, que gere alegria e não apenas bem-estar, porque a felicidade não partilhada é muito pouco.

Acreditamos nesta economia. Não é uma utopia, porque já a estamos a construir. E alguns de nós, em manhãs particularmente claras, já vislumbramos o início da terra prometida.

 

Assis, 24 de setembro de 2022

Economistas, empresárias e empresários, agentes de mudança, estudantes, trabalhadoras e trabalhadores

 

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Um pacto que “congrega a visão e os princípios”

Os jovens e o Papa Francisco assinaram o ‘Pacto por uma nova Economia’, um momento que Rita Sacramento Monteiro considera “fortíssimo”. “Vejo este pacto com muita alegria. Gosto mais, até, deste texto de agora, do que o de 2020, que era um texto com bastantes compromissos práticos: acabar com os paraísos fiscais, a importância de introduzir nos currículos das escolas e das universidades a questão do bem comum e dos bens comuns, etc. Era, de facto, muito operativo, e isso é bom, é importante, mas gosto mais deste porque sinto que precisávamos de um documento que congregasse a visão, os princípios, e este texto faz isso e aponta que economia é esta, o que é uma economia de vida, o que é uma economia do Evangelho, o cuidar da terra, da família, a partilha, finanças que de facto sejam ferramenta e que não sejam, como diz o Papa, uma coisa gasosa, que só cria desigualdades”, explica.

Esta jovem da coordenação do hub da ‘Economia de Francisco Portugal’ revela ainda o excerto do pacto que a “toca profundamente”. “A frase com que acaba o pacto – «Acreditamos nesta economia. Não é uma utopia, porque já a estamos a construir. E alguns de nós, em manhãs particularmente claras, já vislumbramos o início da terra prometida.» – julgo que diz tudo, porque acredito, e vejo, que esta economia já está a ser possível, em pequenos projetos, em movimentos no terreno, em pequenas associações, em empresas, grandes organizações que já estão a tentar pôr em prática outros critérios, novos caminhos e que, na verdade, há muitos anos, já tentam lutar por estes valores e por estes princípios. Isto não é uma utopia! Isto é possível e nós já estamos a construir e a viver”, considera Rita.

texto por Diogo Paiva Brandão; fotos por Economia de Francisco e Vatican News
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