Lisboa |
Encontro Diocesano dos Coordenadores do Sínodo
“JMJ é experiência de sinodalidade”
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O Cardeal-Patriarca de Lisboa acredita que “o trabalho em conjunto”, na preparação da Jornada Mundial da Juventude, “vai ficar e vai definir uma geração católica”. No Encontro Diocesano dos Coordenadores do Sínodo, D. Manuel Clemente reforçou a importância de “caminhar em conjunto”. “Se não vivermos em comunidade, se não trabalharmos em Sínodo, não aprendemos Deus”, garantiu.

 

O Cardeal-Patriarca de Lisboa considera que o caminho de preparação para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023 é uma “verdadeira experiência de anúncio do Evangelho” e de “sinodalidade”. “Tenho muita expectativa, e até tenho certeza, do que está a acontecer – talvez tenha sido esse o móbil principal que me levou a mim e a outros a metermo-nos nesta aventura incomensurável: é exatamente a certeza de que isto é uma experiência de sinodalidade em marcha”, salientou D. Manuel Clemente, aos cerca de 100 coordenadores locais que participaram no Encontro Diocesano dos Coordenadores do Sínodo, no passado dia 1 de outubro.

Na sede da JMJ, no Beato, em Lisboa, estes responsáveis paroquiais escutaram o Cardeal-Patriarca frisar que este caminho de preparação “vai envolver, daqui a poucos meses – porque nós estamos a 10 meses, não estamos a três anos – qualquer coisa como 30.000 voluntários”. “Os meus amigos e as minhas amigas não acreditam que depois de um trabalho, que nalguns casos já leva dois e três anos, e agora é tão intenso, com esta gente a conhecer-se e a trabalhar em conjunto, que eles não vão ganhar gosto diário em trabalhar em conjunto? Isto não é um exercício de sinodalidade prática? Um caminho que se faz em conjunto? Não podíamos ter melhor iniciação, e eu acredito que isto vai ficar marcado nesta rapaziada, nestes voluntários, na sua maioria entre os 15 e os 30 anos, nestas dezenas de milhares de pessoas que estão implicadas nisto”, observou D. Manuel Clemente, lembrando ainda a “tanta expectativa” que o Papa Francisco coloca na Jornada de Lisboa, de “ser assim a grande descompressão pós pandémica da juventude mundial”. “Este trabalho em conjunto vai ficar, vai definir uma geração católica”, garante.

 

Caminhar em conjunto

No encontro organizado pela Coordenação Diocesana do Sínodo, o Cardeal-Patriarca começou a sua intervenção por lembrar que a “palavra Sínodo quer dizer ‘caminho que se faz em conjunto’”. “A insistência sinodal que o Papa Francisco tem feito é para caminhar em conjunto”, reforçou, porque “o Deus de Jesus Cristo só se ‘apanha’ em conjunto, na relação”. “Se Deus é comunidade, quando falamos de sinodalidade, em trabalhar em conjunto, em vivermos uns com os outros e uns para os outros, em levarmos isto para a frente também em conjunto, como um povo que caminha, estamos a falar de uma realidade teológica. Não se aprende o Deus de Jesus Cristo fora da comunidade e da vida em comum”, explicou. “Mesmo o que Jesus faz, não faz sozinho. Tudo é conjunto na vida de Jesus, porque Jesus veio-nos dizer o que é a vida de Deus”, acrescentou.

D. Manuel Clemente considera que o mundo “é sinodal de nascença”, e é “comunitário de origem e de fim”. “Se não vivermos em comunidade, se não trabalharmos em Sínodo, não aprendemos Deus. Este é um problema tremendo, e talvez o mais complicado, naquilo que nós chamamos a iniciação cristã, porque não fazemos iniciações comunitárias verdadeiras”, frisou.

 

O “desafio enorme”

Perante os coordenadores locais do Sínodo, o Cardeal-Patriarca manifestou ainda que “a vivência comunitária, hoje, não está garantida”. “É muito complicado, hoje, isto da sinodalidade, o fazermos isto em conjunto. A aprendizagem de Deus só se pode fazer em conjunto, porque quem não ama não conhece a Deus. Hoje, é um desafio enorme. Considero isto o problema pastoral contemporâneo – porque os outros problemas são de sempre –, que teremos de enfrentar com coragem, com clareza e com conversão, sempre”, assumiu. Neste sentido, reforçou que “sem comunidade cristã, não há iniciação cristã”. “Hoje, temos um problema pastoral específico dos nossos dias, pelo menos aqui, neste mundo onde vivemos, Lisboa e arredores, que é a comunidade cristã: é que sem comunidade cristã, não há iniciação cristã”, acentuou D. Manuel Clemente.

 

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“Quando falamos em Sínodo, é isto: um trabalho em conjunto, de oração, de resposta. Sinodalidade é interessar-se pelas coisas, é saber, é ver se está bem, se está doente, se precisa de ajuda.”

D. Manuel Clemente, aos coordenadores locais

 

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O Sínodo nas diferentes Regiões Pastorais do Patriarcado

 

TERMO. Luís Miguel Abreu, coordenador local da paróquia da Póvoa de Santa Iria

“Paróquia ficou mais rica com o Sínodo”

Na paróquia da Póvoa de Santa Iria, na Região Pastoral do Termo Oriental, reunir “todas as realidades e sensibilidades” da paróquia, que é “muito grande”, foi “um trabalho difícil, mas muito interessante”, que “permitiu conhecer todos os grupos”. Luís Miguel Abreu, coordenador local, explica ao Jornal VOZ DA VERDADE que, da caminhada sinodal, ficou o desafio de “ir ao encontro do outro, dos jovens, das pessoas que estão afastadas”. “Tivemos uma iniciativa muito interessante, que foi o questionário lançado pela equipa, com a pergunta: ‘Porque te afastaste da Igreja?’. E as pessoas responderam e entrámos em contacto”, conta. A equipa paroquial procurou colocar estes questionários “em locais estratégicos da paróquia”, para as pessoas levarem. “As pessoas identificaram-se e disseram porque tinham saído da Igreja. Encontrámos algumas fragilidades, que temos de procurar melhorar, mas a paróquia ficou mais rica com o Sínodo porque ficou a conhecer os membros que estavam afastados e que querem voltar. Estamos a tentar que eles façam este caminho de regresso. É isso que fica também deste trabalho”, assinala este leigo, que é dirigente do Corpo Nacional de Escutas. “O mais positivo foi o chegar a quem está fora”, reforça.

 

CIDADE. Sónia Carvalho Torres, coordenadora local das paróquias da Penha de França, de São Francisco de Assis e de Santa Engrácia

“Sínodo fortaleceu a própria comunidade”

As paróquias da Penha de França, de São Francisco de Assis e de Santa Engrácia, na Região Pastoral da Cidade, juntaram-se para a caminhada sinodal, proposta pelo Papa Francisco. “Foi muito interessante porque deu a oportunidade de nos conhecermos. Começámo-nos a conhecer enquanto paroquianos, dentro da mesma paróquia, porque havia pessoas que víamos na Missa, sabíamos que eram da nossa comunidade, mas não falávamos e ligávamos pouco. O Sínodo fortaleceu a própria comunidade e começámo-nos a importar mais uns com os outros e a termos uma ideia mais clara do pensamento dos outros”, garante Sónia Carvalho Torres, coordenadora local destas três paróquias, ao Jornal VOZ DA VERDADE. Durante a fase diocesana do Sínodo sobre a Sinodalidade, os encontros que juntavam as três paróquias decorriam ao final da tarde de Domingo. “As reuniões eram das cinco às sete, mas por vezes eram nove da noite e ainda estávamos de conversa”, revela esta catequista. “Ficou a relação. Em todas as Missas, apresentávamos o resumo de tudo o que foi feito pelas pessoas e partilhávamos o nosso trabalho em relação ao Sínodo. O principal, a grande riqueza, foi mesmo a relação que ficou”, termina Sónia.

 

OESTE. Diácono António Rebelo, coordenador local da paróquia da Benedita

“Grupos paroquiais têm de ser mais sinodais”

Na paróquia da Benedita, na Região Pastoral do Oeste, a caminhada sinodal convocada pelo Papa Francisco trouxe ao de cima um desafio sentido pela comunidade: “Ficou a necessidade de os grupos paroquiais serem mais sinodais, serem mais abertos uns aos outros e não serem tão fechados”. As palavras são do diácono António Rebelo, coordenador local da paróquia da Benedita, que, ao Jornal VOZ DA VERDADE, explica que esta paróquia “é um mundo”, que tem “muitas ilhas, que depois é difícil juntar”. “No fundo, para nos conhecermos também”, aponta. Assumindo que, devido à pandemia, “foi difícil o arranque” da caminhada sinodal na comunidade, este responsável refere que o primeiro passo foi dado “com o conselho pastoral”, a que se seguiram “reuniões com os catequistas e com os diversos grupos”. “Tentámos alargar à sociedade civil, como os bombeiros, mas não nos chegou nada”, lamenta. Após os encontros por grupos, “foi feita a síntese paroquial com a ajuda de uma pessoa do secretariado permanente”. Deste tempo de Sínodo, o diácono António refere ainda o desejo de chegar a mais jovens. “São muito poucos, neste momento, os jovens que participam na Igreja. Estamos a tentar, com a JMJ e o COP, dar um impulso maior”, salienta.

 

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“Muitas comunidades conseguiram chegar mais além”

O coordenador diocesano do Sínodo dos Bispos sublinha a forma como a caminhada sinodal tem moldado as paróquias. “Nas avaliações, durante o plenário, senti que de facto muitas comunidades conseguiram chegar mais além. No fundo, ir um pouco mais longe do que fazem habitualmente, e isso é um dado positivo”, aponta, ao Jornal VOZ DA VERDADE, o cónego Rui Pedro Carvalho. Referindo que algumas paróquias “gostariam de ter chegado um pouco mais longe”, este responsável vê como “positivo” os ensaios de comunidades que “trabalharam mais em conjunto, de grupos que se misturaram, pessoas que habitualmente não participam nos grupos paroquiais e que participaram”. “Há até uma história de conversão, de um senhor que, através deste Sínodo, passou a ir à Igreja. Foram havendo experiências e um dinamismo novo”, considera.

Ao fazer um balanço do Encontro Diocesano dos Coordenadores do Sínodo, no passado dia 1 de outubro, o cónego Rui Pedro destaca igualmente a “participação muito boa”, de cerca de “80 a 90 pessoas”, tendo em conta que “já se passaram alguns meses desde o final da fase diocesana”. “Sentiu-se o entusiasmo, a alegria do reencontro e da partilha do caminho percorrido”, explica. “Mais do que os resultados e as sínteses, o mais importante de todo este caminho é o dinamismo e os processos que inicia”, acrescenta.

Para o futuro, “ficou a sugestão de juntar todas as sínteses paroquiais no site https://sinodo.patriarcado-lisboa.pt, de modo a que esta riqueza não se perca”. Por outro lado, algumas paróquias “pegaram nas sínteses paroquiais e estão agora a fazer um caminho de reflexão de como colocar estas estes resultados em prática, no dia-a-dia da paróquia e nos próximos programas pastorais”. “Se houve um discernimento e a procura da vontade de Deus para as nossas realidades, que agora se possa recebê-lo e trabalhar”, ambiciona.

textos e fotos por Diogo Paiva Brandão
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