Lisboa |
Círio de Geraldes a Nossa Senhora da Piedade da Merceana cumpre 450 anos
“Pequena Senhora de uma imensa piedade”
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Pela 450.ª vez, de forma ininterrupta, o Círio de Geraldes peregrinou ao Santuário de Nossa Senhora da Piedade da Merceana. Desde 1572 que o povo desta aldeia da freguesia de Atouguia da Baleia vai agradecer a Nossa Senhora da Piedade. O Cardeal-Patriarca de Lisboa associou-se aos festejos, que neste ano recuperaram algumas tradições como a gaita-de-foles e o cantar das loas.

 

De Geraldes, pequena aldeia de Atouguia da Baleia, à Merceana, são cerca de 50 quilómetros pelas estradas nacionais, que antigamente eram percorridos, todos os anos, de carroça, charrete, bicicleta ou até mesmo a pé, para agradecer a Nossa Senhora da Piedade. Esta tradição remota a 1572 e decorreu, sempre, de forma ininterrupta, até aos dias de hoje, tal como aconteceu na tarde do passado Domingo, 9 de outubro, em que o Círio de Geraldes a Nossa Senhora da Piedade da Merceana voltou a cumprir-se e celebrou, assim, quatro séculos e meio. “O significado destes 450 anos acaba por ser forte, pela fé e pela responsabilidade daquilo que é honrar o que foi o testemunho dos nossos antepassados”, refere, ao Jornal VOZ DA VERDADE, Ricardo Gomes, que pertence à Comissão da Igreja de Geraldes, que organiza o Círio. Para este jovem, de 30 anos, o “mais importante” é “passar às gerações vindouras” aquilo que foram “os testemunhos” daqueles que os antecederam. “Acaba por ser uma responsabilidade nós conseguirmos perpetuar esta caminhada de fé dos nossos antepassados”, reconhece.

 

Recuperar duas tradições

Eram 14h00 quando o povo de Geraldes se reuniu para iniciar a peregrinação rumo à Merceana. As carroças e as charretes foram trocadas pelos carros particulares e pelos autocarros – “dois, no caso, e cheios!”, segundo Ricardo –, mas mantiveram-se as bicicletas. “Sabemos de ciclistas que vieram logo de manhã”, assinala. Enquanto isso, no Santuário de Nossa Senhora da Piedade da Merceana, a comunidade e a confraria preparam-se para receber o Círio de Geraldes. Toda a igreja é adornada a flores e a pequena Imagem de Nossa Senhora da Piedade é colocada em lugar de destaque, para receber todos o que a visitam. Poucos minutos antes das 15h00, e já na presença do Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, do novo pároco de Aldeia Galega da Merceana, padre João Silva, e de outros sacerdotes, o povo da Merceana deixa o santuário, em procissão, para ir receber o Círio de Geraldes, que aguardava numa rua a cerca de 150 metros. Depois, todos juntos, com a cruz processional, as bandeiras, os estandartes e, claro, o andor com a Imagem de Nossa Senhora da Piedade, regressam ao santuário, ao som da gaita-de-foles, uma tradição retomada neste ano.

Uma vez chegados ao adro da igreja, cumprem a tradição de dar três voltas ao santuário, após o qual o pequeno Diogo, de forma corajosa, ‘retoma’ outra tradição que tinha sido perdida e que foi também recuperada neste ano especial dos 450 anos do Círio de Geraldes: o cantar das loas. “Sendo esta uma das romarias mais importantes da nossa região – em Geraldes, é mesmo a nossa única grande romaria e que já tem uns aninhos! –, havia a necessidade de reavivarmos algumas tradições que caíram em desuso, nomeadamente a gaita-de-foles e o cantar das loas”, explica Ricardo Gomes, que é também coordenador do Rancho Folclórico de Geraldes.

 

Agradecer

Na Eucaristia que se seguiu, o Cardeal-Patriarca de Lisboa lembrou que “tanta gente, no Círio de Geraldes, ao longo de tantos anos”, tem ido à Merceana “pedir graças de cura” e convidou o povo desta aldeia piscatória a agradecer. “Meus irmãos, é tão importante agradecer. Cada um de vós está aqui como está, os que vieram de Geraldes, de outras terras, os que são daqui, da Merceana, vieram como vieram e trouxeram o que trouxeram no coração, por si, pelos seus. E temos tanta coisa para colocar aqui, nas mãos de Nossa Senhora da Piedade da Merceana”, salientou D. Manuel Clemente.

Na sua homilia, o Cardeal-Patriarca destacou que os antigos Círios, “como é este, de Geraldes, com 450 anos – quatro séculos e meio! –”, traziam “uma grande vela, que era a manifestação do seu agradecimento pela graça recebida e o sinal da sua devoção”. “Agora, os Círios somos nós, o nosso coração agradecido. E é por isso que aqui estamos, nesta bonita relação com Deus que nós conseguimos através de Jesus e da sua Mãe, Nossa Senhora, Nossa Senhora da Piedade”, explicou. “É importante que cada um de nós, vindo de longe, de mais perto, ou daqui, se ponha diante da Senhora da Piedade, aquela pequena Senhora de uma imensa piedade. É tão pequenina, mas a piedade é imensa! E agradeça o que já recebeu, de Jesus e da sua Mãe, da piedade divina, da piedade de Maria. Agradeça! Esse é que é o Círio do agradecimento, a vela acesa da nossa gratidão”, acrescentou.

D. Manuel Clemente considerou ainda ser “impressionante” como Nossa Senhora da Piedade “tem repartido a sua piedade com tantos romeiros que aqui têm vindo, de Geraldes e de outras partes”. “A piedade, o coração de Deus, o coração de Jesus, o coração de Maria: é isto que nos sustém, é isto que faz com que a nossa vida tenha futuro. Um futuro que nós não conseguiríamos, mas que a partir de Deus está garantido, a partir da piedade de Deus tão bem manifestada na Mãe que Ele teve neste mundo e que aqui continua connosco: Nossa Senhora da Piedade.  Este é que é o sentido do nosso Círio”, terminou o Cardeal-Patriarca de Lisboa.

 

“Santuário que nos diz muito”

A história do Círio de Geraldes, segundo Ricardo Gomes, está ligada, eventualmente, às trocas comerciais. “Segundo o que apurei junto de alguns registos, o Círio de Geraldes tem a ver com a antiga estrada do mar que passava aqui, por esta zona, desde a nossa terra, talvez pelas trocas comerciais para a Grande Lisboa. Nós temos uma grande tradição de renda de bilros e havia muitas encomendas de pessoas de Lisboa com mais posses. A troca comercial era feita por esta estrada, segundo os registros mais antigos, e, talvez por isso, os nossos antepassados tivessem parado aqui, neste santuário, e começado a fazer o Círio a Nossa Senhora da Piedade”, conta este leigo, que é natural de Geraldes.

Alem deste dia de festa, a 9 de outubro, os 450 anos do Círio de Geraldes foram assinalados com várias iniciativas. No dia 2, foi organizada uma Conferência sobre Círios na Estremadura, que contou com a participação do etnomusicólogo José Alberto Sardinha, considerado um dos maiores especialistas nacionais na área da música popular portuguesa e autor do livro ‘Tradições Musicais da Estremadura’, e pelo padre Diogo Correia, pároco de Peniche, com tese de Mestrado sobre a temática dos Círios. Esta iniciativa, na igreja de Geraldes, teve ainda um apontamento musical pelo coro local.

No dia da peregrinação à Merceana, após a Missa presidida pelo Cardeal-Patriarca, teve lugar um concerto pelo Coral Stella Maris, de Peniche. “Nos últimos anos, temos feito, num ano, um concerto pelo coro de Geraldes, e no seguinte, pelo Rancho Folclórico de Geraldes. Este ano, optámos por convidar o Coral Stella Maris, para ser algo diferente nestas comemorações dos 450 anos”, salienta Ricardo. O concerto em honra de Nossa Senhora foi seguido de um convívio no centro pastoral. “Este é um santuário que nos diz muito. Queremos apenas que a devoção dos nossos antepassados, desde 1572, persista”, deseja Ricardo Gomes.

 

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Nossa Senhora da Piedade da Merceana

“Que cada um de vós, durante um ou dois minutos, olhe para esta pequenina grande Imagem e ponha nas mãos de Nossa Senhora da Piedade da Merceana isso que tem no fundo do seu coração, por si e pelos seus. Dêem-lhe oportunidade para Ela manifestar a sua piedade, agradecendo tudo aquilo que Nossa Senhora tem feito, há 450 anos, ao povo de Geraldes, que aqui vem, e em todo o lado onde a sua piedade chega. Tenham confiança! Ela é Mãe!”

D. Manuel Clemente, no final da homilia

 

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“Em nome da paróquia de Aldeia Galega da Merceana e do santuário, dar graças a Deus por mais este ano termos esta possibilidade de celebrar este Círio, com 450 anos, que é uma data redonda.”

Padre João Silva, pároco de Aldeia Galega da Merceana


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Santuário de Nossa Senhora da Piedade da Merceana

O Santuário de Nossa Senhora da Piedade da Merceana está situado na antiga freguesia de Aldeia Galega, e a sua lenda remonta ao ano de 1305. Um pastor notou que todas as tardes um boi chamado Marciano se afastava da manada, tornando a aparecer depois. Admirado com o caso, seguiu o animal e foi encontrá-lo ajoelhado junto a um carvalheiro, em cuja ramagem se encontrava uma pequena imagem de Nossa Senhora da Piedade. O prior e os habitantes de Aldeia Galega, quer pelo acontecimento quer pela devoção, decidiram construir uma ermida para abrigar a imagem.

Em torno da primitiva ermida, foi nascendo e crescendo a malha urbana, permitindo que Merceana se tornasse um local de peregrinação e culto, e sede de uma abastada Confraria.

in www.quovadislisboa.com

(site da Pastoral do Turismo do Patriarcado de Lisboa)

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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