Família |
Congresso Teológico Pastoral “A Vocação ao Amor e à santidade dos jovens e das famílias”
Narrar a nossa história torna-a mais valiosa
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No dia 5 de Outubro, decorreu, no auditório e no centro paroquial de Santa Joana Princesa, em Lisboa, o Congresso Teológico Pastoral com o título “A Vocação ao Amor e à santidade dos jovens e das famílias”, promovido pela Pastoral da Família em conjunto com a Pastoral Juvenil. Por isso, como não podia deixar de ser, quem entrasse no espaço, seria logo acolhido por famílias e jovens, mesmo que fosse apenas para lanchar no café paroquial.

 

A designação do congresso (Teológico Pastoral) traz-nos algo de académico, que arrisca ser pesado ou até mesmo asfixiante. Mas para os participantes foi totalmente o oposto: a simplicidade comunicativa de uma vida que vive a sua vocação ao amor e à santidade, a que todos os cristãos são chamados. Portanto, tal como disse o padre Duarte da Cunha, “a teologia é uma vida, é a certeza de que Deus comunica e Se comunica através da vida”.

A manhã foi dedicada ao conhecimento. Depois das palavras de abertura e de uma oração inicial, feita pelo casal responsável da Pastoral, com a presença especial do bispo Dom Daniel Henriques, seguiu-se uma apresentação da Professora Filipa Ribeiro da Cunha, “Chamados a (Re)aprender a amar”, na qual, durante cerca de uma hora, todos os participantes foram convidados a não se distraírem e a “deixarem-se guiar pelo Espírito Santo”, não tendo pressa de registar tudo aquilo que ouviam, para isso o ambiente sereno e silencioso foi fundamental. A viagem proposta foi um percurso pela pintura de Marc Chagall, o pintor judeu do século XX, na qual o destino da viagem dos dois apaixonados, frequentemente retratados pelo pintor, é sempre o Céu. O violinista, a cabra, o galo, as flores, todos elementos estéticos que fazem parte do quotidiano, que nos indicam o caminho. Até o apaixonado pode ser (e é evidentemente o sinal eminente) do caminho do Homem. Entre as explicações da Professora Filipa e as citações valiosíssimas dos últimos quatro papas, de don Luigi Giussani, do padre Julián Carrón, de São Josemaría Escrivá, da audição de obras de compositores como Mozart e Beethoven, a músicas de Claudio Chieffo (“Balada do amor verdadeiro”) e de Mafalda Veiga (“Um pouco de céu”) tudo concorreu para criar no auditório atento e silencioso a convicção de que o Céu existe e só é possível chegar lá através do amor. O matrimónio, para Chagall, é a dança dos apaixonados pelo caminho da vida em que “não olham um para o outro, mas olham os dois na mesma direção". A vocação dos pais é chegar ao céu e “os filhos, por meio da relação com os pais, são introduzidos à beleza” (discurso do padre Julián Carrón no Encontro Mundial das Famílias em Madrid, 2006).

Após esta apresentação, os olhos de todos os casais e jovens presentes estavam agora fixos nos céus de Chagall, a procurar fazer também das suas vidas “lugares de beleza” (Papa Bento XVI, discurso no Encontro com o Mundo da Cultura em Lisboa, 2010). Privilegiando a liberdade individual, cada participante pôde escolher um de vários workshops com temas tão diversos: do namoro ao divórcio, dos desafios do casamento à educação dos jovens, do trabalho de cada dia à complementaridade entre homem e mulher.

 

O almoço, servido por jovens com T-shirts cor-de-laranja da Pastoral da Família, foi ocasião para aprofundar e partilhar os temas que tinham surgido durante os workshops e aplicá-los à realidade de cada um. Por feliz coincidência, na mesa onde fiquei a almoçar estavam noivos, casais recém-casados, um pai de uma recém-nascida e namorados a pensar no matrimónio. Com o coração e os olhos no alto, os pés desejam percorrer o mesmo caminho para lá chegar.

 

A parte da tarde do congresso foi dedicada à resposta à vocação, com três momentos de encontro. O primeiro, sobre a santidade na relação pais e filhos; este teve a participação especial de pais de jovens beatos ou jovens com fama de santidade dos últimos anos; cada um deles com o seu desejo de ser feliz, que não os fez renunciar àquilo que os caracterizava: a paixão pelas montanhas, a informática, o surf, que usavam calças de ganga, que queriam ajudar os outros, etc. A santidade é real e possível e estes jovens são testemunho disso, cada um no seu país, todos juntos no Céu.

O segundo encontro foi introduzido pela pergunta: “E nós? Também podemos ser santos?”, com o testemunho de vários ‘santos da porta ao lado’. Em primeiro lugar, ouvimos a Sílvia a testemunhar como os pais viveram a vocação à paternidade e à maternidade através de  crianças que não eram biologicamente suas,  em seguida contou-se sobre a vida de um padre que acompanhou os então namorados Cláudia e Fernando no percurso de decisão até ao matrimónio, num terceiro momento ouviu-se a história comovente do Luís sobre a sua mulher Isabel que o acompanha desde o Céu e cujo testemunho despoletou a conversão do próprio, e por fim a Pilar que, acompanhada pela mãe, nos recordou que a santidade é para todos, não apenas para os “perfeitinhos”, é para quem ama e se deixa amar.

De novo o desejo estava a apontar para o alto, porque nem as fragilidades inerentes à condição humana impedem o homem de viver intensamente o real. O veredito da plateia foi coletivo: “também eu quero ser santo! É possível? Como?”. A mesa-redonda que se seguiu veio provar exatamente isso: é possível ser santo e viver agarrado às tecnologias, apenas se se estiver mais agarrado a Deus; viver o namoro sem ser escravos da nossa história, mas curados pela misericórdia divina e viver ao lado da mesma pessoa toda a vida desejando amar, mesmo que não se “goste” sempre. Como referiu o moderador da mesa-redonda, Pedro Feliciano, recorrendo ao título de uma conversa entre a falecida escritora Ana Luísa Amaral e o cardeal Tolentino de Mendonça, “narrar a nossa história torna-a mais valiosa”, a resposta a esta pergunta, como pudemos ver nos olhos dos narradores, é sim.

 

Na sua síntese do encontro, o Pe. Duarte da Cunha recordou-nos que a santidade é algo próprio do cristianismo (não existe noutras religiões esta experiência de ser santificado pela vida de Deus) e que os que vivem assim têm a “perfeita perceção de que Deus é real: Jesus é Alguém presente!”.

texto por Ricardo Formigo
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