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P. Manuel Barbosa, scj
Fraternidade sem Fronteiras

1. Fraternidade sem Fronteiras foi o lema do Congresso Missionário que decorreu em Lisboa a 14 e 15 de outubro. Dois dias intensos com significativa participação presencial e digital. Excelentes intervenções, bem como a sentida oração inter-religiosa e a “meditação” musical conduzida por Rão Kyao.

Fraternidade sem Fronteiras aponta para uma fraternidade sem quaisquer fronteiras geográficas, religiosas, culturais, políticas e sociais. A realidade pauta-se geralmente pela exclusão, mas o congresso quis precisamente provocar transformações centradas no diálogo inter-religioso e intercultural, que por natureza é inclusivo.

Do muito que recebemos durante o congresso, saliento apenas duas intervenções: a mensagem do Papa (através do Cardeal Parolin, Secretário de Estado) e a reflexão do Cardeal José Tolentino Mendonça.

 

2. Na sua mensagem, o Papa espera que o congresso “possa corroborar nos participantes o anseio mundial de fraternidade como filhos desta mesma terra que nos alberga a todos, cada qual com a riqueza da sua fé ou das suas convicções, cada qual com a própria voz, mas todos irmãos”.

O diálogo autêntico implica olhar o outro, sem preconceitos, implica aproximação mútua numa atitude aberta e disponível. “Com a ajuda de Deus, podemos caminhar juntos na forte convicção de que os verdadeiros ensinamentos das religiões convidam a permanecer ancorados aos valores da paz, do conhecimento mútuo, da fraternidade humana e da convivência comum”.

O diálogo autêntico coloca no centro a pessoa humana, livre de exprimir a sua fisionomia e criatividade, a nível pessoal e comunitário. “Deve-se evitar a tentação da abstração, de se limitar ao nível das ideias, esquecendo a vertente concreta do agir e do caminhar juntos: precisamos de fazer, juntos, algo de bom e concreto. Trata-se dum canteiro de obras sempre aberto, que reclama a boa vontade, a colaboração e o contributo universal, a fim de que os lugares sagrados cada um se tornem oásis de paz e de encontro para todos”.

 

3. Reconstruir a esperança na fraternidade foi o desafio que nos deixou o Cardeal Tolentino. Destaco duas notas.

Substituir a hostilidade pela fraternidade implica redescobrir o nós como a tarefa mais urgente da humanidade, passando da cultura da hostilidade à cultura da interdependência e da fraternidade, centrada no bem comum. “Em vez de dizermos eles, deveríamos ser mais capazes de dizer nós, alicerçando-nos no reconhecimento de uma condição comum. Isso passa por implementarmos uma verdadeira amizade social, como um horizonte político e cultural necessário para argamassar a esperança num futuro eticamente qualificado”.

É inerente à esperança a ousadia em adquirir um campo novo (utilizando a imagem do profeta Isaías), mesmo quando tudo parece a desmoronar-se, também neste tempo que estamos a viver, se olharmos apenas para a crise devastadora. “Este não é o momento para fazer cair os braços em desânimo, mas é um tempo para apostas de confiança. Não é só um compasso de espera que nos deixa como que suspensos numa dolorosa indefinição: é também um desafio à interlocução com o futuro e a dar passos concretos na sua direção. Não é só um tempo para fechar a semente no celeiro enquanto se aguardam as condições que consideramos propícias: este é um tempo bom para os semeadores saírem para o campo. Não é só uma estação para gerir aflições crescentes: é também a ocasião em que Deus nos ordena que arrisquemos como Igreja, que compremos um campo novo, que arrisquemos sonhar”.

O Presidente da Assembleia da República convidou-nos a conjugar esforços para celebrar juntos 22 de junho como Dia da Liberdade Religiosa e do Diálogo Inter-religioso, que só faz sentido se esse diálogo for assumido como diálogo permanente e quotidiano. Feliz seguimento do Congresso!

 

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P. Manuel Barbosa, scj