
Após a visita ao Bahrein, o Papa Francisco pediu “mais encontros entre cristãos e muçulmanos”. Na semana em que falou sobre o tema dos abusos na Igreja, o Papa recebeu o fragmento de uma mina russa que destruiu uma igreja na Ucrânia. Vaticano esteve presente no COP 27 e deixou um alerta.
1. Por que o Papa foi ao Bahrein? A pergunta foi lançada, na audiência-geral de quarta-feira, 9 de novembro, pelo próprio Francisco, para responder que “o diálogo nos ajuda a descobrir a riqueza de quem pertence a outras tradições, outros credos”. E que “somente através dele podem ser abordados temas universais, como a indiferença em relação a Deus, a tragédia da fome, o cuidado com a criação e, enfim, a paz”, acrescentou.
No encontro público semanal, na Praça de São Pedro, o Papa lembrou a urgente necessidade do diálogo e do encontro. “Penso na loucura da guerra, da qual é vítima a martirizada Ucrânia. Penso neste e em tantos outros conflitos, que jamais serão resolvidos pela lógica das armas, mas com a suave força do diálogo. Contudo, não pode haver diálogo sem encontro”, referiu, manifestando o “desejo emergente de que ocorram mais encontros entre cristãos e muçulmanos, que evitem as divisões ideológicas”. Trata-se de um percurso iniciado por São João Paulo II em Marrocos, onde agora se insere esta viagem ao Bahrein, que Francisco classificou como “um novo passo no caminho para construir alianças fraternas entre cristãos e muçulmanos” e, assim, continuar este caminho da fraternidade e da paz.
No final da audiência, o Papa deixou uma palavra ao povo cipriota, em luto nacional pela morte do Patriarca ortodoxo Chrisostomos II, “um homem de diálogo e amante da paz, que procurou promover a reconciliação entre as diferentes comunidades do país”.
2. O Papa despediu-se do Bahrein, a 6 de novembro, com novo apelo à unidade. “Procuremos ser guardiões e construtores de unidade”, pediu. No último encontro antes de regressar a Roma, Francisco sublinhou a riqueza da experiência humana da Igreja neste país do Golfo, constituída por “um pequeno rebanho formado por migrantes”. Para ser credíveis no diálogo com os outros, é preciso “viver em fraternidade e valorizar os carismas de todos sem mortificar ninguém”, chamados a serem “sinais vivos de concórdia e de paz”.
Na véspera, e pela primeira vez na história deste país esmagadoramente muçulmano, um Papa celebrou Missa ao ar livre para uma vasta comunidade católica de milhares de fiéis estrangeiros que trabalham e vivem no país. Para viver a fraternidade universal de modo concreto e “perseverar no bem mesmo quando recebemos o mal”, é preciso “quebrar a espiral da vingança, desarmando a violência, desmilitarizando o coração”, disse, no Estádio Nacional do Bahrein, convidando a “amar sempre e amar a todos”, tal como fez Jesus. Ainda neste dia, o Papa pediu aos jovens para serem “campeões de fraternidade”. Foi num encontro na única escola católica do país, a Sacred Heart School, que tem estudantes e funcionários de 29 nacionalidades e diferentes culturas, línguas e contextos religiosos.
Na sexta-feira, 4 de novembro, no Bahrein, o Papa tinha reiterado que “Deus é Fonte de paz” e que “o Deus da paz nunca conduz à guerra, nunca incita ao ódio, nunca apoia a violência”. Dirigindo-se ao Conselho Muçulmano dos Anciãos, na Mesquita do Palácio Real Shakir, Francisco pediu a Deus que “nos conceda ser, por todo o lado, canais da sua paz”. Porque “nós, que cremos n’Ele, somos chamados a promover a paz através de instrumentos de paz, como o encontro, pacientes negociações e o diálogo, que é o oxigénio da convivência comum”.
3. O Papa garantiu, sobre o tema dos abusos, que “a Igreja está determinada”. “Estamos a trabalhar arduamente, mas sabes que há pessoas dentro da Igreja que ainda não estão a ver claro. E dizem: ‘Esperemos um pouco mais, vamos ver…’ É um processo que implica coragem e nem todos a têm. Mas a vontade da Igreja é a de esclarecer tudo”, assegurou Francisco, a um jornalista francês que o questionou durante o voo de regresso do Bahrein, no Domingo, 6 de novembro.
O Santo Padre reafirmou que os abusos praticados por sacerdotes “são contra a própria natureza sacerdotal e também contra a própria natureza social”. “É uma coisa trágica. E a primeira coisa que precisamos de sentir é a vergonha, ter profunda vergonha disso. Podemos lutar contra todos os males do mundo, mas sem vergonha não conseguiremos”, frisou.
4. O arcebispo da Igreja Greco-Católica ucraniana, Sviatoslav Shevchuk, foi recebido pelo Papa e ofereceu o fragmento de uma mina russa que, em março passado, destruiu a fachada da igreja greco-católica ucraniana de Irpin. Segundo referiu, os pedaços de minas russas são “extraídos dos corpos de soldados, crianças e civis ucranianos, um sinal visível da destruição e da morte que a guerra causa todos os dias”. Numa nota, o arcebispo reiterou o agradecimento ao Santo Padre por tudo o que tem feito para deter a guerra, mediar a paz e libertar os reféns e prisioneiros. “O Papa encorajou a Igreja da Ucrânia a estar próxima da população”, lê-se.
5. “A crise socio-ecológica que vivemos é um momento propício para a conversão individual e coletiva e para tomar decisões concretas que não podem mais ser adiadas”, disse esta terça-feira, dia 8, o cardeal Pietro Parolin, na 27.ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP 27), de 6 de novembro a 18 de novembro, em Sharm el-Sheikh, no Egipto. O Secretário de Estado do Vaticano manifestou preocupação pelo “fenómeno crescente dos migrantes deslocados por causa desta crise socio-ecológica”, e considerou que “os Estados não podem sair daqui sem soluções tangíveis”, com vista a “aumentar a disponibilidade e flexibilidade dos caminhos para a migração regular.”
Esta é a primeira vez que a Santa Sé participa não como observador, mas como Estado-parte da Convenção e do Acordo de Paris, na sequência do anúncio que o Papa fez, em 2020, ao garantir que o Vaticano se compromete com a meta de neutralidade carbónica, quer reduzindo as emissões zero até 2050, quer na promoção da educação à ecologia integral.
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