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Quaresma é o tempo “para lutar contra as falsidades e a hipocrisia”
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O Papa Francisco esteve de retiro de Quaresma. Na semana em que foi anunciada a visita papal à Hungria, o Papa lamentou um novo naufrágio com migrantes na costa italiana, assistiu a um documentário sobre primeiro ano da guerra na Ucrânia e garantiu que “a Quaresma faz cair as máscaras da hipocrisia”.

 

1. O Papa Francisco e os seus colaboradores iniciaram, no passado Domingo, 26 de fevereiro, os exercícios espirituais de Quaresma, uma semana dedicada à oração e reflexão. Segundo uma nota divulgada pelo Vaticano, Francisco “convidou os cardeais residentes em Roma, os chefes de Dicastério e os superiores da Cúria Romana a viver de forma pessoal um período de exercícios espirituais, suspendendo a atividade laboral e recolhendo-se em oração”, até sexta-feira, 3 de março.

Pelo terceiro ano consecutivo, o habitual retiro de Quaresma do Papa e dos seus mais diretos colaboradores vai decorrer de forma privada, sem deslocação à Casa do Divino Mestre, em Ariccia, nos arredores de Roma. Nesta semana, todos os compromissos de Francisco foram suspensos, incluindo a audiência-geral de quarta-feira, 1 de março.

 

2. O Papa vai realizar uma vista apostólica à Hungria, de 28 a 30 de abril. No programa, divulgado pelo Vaticano no dia 27 de fevereiro, além dos encontros oficiais com a presidente húngara, Katalin Novák, o primeiro-ministro, Viktor Orbán, e representantes da sociedade civil húngara, o Santo Padre vai encontrar-se também com pobres e refugiados. A agenda prevê ainda encontros com responsáveis da Igreja e agentes de pastoral que, no último ano, se têm desdobrado a apoiar os milhares de refugiados que entram na Hungria provenientes da Ucrânia. A título privado, o Papa desloca-se também a um instituto que acolhe crianças cegas.

A visita de Francisco concentra-se apenas em Budapeste. Além da Missa que celebra no último dia, Domingo, numa praça da capital, destaque para dois encontros significativos: o primeiro com jovens, num pavilhão desportivo, e o segundo com o mundo académico e cultural, numa faculdade da Universidade católica de Budapeste.

 

3. O Papa mostrou-se entristecido com o naufrágio que vitimou dezenas de migrantes, incluindo um recém-nascido, nas costas da Calábria, sul de Itália. “Soube, com dor, do naufrágio que aconteceu na costa da Calábria, junto a Crotone. Rezo por cada um deles, pelos desaparecidos e pelos outros migrantes sobreviventes. Agradeço a todos os que levaram socorro e aos que oferecem acolhimento. Que Nossa Senhora apoie estes nossos irmãos e irmãs”, disse Francisco, na janela do apartamento pontifício, após a recitação da oração do Angelus no passado Domingo, 26 de fevereiro. Pelo menos 43 migrantes morreram quando o barco em que viajavam se afundou, ao largo da costa da Calábria, segundo o balanço divulgado pela Guarda Costeira da Itália; há 80 sobreviventes, vários dos quais se encontram feridos.

Naquele Domingo I da Quaresma, Francisco alertou também para as “tentações” do poder e da desconfiança, que afetam a vida espiritual dos católicos. “O apego às coisas, a desconfiança e a sede de poder são três tentações difundidas e perigosas que o demónio usa para nos separar do Pai e não nos fazer sentir como irmãos e irmãs entre nós, levando-nos à solidão e ao desespero”, salientou, sublinhando que “a palavra divina é a resposta de Jesus à tentação do diabo”. Francisco recomendou ainda aos católicos que recorram à Bíblia nas suas “lutas espirituais”.

 

4. O Papa assistiu, no Vaticano, à projeção de um documentário sobre o primeiro ano da guerra na Ucrânia, após a invasão da Rússia, e cumprimentou algumas das pessoas apresentadas pela obra. “Não tenhamos vergonha de sofrer e de chorar, porque uma guerra é a destruição, uma guerra diminui-nos sempre. Que Deus nos faça compreender isso”, disse Francisco aos presentes. Na noite de dia 24 de fevereiro, o Papa acompanhou a projeção na última fila, na Sala Nova do Sínodo, sentado junto a uma criança; a sessão especial, promovida pelo Vaticano, destinava-se a refugiados, pessoas desfavorecidas e membros da comunidade ucraniana de Roma, acompanhados pelo cardeal Konrad Krajewski, esmoler pontifício. “Hoje cumpre-se um ano desta guerra: olhemos para a Ucrânia, rezemos pela Ucrânia e abramos o nosso coração à dor”, apelou.

O documentário ‘Freedom on Fire: Ukraine’s Fight for Freedom’ (‘Liberdade debaixo de fogo: a luta da Ucrânia pela liberdade’) é assinado pelo realizador Evgeny Afineevsky, nascido na Rússia, que em 2020 apresentou uma obra sobre o pontificado de Francisco. No final da projeção, o Papa destacou que, “quando Deus fez o homem, pediu que cuidasse da terra, a fizesse crescer e a tornasse bela”. “O espírito da guerra é o contrário: destruir, destruir, não deixar crescer, destruir todo mundo: homens, mulheres, crianças, idosos, todos”, lamentou.

 

5. Em Quarta-Feira de Cinzas, o Papa deixou dois convites para viver o tempo de Quaresma: “Regressar à verdade de nós mesmos e regressar a Deus e aos irmãos”. Na homilia da Missa que celebrou a 22 de fevereiro, na basílica romana de Santa Sabina, o Santo Padre considerou que o tempo litúrgico de preparação para a Páscoa “ajuda a mudar a visão que temos de nós mesmos no nosso íntimo”. “A Quaresma é um tempo de verdade, para fazer cair as máscaras que pomos todos os dias a fim de aparecer perfeitos aos olhos do mundo”, disse. É o tempo “para lutar contra as falsidades e a hipocrisia: não as dos outros, mas as nossas”, acrescentou.

Sobre o “regressar a Deus e aos irmãos”, Francisco frisou que o tempo da Quaresma ajuda a “abrir-nos no silêncio à oração e a sairmos da fortaleza que é o nosso eu fechado, a quebrar as cadeias do individualismo e a voltar a descobrir, através do encontro e da escuta, a pessoa que caminha diariamente ao nosso lado e a aprender novamente a amá-la como irmão ou irmã”.

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