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P. Manuel Barbosa, scj
100-10-5: simbólicas

Quem olha para este título certamente estranhará o seu sentido. Sobretudo num tempo em que quase todos falam das mesmas coisas, na Igreja e na sociedade. Para mais neste dia em que estou em plena assembleia dos bispos na função de secretário da conferência episcopal. Temas não faltariam para partilhar como opinião ou simples narrativa.

Fico-me pelas simbólicas do 100-10-5: 100 por ser o centésimo texto que convosco partilho neste espaço; 10 por tal acontecer durante uma década, desde setembro de 2013 (só interrompido nos meses de agosto e em tempo de pandemia); 5 por indicar uma recente proposta do Papa Francisco. Se as duas primeiras simbólicas são de celebração cronológica, esta última implica futuro.

No encontro com os jovens e catequistas no Congo a 2 de fevereiro, o Papa associa 5 ingredientes para construir o futuro aos 5 dedos da mão. A mão de cada um é única e irrepetível, os gestos que ela realiza podem servir para destruir ou construir, para matar ou dar vida, para reter ou dar, para odiar ou amar.

1. A oração pode relacionar-se com o dedo polegar, o mais próximo do coração. Uma oração viva, sem medo, dirigida a Jesus como o mais próximo e maior amigo, que na Cruz deu a vida por amor. «A oração é a arma mais poderosa que existe. Transmite-te o conforto e a esperança de Deus. Abre-te sempre novas possibilidades e ajuda-te a superar os medos. Quem reza vence o medo e assume o próprio futuro».

2. O dedo polegar sugere que indicamos algo aos outros, a comunidade. Indicar a comunidade como futuro implica deixar de lado os individualismos e egoísmos, solidões e isolamentos, exclusões e condenações; implica estar conectados com os outros, não propriamente nas redes sociais e distantes, mas nas redes reais e próximas de pessoas que caminham juntas; implica cuidar do outro e oferecer-lhe bondade, beleza e amizade. «És chamado a ser protagonista: criador de comunhão, campeão de fraternidade, corajoso sonhador dum mundo mais unido».

3. A honestidade, relacionada com o dedo médio, é dimensão essencial da identidade do cristão, discípulo e testemunha de Jesus. Ser honesto é espalhar a luz de Deus, é viver a bem-aventurança da justiça. «Não te deixes vencer pelo mal: não vos deixeis manipular por indivíduos ou grupos que procuram servir-se de vós para manter a sociedade na espiral da violência e da instabilidade, para continuarem a controlá-lo sem consideração por ninguém. Mas vence o mal com o bem: sede vós os transformadores da sociedade, os conversores do mal em bem, do ódio em amor, da guerra em paz».

4. O perdão relaciona-se com o dedo anelar, o dedo mais frágil, o dedo das alianças, do recomeço constante e da mudança provocada pelo amor. «Caminha, pondo fim ao rancor, sem veneno, sem ódio. Caminha, assumindo o estilo de Deus, o único que renova a história. Caminha e acredita que, com Deus, sempre se pode recomeçar, sempre se pode voltar a partir, sempre se pode perdoar!»

5. O dedo mindinho, da humilde pequenez, aponta para o serviço que pode transformar a Igreja e o mundo. «É belo servir os outros, cuidar deles, fazer algo gratuitamente, como Deus faz connosco».

Eis 5 ingredientes que nos podem ajudar a reorientar as nossas prioridades segundo aquilo que Deus deseja para cada um de nós. O Papa convida-nos a «dar ao coração e à vida pontos firmes, direções estáveis, para iniciar um futuro diferente, sem se deixar levar pelos ventos do oportunismo».

Se a Quaresma nos ajudou a reorientar o rumo das nossas vidas, a Páscoa é tempo para construir o futuro no dinamismo de vida nova como ressuscitados.

100-10-5: nas referidas efemérides, desejo continuar a partilhar dimensões de renovação da Igreja que somos, como as que o Papa nos sugere no referido encontro, que vale a pena revisitar.

 

P. Manuel Barbosa, scj