Por uma Igreja sinodal |
Sínodo
O Documento da Etapa Continental da Ásia (Parte 2/2)
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V – TENSÕES ASIÁTICAS (84 - 115)

Identificam-se várias tensões quer universais, quer específicas do continente asiático. Não se pretende resolver tudo para já, mas identificá-las e reflectir no que o Espírito Santo diz à Igreja na Ásia.

Ressaltam diversas tensões: na vivência da Sinodalidade; na tomada de decisões; nas vocações sacerdotais; no envolvimento das mulheres; no envolvimento dos jovens; no cuidado pelos pobres; nos conflitos religiosos; no clericalismo.

 

VI – REALIDADES E DIVERGÊNCIAS ASIÁTICAS (116 - 131)

Tendo em conta que o Cristianismo é uma minoria na Ásia (3,3%, e alguns lugares menos de 1%) há um grande sentido de amor por Jesus e a Sua Igreja. A espiritualidade asiática, caracterizada por um grande respeito pela Natureza, está interligada com um profundo sentido de piedade e devoção popular. Esta devoção acaba muitas vezes por dirigir as pessoas para a Igreja, católica ou não católica, mas ao mesmo tempo, devido ao sentido humano, dança, arte e silêncio, dos nossos ritos específicos, cria tensões na celebração formal dos sacramentos. Surge a necessidade da criatividade no redescobrimento da essência da Liturgia para as pessoas se encontrarem com Deus com expressões asiáticas de adoração. Reconhece-se a existência de tensões entre as culturas asiáticas e as nossas expressões de fé em termos de linguagem, imagens e mesmo conceitos acerca de autoridade e poder.

Há uma tensão crescente entre valores tradicionais (espirituais) e modernidade, mesmo entre o clero, os religiosos e as famílias, com a consequente relativização da fé, e materialismo e individualismo de padres, e a falta de testemunho credível.

A família é muito importante em muitas sociedades asiáticas. A fidelidade filial pode chegar ao ponto de muitos fazerem sacrifícios generosos para preservar a unidade e paz familiar. O seu papel no desenvolvimento do processo sinodal e na renovação da Igreja é por isso, muito importante. A Igreja precisa ouvir as vozes das famílias.

Nota-se em muitos ambientes uma divisão entre as pessoas, baseada na casta, língua, etnia, estatuto sócio-económico, e uma crescente intolerância para com a diferença. Em muitos lugares a postura secular e o estilo de vida da liderança da Igreja também causa tensão pois oposta à pobreza evangélica à missão de ser a igreja dos pobres na Ásia.

 

VII – LACUNAS IDENTIFICADAS NAS RESPOSTAS (132 - 163)

Foram identificadas algumas preocupações que não ressaltam das respostas nacionais ou às quais não foi dada a devida consideração.

O cuidado pela Casa Comum – escutar o grito dos povos e da natureza.

A partilha de recursos – ser uma igreja sinodal de uns para os outros.

A presença da juventude no presente – integrar os jovens já na vida da igreja, dando-lhes responsabilidade e credibilidade.

Família e matrimónio – como igreja doméstica defender a vida em todos os aspectos e em todas as fases. Dar atenção aos crescentes matrimónios inter-religiosos e interculturais.

Pobreza, corrupção e conflitos – numa das zonas mais pobres do mundo, mas onde coexistem os mais ricos, atender ás desigualdades e aos sistemas corruptos cada vez mais presentes.

Os povos indígenas – respeitar os costumes e tradições (mesmo dentro da Igreja) e os seus legados culturais.

A Igreja no mundo – a Igreja existe no mundo e para o mundo, mas muitas das suas respostas são autorreferenciais. Deve abrir-se mais ao mundo envolvente.

Migrantes, refugiados e deslocados, tráfico humano – situações cada vez mais presentes que necessitam denúncia e soluções integradas em espírito de acolhimento na Tenda comum.

Construção da paz – a Igreja pode e deve ter um papel activo nos processos de paz e de reconciliação.

Prevenção e proteção de menores e vulneráveis – sendo uma grande preocupação (apesar dos números relatados serem residuais devido sobretudo a razões culturais), a Igreja deve estar atenta e criar mecanismos de prevenção e proteção.

O papel dos Bispos – tendo um papel indispensável na vida da Igreja, na liderança do processo sinodal, são o garante da verdade evangélica e devem ser o exemplo de que Igreja e Sínodo são sinónimos, como afirmava São João Crisóstomo.

 

VIII – PRIORIDADES SAÍDAS DAS RESPOSTAS ASIÁTICAS (164 - 179)

Com uma grande variedade de respostas, há no entanto, algumas ideias transversais que apontam para uma liderança profética e serva que estimule uma conversão contínua. Eis a 6 prioridades emergentes.

Formação – sobre sinodalidade, para todo o povo de Deus, incluindo clero, seminaristas, religiosos e famílias, para aprender o estilo de discernimento e de tomada de decisões a todos os níveis.

Inclusão e hospitalidade – que nenhum dos marginalizados deixe de ser acolhido, cuidado e ter o seu lugar na Tenda alargada da Mãe Igreja.

Discípulos missionários – a Igreja tem que ser profética e testemunhal e “soprar” o Evangelho a todos e cada um, seguindo o exemplo de tantos mártires asiáticos, construindo pontes de diálogo e discernimento em comum.

Credibilidade e transparência – não só em matéria de finanças mas em processos de tomadas de decisão e de governo, em ambiente de corresponsabilidade e colaboração, em que cada um abraça e respeita os carismas dos outros.

Oração e adoração – a nossa maneira de rezar e adorar deve reflectir-se e tocar os corações dos povos asiáticos. As celebrações devem ser mais “sinodais”, isto é, participativas, inculturadas, conviviais para que todos possam encontrar um lugar para adorar Deus.

Ambiente – no cuidado pela Casa Comum a Igreja deve estar na linha da frente, não só protegendo a Mãe Terra mas também curando-a das suas feridas, tal como Jesus que veio para redimir e reconciliar todas as coisas. Como membros do Corpo de Cristo somos chamados a ser uma Igreja ambiental em solidariedade e respeitar, proteger e cuidar da Sua criação. A preocupação ambiental não é apenas ecológica, mas também espiritual e social.

 

IX – “DESCALÇANDO OS SAPATOS”: A JORNADA SINODAL ASIÁTICA (180 - 185)

É prática comum entre os Asiáticos descalçar os sapatos quando entram em casa e templos. É um belo sinal de respeito, que demonstra a nossa consciência em relação àqueles em cuja vida penetramos, ou então a expressão do respeito pelo sagrado. Lembra as palavras de Deus a Moisés, e torna-nos mais conscientes do nosso contacto com a terra que somos chamados a proteger e cuidar.

Os sapatos podem ser um sinal de estatuto, e tirá-los significa que nos reconhecemos todos iguais e os pés nus identificam-nos mais com os pobres.

“Descalçar os sapatos” como imagem da jornada sinodal da Igreja na Ásia abraça a nossa experiência como Igreja relacional, contextual e missionária, caminhando juntos em humildade e esperança.

 

X – CONCLUSÃO (186 - 193)

Não sendo uma novidade absoluta, sobretudo a nível nacional, diocesano e paroquial, o processo sinodal permitiu aos Católicos da Ásia uma melhor compreensão regional e universal das consolações e preocupações das diferentes Igrejas. O processo de discernimento revigorou a vida da Igreja, através da participação daqueles que tantas vezes têm estado nas periferias. A esperança foi o sentimento mais presente, embora se reconheça o cepticismo de alguns.

Este processo deve agora fluir para todos os níveis da vida da Igreja, fazendo parte da normalidade do seu ministério e da actividade.

Conquanto a implementação das mudanças das estruturas seja importante, os aspectos relacionais não podem ser esquecidos como parte integrante duma Igreja sinodal.

O documento termina invocando a maternal protecção de Maria, Mãe da Ásia.

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