Lisboa |
II Congresso Diocesano da Pastoral Sócio-Caritativa
Jovens como “construtores de pontes”
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Membro do Vaticano, o padre João Chagas esteve em Lisboa e refletiu sobre a relação entre a pastoral juvenil e a pastoral social, convidando ao “milagre da cultura do encontro” que “os jovens podem ter a coragem de viver”. O II Congresso Diocesano da Pastoral Sócio-Caritativa, realizado em Óbidos, sublinhou como “os jovens são peças fundamentais no futuro das instituições sociais da Igreja”.

 

“Todos os dias deparamo-nos com situações em que podemos escolher, ou não, ajudar os outros. Tal como o tema da JMJ Lisboa 2023, ‘Maria levantou-se e partiu apressadamente’, Maria escolheu ajudar”, começou por lembrar o chefe do Departamento do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, padre João Chagas, presente no II Congresso Diocesano da Pastoral Sócio-Caritativa. Falando sobre ‘A família, os jovens e a Pastoral Social’, na manhã do passado dia 19 de maio, em Óbidos, o sacerdote brasileiro alicerçou a sua intervenção na exortação apostólica pós-sinodal ‘Christus vivit’ (‘Cristo vive’), do Papa Francisco aos jovens, e que “é o documento da Igreja que está mais em voga no campo da pastoral juvenil”. “Na ‘Christus vivit’, do ponto 168 até ao 174, é impressionante como nesses poucos parágrafos se fala de maneira tão forte, tão intensa, do tema da pastoral juvenil na sua relação com a pastoral social”, explicou, lendo depois o primeiro desses pontos: “O Papa diz que a vocação laical é antes de tudo a vocação à caridade. ‘A caridade na família, a caridade social, a caridade política: é um compromisso concreto, a partir da fé, para a construção de uma sociedade nova, é viver no meio do mundo e da sociedade para evangelizar as suas mais diferentes instâncias, para fazer crescer a paz, a convivência, a justiça, os direitos humanos, a misericórdia, e assim estender o Reino de Deus no mundo’. Isto são pérolas”.

 

Amizade social

O padre João Chagas ingressou na Comunidade Shalom em 1991, aos 16 anos, foi ordenado sacerdote em 2001 e é especialista em pastoral juvenil, principalmente na organização de Jornadas Mundiais da Juventude, desde 2011. “Na Igreja, nós somos uma família. Na preparação para o Sínodo dos Jovens, houve um seminário de estudos, em 2017, onde se perguntava aos jovens o que eles queriam encontrar na Igreja. O que eles responderam, de uma maneira geral: queremos encontrar na Igreja uma comunidade, uma família, uma casa. Se não conseguirmos criar esse clima de casa de família, de comunidade, os jovens não virão. Precisamos de começar entre nós”, alertou, lembrando que, “muitas vezes”, os jovens “encontram-se em não lugares, em lugares que não são lugares de encontro”, e que “a atitude de Igreja é ir ao encontro deles”. “Muitos jovens vivem hoje uma incapacidade, pelo menos a nível mais profundo, da convivência social mais profunda”, lamentou, lendo depois o ponto 169 da ‘Christus vivit’: “O Papa faz uma proposta os jovens: ir para além dos grupos de amigos habituais e construir aquilo a que ele chama de amizade social, procurando o bem comum”.

Para o sacerdote brasileiro, “é importante educar a nossa juventude para construir pontes”. “Sejam capazes de construir amizades social, pondo de lado as diferenças para lutar juntos por um objetivo comum, encontrando pontos de convergência no meio de tantas divergências. É o compromisso artesanal de construir pontes. Esse é o milagre da cultura do encontro que os jovens podem ter a coragem de viver”, convidou o chefe do Departamento do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, que esteve por estes dias em Lisboa.

 

Peças fundamentais

Organizado conjuntamente pelo Departamento da Pastoral Sócio-Caritativa do Patriarcado de Lisboa e pela Federação Solicitude, o II Congresso da Pastoral Sócio-Caritativa decorreu no Auditório Municipal Casa da Música de Óbidos, no dia 19 de maio, e reuniu perto de duas centenas de agentes desta pastoral. “São importantes estes momentos, porque saímos da nossa rotina. Em conjunto, refletimos, ouvimos o outro e percebermos que não estamos sozinhos”, salientava, na sessão de abertura, o diretor diocesano desta pastoral, Manuel Girão.

Segundo este responsável, o congresso pretendeu “trazer os jovens” para a dinâmica da pastoral social. “Os jovens são peças fundamentais no futuro das instituições sociais da Igreja”, assegurou, considerando que se vivem “tempos desafiantes, tempos de alguma incerteza” na vida das instituições. “É crucial, juntos, congregarmos esforços, criatividade e generosidade, desenvolvendo as melhores estratégias de ação, criando proximidade, partilhando experiências e mais valias, chegando onde as estruturas estatais, tantas vezes, não conseguem chegar. O que nos move, exclusivamente, é a eficácia ao serviço do bem comum e àqueles que mais precisam”, destacou o diretor do Departamento da Pastoral Sócio-Caritativa do Patriarcado de Lisboa.

 

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Dar atenção às potencialidades da população sénior

O Cardeal-Patriarca de Lisboa considera que “há um enorme desperdício”, não apenas na Igreja, mas “na sociedade”, das potencialidades da população sénior. No encerramento do II Congresso Diocesano da Pastoral Sócio-Caritativa, D. Manuel Clemente salientou que “muitas coisas feitas à pressa”, “mal feitas, mal escritas e mal terminadas”, não aconteceriam se “quem sabe” fosse ouvido. “Desperdiçamos, mas desperdiçamos muito, grande parte da disponibilidade existencial, tanto de sabedoria, de experiência feita, de conhecimentos, e prática de vida”, lamentou.

O Cardeal-Patriarca passou o dia com os agentes da pastoral social e anunciou que estão previstos, para o mês de outubro, encontros com todos os que trabalharam na organização da Jornada Mundial da Juventude, para que, juntos, pensem a pastoral da diocese. Os encontros deverão acontecer em cada uma das 18 vigararias do Patriarcado de Lisboa. “Esta jornada está a criar uma geração, e vai traduzir-se numa maneira de estar na vida para muitos milhares de jovens a que podemos chamar ‘geração Jornada Mundial da Juventude 2023’ ou ‘geração 23’”, referiu D. Manuel Clemente, sublinhando ainda que a JMJ tem envolvido jovens de todo o país.

 

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“Estão inscritos [na JMJ Lisboa 2023] jovens de praticamente todos os países do mundo, faltam apenas de um ou dois, imaginem bem! É algo que nunca aconteceu em nenhuma edição da Jornada Mundial da Juventude! É um enorme esforço que estamos a oferecer à juventude mundial.”

D. Manuel Clemente, Cardeal-Patriarca de Lisboa, antes da oração da manhã

 

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‘A Economia de Francisco aplicada às Instituições Sociais’

“A ‘Economia de Francisco’ é um sinal importante para a Igreja e para o mundo”. Foi desta forma que Rita Sacramento Monteiro, que integra a coordenação do hub (grupo) português da ‘Economia de Francisco’, iniciou a sua intervenção no II Congresso Diocesano da Pastoral Sócio-Caritativa. Para esta jovem, a ‘Economia de Francisco’ é “um processo”. “Não é a proposta de um modelo económico, nem tão pouco de uma solução fechada para os grandes desafios do mundo, económicos e outros, mas é um processo que surgiu de uma carta que o Papa escreveu aos jovens de todo mundo – e que cerca de cinco mil responderam –, em que pedia ajuda para construir uma economia mais humana, uma economia inclusiva, uma economia verdadeiramente sustentável”, explicou esta gestora de projetos, sublinhando que este processo “está ligado à Doutrina Social da Igreja e é inspirado por São Francisco de Assis, um santo que foi um sinal importante para a Igreja e para o mundo na construção de pontes e na preocupação com a casa comum”.

Rita Sacramento Monteiro esteve presente, em setembro passado, no encontro ‘Economia de Francisco’ em Assis, Itália, com o Papa, onde foi assinado um pacto. “O pacto de Assis apela a uma economia diferente, que faz viver e não mata, inclui e não exclui, humaniza e não desumaniza, cuida da criação e não a devasta. Esta é a visão, o cerne da alma desta nova economia”, resumiu.

 

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‘Os jovens e a Pastoral Social’

Para Maria Aleluia Ribeiro Telles, de 26 anos, os jovens “gostam de sentir que constroem caminho”. No II Congresso Diocesano da Pastoral Sócio-Caritativa, Maria Aleluia centrou a sua intervenção no que os jovens querem da pastoral social e o que não os atrai tanto. Para isso, esta gestora que está na equipa do ‘Caminho 23’ da JMJ Lisboa 2023 interrogou mais de 100 jovens voluntários da JMJ.  “Nós, jovens, temos sentido de missão, gostamos de novidade, diversidade, promover o bem e criar impacto positivo, ser ativos agentes de mudança e transformadores, gostamos de trabalhar com base em valores cristãos. Gostamos de sonhar alto e temos gosto pelo setor social. Gostamos de humanizar o trabalho e de construir pontes, como já foi aqui falado”, apontou. Sobre o que não os atrai tanto: “Aquilo que não é novo, a burocracia, métodos pouco inovadores, equipas mais seniores, a pouca visão de futuro e também o que dá trabalho e não dá dinheiro”.

Maria Aleluia, que trabalhou numa startup social, confidenciou ter “o sentimento” que, “por vezes”, acham que os jovens “não querem entrar no setor social e não estão interessados”. “Podemos trazer muita coisa ao setor social, coisas novas, inovação, visão diferente com os mesmos valores, novidade, sangue novo, dinamismo, energia e motivação para arrancar com coisas novas”, exemplificou, reforçando, a terminar: “Há muita vontade dos jovens de poder participar nas instituições da Igreja”.

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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