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A Ovelha Ranhosa, por Ana Barquinha
Alguém com o sinal de menos.

Aquele que os outros menosprezam ou desprezam.

O que tem características mais ou menos desagradáveis para os que o rodeiam.

As ovelhas ranhosas enchem os bancos das escolas, os empregos medianos ou simplesmente não têm emprego.

Mas também estão nas nossas famílias. E é sobre as ovelhas ranhosas das nossas famílias que gostava de vos falar.

As características das ovelhas ranhosas variam porque a “ranhosidade” lhes é colada de fora, por parte de quem com elas se relaciona. Por isso, não existe um tipo único. Existe “o chato”, o menos inteligente, o que não foi para advogado ou médico, o artista, o insuportável, o implicativo, o hilariante, o lento, o deficiente, etc, etc, os exemplos multiplicam-se, porque o defeito está sobretudo nos olhos de quem as vê.

Em fases precoces são assim.

Em fases posteriores, as ovelhas ranhosas largam a crisálida que as cobre, digamos, libertam-se da tutela dos “achadores de ovelhas ranhosas” e transformam-se. Por vezes, em esplêndidos seres multicores que encadeiam, com a sua espectacularidade, os olhos doentes dos achadores. Outras, aquelas que absorveram o veneno no processo de crescimento, saem mirradas, deformadas, longínquas da visão gloriosa que Deus traçou para elas na Criação.

E temos: os temerosos, os emocionalmente desequilibrados, os de identidade sexual trocada, os que se drogam, os alcoólicos, os violentos, os rancorosos, os homicidas, os suicidas...

E regresso às ovelhas das nossas famílias. São as nossas crianças e adolescentes, com as suas características únicas, o seu carácter singular e irrepetível.

Até que ponto os nossos olhos os vêem como Deus, que nos entregou estes tesouros tão grandes para cuidarmos e ajudarmos a crescer?

Até que ponto a maravilha da sua criação e da nossa cooperação nessa criação nos trespassa de encantamento e gratidão?

Que não são como nós os queríamos; que são irascíveis e desobedientes, malcriados, egoístas, implicativos; que saem ao lado pior da família; que nos envergonham a cada passo, nos desautorizam, nos humilham, etc. Quando falamos assim, quando pensamos assim, quando desabafamos assim, é de nós que falamos. Sim, de nós. O que eles parecem ser para nós. E não o que eles são de facto, nem a sua imagem magnífica aos olhos de Deus.

Podemos zangar-nos com os nossos filhos. Mas não podemos mostrar-lhes a visão deformada do olhar mesquinho com que, por vezes, os vemos. Sob pena de a crisálida se romper e dar lugar ao que imaginamos ou pior.

Que as nossas palavras para com os nossos filhos reflictam sempre a nossa mútua filiação divina, o Pai de Quem viemos e para O qual havemos de retornar: “Meu filho, serás sempre para mim único, magnífico e irrepetível. Por muitos erros que cometas, manterei no meu coração esta certeza: de que és filho de Deus e, portanto, és uma maravilha com que Deus prendou a minha vida. E se és difícil para mim, que da minha dor nasça o Amor Maior, o Amor que nada pede em troca.” 

Salvemos as nossas crianças, purifiquemos o nosso olhar, amemos mais e melhor o nosso irmão difícil que Deus nos deu para amar mais de perto.