
“No caso dos países ‘tradicionalmente’ cristãos a Igreja acomodou-se! A Igreja ou é missionária ou não é Igreja! E não há nova evangelização se não nos assumirmos como uma Igreja missionária”. O responsável pelo Departamento da Evangelização do Patriarcado de Lisboa, padre Paulo Malícia, saúda a recente criação do Conselho Pontifício para a Evangelização.
Na homilia de Vésperas da Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, o Papa fez uma reflexão na perspectiva da vocação missionaria da Igreja e anunciou a criação de um novo conselho pontifício para “promover uma renovada evangelização nos países onde já ressoou o primeiro anúncio da fé mas que vivem uma progressiva secularização da sociedade”.
A mais dura batalha
Para o padre Paulo Malícia, “a Igreja tem andado adormecida e deve agora redescobrir-se como missionária”. O que na perspectiva deste sacerdote não é uma tarefa fácil. O Papa, na homilia, recordou os seus antecessores Paulo VI e João Paulo II que deram um grande impulso à missão da Igreja, uma herança que ele próprio acolheu. “Também o homem do terceiro milénio deseja uma vida autêntica e plena, precisa de verdade, de liberdade profunda, de amor gratuito. Também nos desertos do mundo secularizado, a alma do homem tem sede de Deus, do Deus vivo”. Essa sede tem hoje mais do que uma ‘solução’ e para o padre Paulo a maior batalha da Igreja é contra a indiferença. “Este ‘eclipse do sentido de Deus’ levou à indiferença nas pessoas. Torna-se assim muito difícil dialogar e propor um caminho em conjunto com alguém que é completamente indiferente ao que dizemos”.
Com tanta ‘oferta’ neste mundo secularizado, se a Igreja não se reestrutura corre o risco de ser ‘apenas’ mais uma solução. “O grande perigo e a grande batalha de hoje – e o Papa tem alertado para isso – é o relativismo e a cultura de indiferença que esta onda de laicização criou. Hoje temos o problema do ‘vale tudo’ e quando é assim, a nossa proposta é só mais uma que rapidamente se dilui no meio de tanta coisa. E esta é que é a nossa mais dura batalha”, alerta o padre Paulo Malícia.
O essencial é o amor a Deus
Há regiões do mundo que ainda esperam uma primeira evangelização. Outras que a receberam, mas precisam de um trabalho mais aprofundado. Outras ainda nas quais o Evangelho lançou raízes desde há muito tempo, dando lugar a uma tradição cristã, mas, de acordo com Bento XVI, “nos últimos séculos – com dinâmicas complexas – o processo de secularização produziu uma grave crise do sentido da fé cristã e da pertença à Igreja”.
Para o director do Departamento da Evangelização do Patriarcado de Lisboa só há uma forma de fazer uma nova evangelização: os cristãos serem presença do amor misericordioso de Deus. “Acho que só há uma maneira de fazer esta ‘nova’ evangelização: aqueles que descobriram Jesus Cristo partilharem essa descoberta com amor. Tudo o resto são estratégias que valem pouco… deixemo-nos de grandes planos e de grandes estratégias e centremo-nos no essencial que é o amor a Deus e o amor ao próximo! É preciso uma Igreja que se renove neste amor e não esteja preocupada com o número, mas com a qualidade, a beleza e a verdade da sua presença no meio de nós”, garante.
Um sinal de esperança
A concluir a sua homilia, Bento XVI afirmou que “o desafio da nova evangelização interpela a Igreja e pede também que se prossiga com empenho a procura da unidade plena entre os cristãos”. Em Portugal, na passada semana, a Conferência Episcopal publicou a Carta Pastoral ‘Para um rosto missionário da Igreja em Portugal’ onde apela a uma nova cultura de evangelização. Para o padre Paulo Malícia, este é um “sinal de esperança” que vai envolver todos os baptizados. Porque, como salienta, “a missão dos dias de hoje é ‘aqui e agora’”.
“Fiquei muito feliz com esta carta que apela de novo ao sentido da missão. Porque os lugares e os caminhos da missão são hoje diferentes do que eram. Vejo com muitos bons olhos a tentativa de reavivar o espírito missionário, porque ou nos revemos como uma Igreja missionária em que a missão está na nossa própria casa ou no vizinho do lado… ou então nunca lá iremos! Temos de redescobrir os caminhos de missão nos espaços onde estamos e mais, temos de ser capazes de sermos missionários uns para com os outros, em Igreja. Os caminhos de missão que passam sempre pelo meu próximo”, conclui.
Aposta na reestruturação e em melhor formação
No Patriarcado de Lisboa, o padre Paulo Malícia preside ao Departamento da Evangelização, que comporta o Sector da Catequese, do Ensino Religioso (SDER), da Pastoral da Juventude e da Pastoral Universitária. Estes são sectores chave da vida cristã para esta nova evangelização, uma vez que são chamados de sectores de iniciação cristã. Para o padre Paulo, a maior aposta do Patriarcado de Lisboa passa pela reestruturação e por uma melhor formação de quem lida com crianças e jovens. “A minha principal preocupação tem sido, ao longo dos anos, a reestruturação da iniciação cristã e a seriedade da formação dos agentes que trabalham nestes principais sectores”, afiança.
Portugal é um dos destinatários do novo conselho pontifício
D. Manuel Clemente, Bispo do Porto, acredita que Portugal é um dos destinatários do novo Conselho Pontifício para a Evangelização e espera empenho por parte da Igreja. “Esta ‘nova evangelização’ requer efectivamente um empenho forte de todos nós e ganhará muito com a criação do novo organismo pontifício”, apontou, em declarações à Agência Ecclesia.
Para o Bispo do Porto, a evangelização hoje já não é como no passado: “Durante muito tempo pensámos a evangelização em dois quadros quase fixos, mas foi sobretudo o Papa João Paulo II quem insistiu no facto de se ter aberto um terceiro quadro, o dos territórios de antiga evangelização onde se perdeu entretanto a vivência cristã e a vivacidade da fé, requerendo estes uma nova incidência evangelizadora, nova no ardor, nos métodos e nas expressões”.
Sobre a Carta Pastoral ‘Para um rosto missionário da Igreja em Portugal’, publicada pela Conferência Episcopal Portuguesa, D. Manuel Clemente reforça a ideia de que “a Europa é actualmente um espaço para a missão ‘ad gentes’”, porque “o Evangelho de Jesus Cristo é cada vez menos conhecido”.
Monsenhor Rino Fisichella nomeado presidente do Conselho Pontifício para a Evangelização
Bento XVI escolheu o arcebispo italiano Salvatore (Rino) Fisichella como presidente do recém-criado Conselho Pontifício para a Evangelização. Monsenhor Rino Fisichella, de 58 anos, era presidente da Academia Pontifícia para Vida e reitor da Universidade Pontifícia Lateranense.
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