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Crise de prioridades, por Pe. Alexandre Palma
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A principal razão que me faz hesitar tem, porém, que ver com o respeito que me merecem aqueles que mais sabem da crise: os que mais cruamente lhe sentem os efeitos! É que as análises fazem-se de generalizações e nestas nem sempre parecem encontrar lugar os pequenos dramas das vidas reais. Ao opinar sobre estas coisas, não quero perder de vista que entre os leitores destas linhas contar-se-ão, por certo, esses para quem a crise não é só conversa.
Mas como conter a perplexidade causada por uma recente notícia segundo a qual, só no primeiro trimestre de 2010, ter-se-ão vendido em Portugal 1,24 milhões de telemóveis? Qualquer coisa como 574 por hora! Não tenho como me certificar da veracidade destes números. Dou-a por adquirida. Admito, além disso, que haja muitas e boas razões para tal ou até que alguns queiram ver nesses números um qualquer sinal da muito aguardada retoma. Nada disso, porém, é suficientemente forte para calar a insanidade que estes números espelham: a nossa aparente incapacidade de adaptar o estilo de vida a circunstâncias presentes mais austeras e a um futuro imediato mais incerto. E este será somente um exemplo entre tantos que aqui se poderiam trazer – outro, este à escala global: a Apple, que pensara vender mundialmente 750.000 novos iPad’s entre os meses de Março e Maio, terá conseguido vender cerca de 2,5 milhões. Tratar-se-ão, por certo, de exemplos insignificantes. Ainda assim, julgo-os simbólicos de algo que urge mudar.
Ouvimos com frequência reclamar por um corte nas despesas do Estado. Não será também chegado o momento de os cidadãos reverem também a forma como gastam alguns do seus recursos? Seria um insuperável contra-censo esperar uma coisa, sem se admitir a outra. É certo que a «vida moderna», particularmente em meios urbanos, tende a confrontar as famílias com um conjunto significativo de novas despesas, que muito lhes sobrecarregarão o orçamento. Mas serão todas elas essenciais? Não haverá aí muito de supérfluo, mesmo que à partida o não pareça? Não irei aqui multiplicar os exemplos que tenho em mente para não cair (ainda mais) no ridículo. Nem me parece tal absolutamente necessário para que se perceba como a actual crise vive, em parte, da nossa dificuldade em estabelecer prioridades. Quando os recursos abundam posso dar-me ao luxo de tornar por prioritário o que, de facto, é secundário. Ao invés, quando esses recursos diminuem discernir uma coisa da outra torna-se decisivo. A resistência em reajustar padrões de vida às novas circunstâncias, por mais compreensível que possa ser, será sempre um factor promotor e prolongador da crise que todos queremos ultrapassar. As novas circunstâncias em que somos chamados a viver demandarão novos paradigmas de vida. Ou, vendo a coisa por um outro ângulo, demandarão aquela liberdade autêntica que permitiu a Paulo «saber passar provações e saber viver na abundância» e estar sempre preparado «para viver na abundância e para sofrer carências» (cf. Fil 4, 12).
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