De acordo com o cientista britânico Stephen Hawking, Deus não criou o Universo. Uma ideia contrária a uma anterior teoria sua. Este diálogo entre a ciência e a religião não é de agora, por isso, em entrevistas à VOZ DA VERDADE nos últimos dois anos, três especialistas comentam este diálogo, por vezes ‘pouco amigável’, entre a fé e a razão.
Deus não criou o Universo,
por Stephen William Hawking, de 68 anos, é um dos mais consagrados físicos teóricos da actualidade.
O cientista britânico Stephen Hawking publicou um novo livro, no qual exclui a possibilidade de Deus ter criado o Universo, contrariamente ao defendido numa anterior teoria sua.
De acordo com o cientista, o ‘Big Bang’ – a explosão que originou o mundo – foi uma consequência das leis da física. ‘The Grand Design’ (‘O Grande Desígnio’) é o seu novo livro que está à venda desde 9 de Setembro – lançado precisamente quando faltava uma semana para a visita de Bento XVI ao Reino Unido. Hawking defende agora que a ciência moderna não é compatível com um Deus criador do Universo. O britânico sustenta a sua teoria no facto de, em 1992, ter sido observado um planeta que girava em torno de uma estrela que não o Sol, comprovando a possibilidade de existirem outros planetas e universos e que, consequentemente, se a intenção de Deus era criar o Homem, os restantes universos seriam redundantes.
Rui Agostinho
“O diálogo ciência-fé vai acompanhar a humanidade durante muitos milénios”*
Rui Agostinho é professor de Física e Astrofísica na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
Depois de Darwin ter criado a teoria da evolução do ser humano a partir do macaco e não através da ‘mão’ de Deus, a ciência e a fé tiveram de encontrar um relacionamento diferente. Como vê o diálogo – ou a oposição – entre a ciência e a fé?
É um diálogo que vai acompanhar a humanidade durante muitos milénios. Porque uma coisa é a revelação divina e outra coisa é o entendimento e a aceitação que a humanidade faz da revelação divina. Podemos olhar a história da humanidade e a atitude humana perante a natureza e vemos que quando o conhecimento humano conhecia pouco sobre a natureza, a atitude de conhecimento da natureza era filosófica, introspectiva e de análise, não experimental. Hoje sabemos que o universo começa com o ‘Big Bang’. Portanto, não podemos confrontar literalmente aquilo que o texto do Génesis diz, com aquilo que é a realidade do nosso universo.
Então a Bíblia está errada?
Não, é totalmente o oposto! Por exemplo, quanto à evolução das espécies, muitas pessoas fazem confusão: afinal, quem apareceu antes, foram os homens ou os dinossauros? A revelação divina não tem a preocupação de pôr Deus a dizer: ‘Olhem que eu fiz o universo em sete dias… e depois fiz um arco-íris’. A mensagem principal é: ‘Eu criei o universo’. Deus não esteve a explicar quais foram os mecanismos que utilizou para fazer isso. ‘Eu criei o universo e a vida, e criei-vos para estarem comigo até ao final dos tempos’.
*entrevista pelo padre Vítor Gonçalves, na edição de 22 de Fevereiro de 2009
Conor Cunningham
“Sem Deus nada funciona”*
Conor Cunningham é um filósofo e teólogo irlandês, reconhecido internacionalmente pelos seus livros de filosofia que pretendem acabar com as controvérsias pessoais e institucionais entre pensamento e fé
Na sua opinião a religião não pode ser um ‘extra’, um apêndice da vida humana. Porquê?
Porque sem Deus nada funciona. O mundo natural – árvores, flores, cães, gatos, crianças, comida – requer o teológico, requer o divino, requer tudo isto só para existir. Não podemos ter natureza – o mundo natural – sem Deus. Quando tirarmos Deus e considerarmos o mundo natural, o mundo natural implodirá, entrará em colapso.
Mas a cultura actual rejeita Deus…
Penso que a actual cultura cria mais violência, mais injustiça, mais hipocrisia, inconsistência e vamos todos sofrer por causa isso. Teremos Estados-Nações a pensarem que são deuses e fazer guerra contra outros Estados-Nações.
Mas será que vai haver um colapso por si próprio?
Não! Porque o pecado vai aparentemente sobreviver na humanidade. Agora, as mortes que advêm desta cultura poderão ser horrorosas para nós. Sempre que falares como cristão e pareceres ser reaccionário ou reactivo ou conservador ou simples… e até quando falamos da Europa como continente cristão, já não gostamos de fazer isso. E se o fizeres, parece que és fascista ou que estás a discriminar. Mas isso não é verdade! Só por ser uma cultura cristã, particular, é que podemos acolher a diferença.
*entrevista por Edgar Clara, na edição de 21 de Junho de 2009
Padre Manuel da Costa Freitas
“As pesquisas científicas não podem provar a existência de Deus porque ela está provada”*
O padre Manuel da Costa Freitas, falecido a 2 de Janeiro último, era professor emérito da Universidade Católica Portuguesa e professor convidado da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tendo sido ainda coordenador da edição portuguesa da ‘Enciclopédia Interdisciplinar de Ciência e Fé’
As relações entre a verdade religiosa e a verdade científica são temas de frequentes debates. Ciência e fé podem então ter um diálogo possível.
O raciocínio sobre a ciência é de natureza diferente da do raciocínio que se aplica na teologia. Só podemos lidar com a fé sabendo que ela existe. E existe aonde? A fé, ainda antes de termos analisado com toda a profundidade, ainda antes de termos chegado a uma conclusão que afirma a veracidade daquilo que é o conteúdo da fé, faz com que a fé esteja presente. Até porque é ela que vai provocar a discussão. Não partimos do nada absoluto. Só podemos falar de fé se conhecermos alguma coisa, porque a fé também é uma afirmação. Portanto, para podermos discutir e aprofundar a fé em si mesma, temos de saber primeiro o que é a fé de algum modo. Aqui está, logo à partida, eliminada toda e qualquer heteronomia e até incompatibilidade ciência-fé.
As pesquisas científicas poderão um dia provar a existência de Deus?
Não, porque ela está provada! Com isto, está aí presente um tipo de demonstração que seria infalível. E seria, mais ou menos, a maneira de ver e de abordar essa pessoa ou esse ser, de uma maneira vivida, sensível porque senão não faz sentido. Poderá um dia provar a existência de Deus? Se existem já tantas provas… Deus, no cristianismo, é uma realidade que excede totalmente a realidade humana.
*entrevista por Diogo Paiva Brandão, na edição de 1 de Março de 2009
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