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Um almoço de Natal (por Nuno Cardoso Dias)
Almoço em casa de amigos, a propósito do Natal. Oportunidade de nos revermos, das raras que tivémos, durante os últimos dez anos, agora que migrámos para terras distantes.

Falamos de tudo um pouco: da família, das crianças e das dúvidas que nos surgem, das estratégias que uns e outros têm para os educar. Do equilíbrio tão frágil quanto necessário entre protecção e autonomia.

Falamos da Educação com uma enorme preocupação. São os nossos filhos que estão em causa e não parece haver qualquer orientação: terminam-se disciplinas que ainda há pouco começaram, reestrutura-se, reforma-se criando novos problemas em cima dos antigos que não se resolveram. A moda parece ser fazer diplomas sem discussão prévia, sem consensos, sem diálogo.   Alguns dos presentes são professores, todos pais. A preocupação e o sentimento de frustração é patente.

Falamos do trabalho e da insegurança. Da precaridade, que nada tem de bom, nem para a qualidade de vida – onde certas opções, como por exemplo ter mais um filho, são  adiadas por medo de ser despedidos ou melhor, de ser despedida -  nem para a qualidade do emprego – onde a inovação e o espírito crítico são preteridos em favor da segurança ou do oportunismo. Muito claramente um bom profissional não é o que melhor se vende a si próprio, mas o que sabe que há valores para além de si, mais importantes. Há que ter confiança e dar testemunho. Um testemunho discreto mas firme.

Com tantos motivos de preocupação, podia pensar-se que este era um almoço triste e crispado. Olho à volta: nada disso. Este é um grupo diferente. Penso não só os presentes mas também nos ausentes, que nesse dia trabalhavam ou tinham compromissos prévios.  O que nos uniu foi o desejo de fazer oração pessoal. Criar um ritmo, comum, que permitisse um espaço de silêncio e contemplação. Penso nas vocações que saíram dessa oração ou que ela ajudou a formar. Todos missionários: padres, irmãos, catequistas, professores, economistas, jornalistas, profissionais ligados a diferentes instituições de acção social. Trabalham com crianças, com carenciados, com quem mais precisa do seu apoio. Claro que são pessoas com defeitos e problemas, mas são claramente pessoas em caminho, com estrutura interior para procurar um bem maior que eles próprios.

Olho para as famílias que daqui resultaram. Certamente terão as suas dificuldades, erros e problemas, mas a capacidade que têm para os resolver são diferentes: silêncio, diálogo, o apoio da Palavra e do exemplo de Cristo, e uma enorme disponibilidade para os desafios que abraçam. São famílias felizes e fecundas não só (mas também) pelos filhos que têm.


"As minorias criativas determinam o futuro e, neste sentido, a Igreja Católica deve compreender-se como minoria criativa que tem uma herança de valores que não são algo do passado, mas uma realidade muito viva e atual".

Papa Bento XVI

 

 

"A família que ora unida permanece unida, e se permanece unida amar-se-ão uns aos outros como Deus os amou a cada um deles. E as obras do amor são sempre obras de paz."

Madre Teresa de Calcutá