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Pastoral Universitária: Diálogo Razão e fé (pelo P. Duarte da Cunha)

De 27 a 30 de Janeiro em Munique decorreu um encontro europeu com os responsáveis pela Pastoral Universitária. Estavam presentes delegados de mais de 22 países, entre os quais vários bispos e capelães universitários além de alguns professores e representantes dos movimentos eclesiais activos na vida universitária. O objectivo era o de se tentar em conjunto perceber os novos caminhos da Universidade e da presença da Igreja no mundo universitário.

O ponto de partida foi apresentado pelo arcebispo de Westminster, D. Vicent Nichols que também é o presidente da Comissão para as questões da Catequese, Escola e Universidade do CCEE (Conselho das Conferências Episcopais da Europa). A figura do recém beatificado Cardeal Newman esteve no centro da sua intervenção e mostrou-se ser de enorme actualidade. Uma universidade que tenha como objectivo a formação da pessoa na sua integralidade e não apenas o debitar de um saber é, de facto, a universidade que os nossos tempos parecem reclamar. Uma universidade que não seja só uma casa onde se vai ter aulas, mas um tempo e uma experiência de vida fazedora de cultura, capaz de desafiar os tempos e de apontar caminhos de respostas para as grandes questões do coração humano. Uma universidade, em síntese, que seja ocasião para se colocar a questão sobre a Verdade.

O congresso seguiu com uma sessão mais de carácter sociológico para se perceber o tipo de jovens e de professores que hoje passam pelas universidades. Das várias notas apontadas, ressaltou o facto de cada vez mais se sentir que os estudantes procuram sobretudo ter êxito para conseguir um emprego deixando de lado as grandes questões da vida e sobretudo vivendo de forma cada vez mais individualista. Uma espécie de rendição ao mundo e, por isso, uma maior submissão ao poder dominante e às questões do imediato.

É assim que a Evangelização que, como foi diversas vezes referido, quase como um mote de todo o congresso, é necessária para salvar a Universidade. A Evangelização, como o Papa tem repetidamente dito, é também a exaltação da razão porque abre ao Mistério de Deus. Na verdade só uma razão “alargada”, que não se reduz ao que consegue definir nem pensa que a realidade é o que ela conhece, mas que, verdadeiramente se abre ao que a transcende, se abre a realidade em toda a sua grandeza e pode responder aos anseios de conhecimento e de verdade que todos os homens têm no seu coração. Esta razão não está, por isso, em colisão com a fé, pelo contrário, uma fé verdadeira é uma fé vivida com a razão, e uma razão autenticamente humana é aberta àquilo que a supera e a realiza. Se, como é aceite por todos, a razão busca a verdade, então só uma razão que se dispõe à aventura do conhecimento da realidade sem censurar aquilo que são as grandes questões e que a lançam para além do imediato e do visível, pode ser uma razão realizada. E só uma fé que não tenta “dominar” a realidade, mas promove a ciência segura de que toda a verdade descoberta com a ciência não afasta mas aproxima de Deus, pode ser útil ao homem contemporâneo.

Na sessão final, depois de uma introdução do Cardeal Erdö, presidente do CCEE, três professores mostraram através das suas próprias vidas, como o diálogo entre razão e fé é algo que não só não limita a investigação mas a potencia e impede a ciência de se perder dentro de esquemas políticos, ideológicos ou económicos. Um professore de Bio-Informática (Jacek Blazewicz), um professor de filosofia (Olivier Rey) e um de economia (João César das Neves) mostraram todos, cada um na sua ciência e no modo como a desenvolvem e ensinam, que é possível e positivo, quer para a experiência pessoal da fé, quer para o modo como aprofundam a sua matéria, uma relação entre a ciência e a fé. Não porque a fé dite o que a ciência deve descobrir, nem porque a ciência limite o que a religião ensina, mas porque a pessoa de fé olha para a realidade com paixão e sem censurar o espanto e a maravilha que a realidade apresenta. O cientista com fé sente que a sua ciência o ajuda a abrir-se ao Mistério de Deus, e ao mesmo tempo sente que a descoberta de Deus o ajuda a comprometer-se com a realidade e a ser melhor cientista.

A pastoral universitária, por tudo isto, e em conclusão, deve conduzir a este diálogo. Só deste modo a Universidade, não só a Católica, conseguirá ser fazedora de cultura.

Um testemunho impressionante que acompanhou os dias do Congresso foi o dos jovens da “Rosa Branca”. Um grupo de Jovens universitários de Munique que durante a Segunda Guerra, a partir da sua experiência de fé, perceberam que a ideologia nazi era verdadeiramente redutora do homem e mentirosa. Com o filme Sophie Scholl que conta a história destes jovens que acabaram por ser condenados à morte e com a visita à universidade onde eles estudaram, ficou patente o desejo de que também hoje a universidade seja capaz de formar jovens como estes, protagonistas da história e não meros seguidores das modas ou das carreiras.

A Pastoral Universitária tem, por tudo isto, uma fundamental missão e não pode ser apenas um sector marginal da pastoral, mas a catalisadora de uma pastoral da cultura.