Beatificação de Madre Clara |
Vocação de estilo novo
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Todo o nascimento traz consigo um projecto. Haviam-se congregado para lhe dar vida.

A necessidade gritante de atender quem precisasse, de cuidar doentes e feridos, de socorrer os sós e abandonados, de proteger os órfãos e dar um lar aos inocentes perdidos definiam esse desígnio e desafiavam as Irmãs da Congregação recém-nascida.

Portas fora de S. Patrício, chamadas pelas necessidades circundantes e impelidas pela misericórdia, cumprido o tempo de formação, ei-las que saem para abrir o espaço da missão. Corria o ano de 1872. E que tempos aqueles, que riscos, que temeridade enfrentar o proibido! Mas vão, em nome do bem a fazer.

O Hospício de Belém torna-se o primeiro santuário da hospitalidade franciscana hospitaleira, primeiro lugar da fraternidade fora de casa, que faz memória da caridade aí exercida e, por ela, da acção poderosa de Deus. Como a qualquer santuário, demandado por peregrinos, ali vão acorrer necessitados, “esse corpo chagado de Cristo”, ao encontro de transformação física ou espiritual.

Obra semelhante ao que presenciara em França e sabia pelas leis da Congregação de Calais, queria a Irmã Maria Clara inaugurar em Portugal. Desde a saída das Filhas de Caridade portuguesas que velavam os doentes de dia e de noite nos seus domicílios, fazia-se sentir a lacuna de tal obra de caridade. E começou por Belém, donde passaram, mais tarde, para o Convento das Flamengas, em Alcântara, à Rua 1º de Maio: aquele lugar será centro de irradiação missionária e hospitaleira. O específico das Irmãs da Irmã Clara era ocupar-se de doentes ou de quem procurasse solução para outros males. Eram essas Guarda-doentes que, do Hospício, partiam em auxílio dos que jaziam em suas casas sem amparo. Tanto de pobres como de ricos. Na casa onde estivessem, exerciam gratuitamente toda a espécie de serviços que tratasse não só o doente mas cuidasse os idosos, disponibilizando-se também para o trabalho doméstico. E ficavam nelas até que a família o desejasse ou até à cura. Quantas vezes, até à morte, cuidando, por vezes, do serviço do funeral.

 Não era apenas o objectivo humano que movia a missão da religiosa franciscana hospitaleira. Na Crónica do Centenário, o Padre Pinto Rema, Ofm, é explícito: «Ao mesmo tempo que estas Irmãs exerciam a caridade junto de doentes carecidos de protecção, de que não dispunham em hospitais, exercitavam-se na arte de enfermagem e afirmavam a sua vocação de estilo novo, de Irmãs lançadas no meio do mundo ardiloso e perverso, para nele serem fermento de Paz e Bem e apóstolas da verdade cristã». Realizavam o que o Padre Beirão lhes havia aconselhado: «Sede uns perfeitíssimos anjos de consolação desses pobres doentes». Não levou muito tempo que um diário de Lisboa documentasse, em abono: «Verdadeiros anjos de consolação, acodem a toda a parte, onde haja dores e lágrimas, do mesmo modo que voariam, ou aos campos de batalha ou aos climas mais longínquos e mortíferos».

Doação até ao extremo é a ordem do dia, a testemunhar e a tornar viva a verdadeira caridade de Cristo que amou até ao fim. É preciso? - Vai-se! Alguém sofre? - Corre-se. Horários sem horário, num único pensar: cuidar, aliviar a dor, transmitir esperança, dar razões de viver. Num esgotar a própria vida, se for necessário.

Corrobora-o A Palavra (jornal n° 1280 de 10.11.1876), ao noticiar o falecimento da Ir. Cruz (Maria Ribeiro, natural de Pousos - Leiria).

«A Irmã Cruz, uma das mais antigas da Congregação, morria exausta de forças, completamente gastas no incansável desempenho da sua tão trabalhosa como sublime missão. Reunindo no mais alto grau o amor de Deus e do próximo, junto a uma perfeita abnegação de si própria, observante das suas Regras nas mínimas coisas, até ao último suspiro, tratando a todos os doentes com desvelo extraordinário, mas, (digna imitadora do Divino Mestre, amando os pobres acima de todos, chegando a perder 17 noites seguidas, à cabeceira de um doente, sem que se ouvisse uma queixa), as forças faltaram-lhe gradualmente e a medicina declarou-a perdida».

Era este o natural viver de qualquer seguidora de Madre Maria Clara. Era o servir a misericórdia, tão solidamente inculcado pela Venerável Serva de Deus no espírito de suas Irmãs, que ia inaugurando santuários de hospitalidade, onde a força divina chama à configuração com o Senhor Jesus, que passou fazendo o Bem.

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